terça-feira, 24 de junho de 2008

Círculos


Ainda te amo
Ainda te odeio
Ainda tenho magoa de você
Ainda tenho ternura por você

Ainda penso em ti quando o vejo o sol se por
E quando ando distraída associo você à palavra amor
Ainda penso em ti quando vejo um jasmineiro
Ainda sonho em acordar do teu lado sentindo teu cheiro

Ainda penso onde você tá
E com quem você anda
Se anda usando drogas
E se põe a camisinha quando transa

Ainda me preocupo com a tua saúde
E peço a Deus pra você não sofrer
Por que foste tão cruel comigo
E ainda assim não sei como te esquecer

Já tentei indiferença
Ouvir musica pop
Deixar de lado a bossa nova
Disse que só ia escutar hip hop

Já tentei largar a poesia
E ler auto-ajuda
Mas o burro do coração
Sempre te procura

Já tentei não olhar pras estrelas
Nem entrar no mar
Tudo é pura bobagem
Não consigo parar de pensar

Sinto uma falta de ar
Queimadera sem fim
É um aperto no peito
Vontade de te ter só pra mim


É vontade de te proteger
De não deixar ninguém te fazer chorar
Vontade de ficar com você
Vendo a lua cheia na beira do mar

Meu grande amor
Tão puro que nem sei explicar
Chega até a ser boboca
Mas não adianta eu tentar renegar

E olha que já te expulsei
Gritei bem alto pra ver se funcionava
Mas quando eu fui ver
Aqui dentro tu ainda estava

terça-feira, 17 de junho de 2008

Segurem a rima

Segurem a rima
Não deixem ela fugir
A danada me deu a maior volta
E com cara de cínica ainda fica a sorrir


Segurem a rima
Façam-na pra casa voltar
Faz tempo que chamo por ela
E ela aí está a se rebelar


Segurem a rima
Quero ela aqui bem perto
Só com ela me sinto mais viva
E sinto que até meus olhos ficam mais despertos


Segurem essa rima
A danada que faz zombaria com meu coração
Sabe que o danado anda vazio
E por isso que faz danação

Rimazinha deixe de ser tola
Há tanto pra você rimar
Tem futebol, sol e livros
E olha que nem falei do mar

Quando resolver voltar pra casa
Estarei te esperando no portão
Cheia de idéias na cabeça
E com a tua companheira cerveja na mão

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mais um dedinho de prosa...

A fraqueza de Jonas

Fraco. Se houve um adjetivo que ele ouviu mais que todos outros na vida, esse adjetivo foi fraco.

Ainda lembra-se bem da primeira vez que a palavra ecoou com força máxima em seus ouvidos. Devia ter uns oito anos. Era hora do recreio e ele desesperadamente corria em uma daquelas brincadeiras de infância em que se corre pelos objetivos mais tolos possíveis. Acabou esbarrando em um grandalhão. Daqueles desagradáveis que existem em qualquer escola do mundo. Do tipo que assombra e mete medo nos menores.

Estava feita a confusão. Situações assim se resolviam na porrada. Sem essa de diálogo, desculpas ou conversa mole. Os dois tinham que cair na porrada até que um caísse no chão e não pudesse mais se levantar. Era a regra.

Jonas preferiu correr e se esconder atrás da professora mais próxima. Foi o suficiente. Todo o colégio parecia gritar em uníssono, impiedosamente:

- Fraco, fracote. Fraco, fracote.

Ele tinha escapado da surra, mas sabia que seria eternamente conhecido por ter fugido. Por ter quebrado a regra. Seria eternamente conhecido por fraco.
De tanto ouvir o adjetivo, Jonas acabou aceitando a condição. Considerava-se mesmo um fraco, sem energia, incapaz de uma única atitude explosiva, incapaz de “agir como homem”.

Nada mais lhe doía tanto do que ser chamado de fraco pelo próprio pai. Pai que ele admirava em silêncio, mas com fervor. Seu pai era um homem íntegro, trabalhador e enérgico. E Jonas sempre fora chorão. Sempre tivera medo de sangue, sempre detestara filme violento. Preferia ler um livro a participar de uma imperdível queda-de-braço ou qualquer luta que fosse algo tão comum entre os garotos de sua idade.

Isso acabava com o pai. Filho único, Jonas era tudo que seu velho pai não imaginara que seu filho fosse ser. Era um desejo frustrado, um sonho adiado até a próxima encarnação. Para ele, seu filho era, por assim dizer, um maricas.

- Fraco. Larga mão disso. Homem não chora moleque.

