domingo, 26 de julho de 2009

Soneto de aniversario.





Bom, eu pensei muito no que postar aqui. Estou com a cabeça fervilhante depois de um fim de semana lindo. Fim de semana de celebração, de olho no olho, de entrega, de amizade, respeito, desejo e amor. Seis meses que passaram voando e eu nunca fui tão longe, tão fundo. Sempre fui arredia a navegar novos mares, era preciso antes conhecer-lhe por inteiro para então adentrar. Neste fui nadando a cegas e gostei. Aos poucos fui tirando as vendas e gostei mais ainda.


E já que é tempo do novo, propus-me a fazer um soneto. Ficou mal-ajambrado embora tenha destinado-lhe um bocado de tempo. Há que se dar um desconto por ser o primeiro. Empenharei-me mais nos proximos que virão, pois gostei de quebrar cabeça em vez de deixar fluir como sempre faço. Eis aqui

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Perdi-me então entre abraços

Da antiga solidão fiz troça

Entre as falésias, fui em teu compasso

Com a perfeição tua não há quem possa


E ao admirar aquele mar pleno

As dunas, a natureza em profusão.

Vi tudo quanto é leve e sereno

Nós apenas em meio à multidão


Era comemoração silenciosa e doce

Tão mais discreta, antes não houve

Amiúde como tudo que é bom deve ser


Não havia fogos, ou velas

Apenas gestos doces, palavras singelas

Adornadas pelo sol ao entardecer




domingo, 19 de julho de 2009

Quando ele chegar.

Quando ele chegar, vou dizer-lhe um monte. Que não aceito mais a indiferença, o futebol do domingo, a cerveja esquecida em cima da mesa do centro, a toalha jogada em cima da cama. Quando ele chegar vou dizer que não suporto a barba mal feita, o jeito dele fingir que ouve enquanto lê o jornal. Quando ele chegar, vou resistir aos apelidinhos toscos/carinhosos, vou fazer a cara mais dura e elevar a ironia a patamares nunca antes explorados.

Quando ele chegar e dizer que eu estou encantadoramente linda, vou fazer pouco caso, cara de desprezo e dizer que isto não importa. Quando ele chegar vou pedir pra bater a porta, sentar, e me ouvir. Não vou oferecer whisky, nem licor, nem cerveja, nem água da bica, vai engolir tudo a seco, nem sei se será capaz, acho que sem ajudas liquidas engasgará, que se engasgue.

Tão logo chegue, falarei tudo que tenho vontade. Terminarei e mandar-lhe-ei embora da minha casa, da minha vida. Nem escutarei o que tem a dizer, porque já sei a opera bufa decorada, de cor e salteada, não mais me engana o sujeito matreiro, raposa danada, riso de santo, lobo em pele de cordeiro, traiçoeiro.

Ouço já os passos na escada, vai entrar em instantes, vai tentar se impor com sua beleza ultrajante, seu riso delirante, sua elegância embriagante. Vai tentar me levar na conversa, pedir perdão, massagear a ferida, me chamará de sua querida...

- Oi querida.
Não disse?
Meteu a mão na porta, entrou e já foi chamando minha querida.
- Meu bem, vamos parar com isso. Não tem sentido, eu te amo.
O descarado nem me deixou falar primeiro, estratégia água abaixo.
- Sem você não vivo. Posso ser desligado, mas não indiferente. Não quero você da minha vida ausente, pois não há outra pessoa que a mim acrescente.
Lá vem ele com os versos baratos. Daqui há pouco pega um violão e faz em dois tempos uma canção.
- Você é linda, alias este vestido ressaltou ainda mais a tua silhueta. Deixa eu sentir teu cheiro de novo, vamos parar de tolices. Temos que ficar juntos, acredite.
Já sinto a respiração dele no pescoço, a mão correndo o zíper. Enquanto isso tento ainda resgatar algo do discurso milimetricamnte desenhado, ensaiado e repetido mentalmente. Balela, já estamos no quarto, ele ao pé do ouvido dizendo que me ama, se instalando outra vez na minha vida, na minha cama

sábado, 11 de julho de 2009

A volta




Fazia dois anos que não a via. Desde que ela fora embora pra São Paulo com a família tudo que tínhamos era a internet, as fotos trocadas, os telefonemas fortuitos. Eu sentia uma saudade absurda dela.