Aos vinte anos ele teve a certeza de que ninguém mais o respeitaria na vida. Era motivo de gozação de todos. Incapaz de se impor, de levantar a voz.
Amava Rita com todas as suas poucas forças. Pra ela ele fazia versos, dedilhava canções no velho violão. Era a única pessoa que fazia ele se sentir forte. Sensação que ele nunca experimentara antes na vida. Sentia-se altivo, poderoso, importante e vivo.

Noivara com ela e achava que finalmente encontrara um rumo na vida. Até que a cidade inteira descobriu que Rita traia Jonas com seu melhor amigo. Esperaram que houvesse briga, tiros, sangue. Era a regra.

Jonas permitiu-se apenas jogar fora a aliança e trancar-se por dias no quarto. Não saia para nada. Nem para comer, nem para tomar banho. Nem para respirar um novo ar.
Quando saiu de casa todos o apontavam, cochichavam, faziam cara de reprovação. O pior era o pai, o velho nem se dignava a olhar para o filho. Jonas era como um estranho para ele. E ele se sentia fraco como nunca.

Aos cinqüenta anos não podia ser diferente. Tivera tantas mulheres e todas terminavam por traí-lo. Sempre. Tantos sonhos, amores e lares desfeitos. E ele sem nunca gritar, explodir ou ferir alguém. Sempre guardava o desencanto debaixo do braço e seguia em frente. Filhos nunca tivera. Era estéril, apenas mais uma prova da tão comprovada fraqueza.

Aos cinqüenta, ele era apenas um homem sem casa, sem emprego, sem amor. Fraco como nunca e como sempre. Fraqueza acentuada pela idade, pelos cabelos brancos, pela impotência que chegava impiedosa.

Lourdes fora o mais recente atestado de que ele não servia pra coisa alguma. Apaixonado por ela. Pela boca nova, pela língua morna e úmida, pela carne tenra e rija, apaixonado pela meninice dos seus dezoito anos. Jonas novamente carregava um fio de esperança. Esperança de poder repousar a cabeça no seu colo todas as noites.
Sempre que ficava a sós com Lourdinha era uma suadeira danada. Ele só podia dar beijo, pegar na mão. Namoro respeitoso, moça de família. Feita pra casar. E assim ele o pretendia. Era só arrumar emprego e marcava-se a data.

Até que ele vira ela no maior agarra-agarra com Arnaldo. Desses agarrões onde não se sabe onde começa um e termina o outro.

De novo sentiu-se tomado de uma moleza e falta de energia. Pensou em matar-se, já que achou que ninguém merecia morrer por trair um sujeito que não sabe se impor. Faltou-lhe coragem pro suicídio. Era fraco demais.

Então apenas foi em direção a um bar bem longe daquela esquina. Entornou cachaça até não mais poder. Saiu aos tombos. Então pegou a sua fraqueza ajeitou-a no chão da sarjeta, como se ela fosse seu travesseiro. Desses que incomodam de tão velho. Deitou-se e dormiu. Pensando que pelo menos no sonho ele pudesse ser forte. Uma vez que fosse.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O ultimo a saber


Mais um escrito de prosa desenterrado, é preciso coragem amigos. Inda mais quando não se dispõe de uma criatividade das boas. O que eu prezo são sempre as mesmas historias, o que muda é só oe jeito de contar, apenas a escolha das palavras... Sem mais delongas, eis aqui...



Sim, ele sabia que havia algo de errado. Era só apontar na rua e começavam a cochichar. Era um tal de risinhos e comentários que só ele não podia ouvir. Ele ainda olhava pro lado, pro outro, mas nem adiantava. Era ele mesmo o motivo, o centro da atenção. E Pedro tentava compreender o que estava acontecendo. Até seus amigos paravam de conversar quando ele se aproximava e logo tentavam mudar o rumo da prosa sem que ele se desse conta. Descobriria o motivo mais cedo do que imaginava.

Resolvera chegar em casa mais cedo.Fechou a marcenaria e foi caminhando. Lá chegando estranhou as luzes todas apagadas. Onde estaria Catarina? “Ow mulher com mania de sair”. A noite já era demais. E passou a chave na fechadura. Só então se dera conta que não estava trancada. “Mulher mais maluca, sai e deixa a porta aberta”. E foi entrando e acendendo as luzes. De repente ouviu uns barulhos vindos do quarto e foi ver o que era. Era Catarina e João no quarto na maior diversão do mundo. “Aquele ajudante de padeiro filho duma égua”. Pedro não conseguiu gritar, bater, alarmar, espraguejar. Ficou inerte olhando a cena. A mulher quando se deu conta tentou explicar-se e o ajudante pra variar saiu correndo segurando o lençol. Cena clássica.