Eu estava com 17 anos, momento vestibular prestes a entrar em minha vida.por enquanto era farra, festa, música.
Catarina tinha 16 e era de novo a menina doce, tímida e discreta que me cativara desde a infância. Tinha perdido a rebeldia dos 14 anos, esquecera o cigarro e o riso desbocado. Ainda bem, eu pensava. Tinha inventado de arrumar um namorado. Vê se pode? Eu fiquei furioso mas disse meio sem jeito pelo telefone: “ Ah, que bacana, traz ele quando vier”. Porque eu disse aquilo? A asneira mais absurda que um ciumento podia dizer. Eu queria mais é que este sujeito sumisse sem deixar rastros, que fosse abduzido, seqüestrado e mandado pro Azerbaijão. E ela: “Ah, ele vai sim, pode deixar”.
Eu esperava, é óbvio, que o namoro acabasse antes das férias de fim de ano chegar. Estava certo que ela viria passar férias aqui em Recife com a família. Eu mal podia esperar. Planejava roteiros, fazia novas composições: eu deixara o violão de lado e começava a mostrar bastante intimidade com a guitarra e a gaita. Ia pelo lado blues, o que deixava meu pai entusiasmado e risonho feito tonto.

Foram meses de espera incontida. Da confirmação da viagem até a data marcada foram sete longos meses. E eu riscando dia após dia no calendário, coisa mais estúpida, coisa mais apaixonada. E pra minha felicidade geral, o namoro terminou dois meses antes da viagem. Catarina ficou arrasada e eu e a consolei com um riso escondido dentro do peito.

Chegariam numa tarde de dezembro. Dia dois, uma sexta. Catarina me avisara uma semana antes: “Nem precisa se incomodar de ir ao Aeroporto. Tio Carlos vai buscar a gente”. Eu iria assim mesmo.

Tomei banho, escovei os dentes, peguei as flores e fui ao Aeroporto. No ônibus lotado, haja cuidado pra não desmontar o buque. Cheguei lá e não vi o tio Carlos. Vôo das duas. Êta duas e meia, três horas. O vôo tava atrasado, ê novidade. O vôo chegou, de olho grudado no portão de desembarque. E nada do irresponsável do tio Carlos. Pego o celular e ligo pra ele.

- Ow seu Carlos. É o Tinho. O vôo da Catarina já chegou. O senhor não vem não?

- Ow Tinho, ela não chega hoje não. Eles remarcaram o vôo, Catarina fez as pazes com o namorado. Ele vai vir também , mas agora só na semana que vem.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sem respeito, pevertido, ora bolas,atrevido!




Um amor assim despudorado
Levado
Agoniado

Um amor assim tresloucado
Ousado
Desembestado

Um amor assim delirante
Lancinante
Exaltante

Um amor assim sem maneiras
Sem porteiras
Sem estribeiras

Um amor que não vê limites
Do corpo
Do quarto

Um amor que tremula pernas
Que acelera o peito
Amor sem jeito
Diriam os tolos: sem respeito!


Um amor em frêmito
Em gemidos
Em gritos

Um amor em chamas
No chão
Na cama


Amor aflito
Nunca contido
Diriam os tontos: pevertido!

Amor às claras
Ou no escuro
Sem frescura
Amor puro
No duro.

Amor inteiro
A qualquer hora
Diriam os bestas: ora bolas.

Amor assim
De tantos predicados e adjetivos
Diriam os comuns: atrevido!