Agora ali parado, a voz da mulher ao longe dizendo algo parecido com “a culpa não foi minha”, e tudo girando, a vista embaçada, a lembrança dos risos e cochichos. O motivo finalmente descoberto. Melhor seria nem saber. Ou não? Melhor viver eternamente enganado ou sofrer com a descoberta da mentira? Já nem conseguia pensar direito. Saiu do quarto a passos trôpegos, pouco se lixando pras explicações de Catarina. Ela parecia invisível aos seus olhos embaçados.

Ao abrir o portão e sair de casa, viu a vizinhança reunida. Agora rindo solenemente, sem pudor, enfim rindo com vigor e sem medo. O corno já sabia. Finalmente, como demorara. Sempre o último, mas nem por isso menos importante ocasião. O que se estranhava era o homem ali com cara de parvo. Sem sangue, nem gritos, nem alarme, nem palavrões. Sereno, visivelmente abalado, mas sem nenhuma veia saltada, sem um pingo de suor correndo pelo rosto, sem uma lágrima descendo pelos olhos. Inerte, sentado na calçada, segurando a cabeça cabisbaixa com as mãos, apenas ouvindo risos e deboches.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Minha inspiração

Mais um da série: sentimentos enterrados e versos sempre vivos

Meu muso,
Minha inspiração
Aquele que faz o coração danado
Brigar e ganhar da dona razão

Pra ti os versos mais doces
A prosa mais empolgada
Os cantos mais afinados
E as loucuras mais rasgadas

Esses teus olhos
Eu não sei
Não consigo explicar
É uma espécie de feitiço
Eu não paro de pensar

Contigo já sonhei
Milhares e milhares de vezes
E tantas vezes desejei
Eu e você no embalo da rede

Vivendo não de brisa
E sim de amor e paixão
Achando que não há nada mais empolgante
Que regar a vida com tesão

Eu e você abraçados
O que mais eu posso querer?
Ouvir a tua respiração ofegante
E ter meu peito junto de você

Teus olhos doces castanhos
Que exalam só ternura
Teus lábios, teu queixinho perfeito
Que me enchem da sensação de doçura

Mais tudo isso desmorona
Quando penso no teu eterno ir e vir
Na tua vida de viajante
Que não tem me deixado dormir

E o que me sobra é inspiração
Mesmo pra falar do que não me agrada
Dessa tua ausência que é de doer
E que tanto meu peito maltrata

Mais respeito com o Fluminense



Três minutos, três minutos. São só 180 seg. Já pensou o que são três minutos quando você morre de sono e queria dormir a manhã inteira? Já pensou o que são três minutos quando você precisa atravessar meia cidade pra fechar aquele negocio de vida ou morte? Nada, três minutos assim não são nada. Um piscar de olhos.

Já pensou o que são três minutos quando seu time vence por 2x1 e a qualquer momento o outro time pode fazer um gol e levar a partida para famigerados pênaltis. Uma eternidade. Em momentos assim o tempo parece não escorrer, parece brincar com a gente. E qualquer jogada do time adversário vem revestido de um perigo mortal.

Mas também nesses agoniantes três minutos houve outro três. O terceiro gol. O gol de Dodô. Houve antes o delicioso gol de Conca, o argentino fazendo gol nos argentinos. E antes houve Washington, cobrança de falta perfeita.

O Fluminense era por assim dizer “o mais fraco” dos brasileiros na Libertadores. Aquele que entrou desacreditado pela mídia e pelos outros torcedores. Um time sem “tradição”, sem experiência e sem títulos de Libertadores. Como vencer São Paulo e Boca, tão habituados a títulos internacionais? Como vencer a catimba argentina, o talento de Riquelme, a força de Adriano, e o equilíbrio do time de Murici?
Improvável, impensável. Esqueceram-se de respeitar o Fluminense, um dos times mais importantes do Brasil, esqueceram-se que futebol se ganha em campo e com dedicação e empenho. Como dizer que o Flu chegou na final apenas por um golpe de sorte? Sim, ainda tem quem o diga. Como dizer que é sorte o talento inconteste de Tiago Silva, o gigante da zaga? Como dizer que é sorte a inspiração de Washington que além de usar a cabeça com maestria provou ser excelente na cobrança de falta? Como dizer que as defesas magistrais de Fernando Henrique foram apenas golpes de sorte? Suas luvas parecem que tem imã, sempre atraindo as mais difíceis das jogadas. Como dizer que é sorte a competência de Renato Gaúcho, fazendo intervenções precisas e inteligentes? Como dizer que é sorte o maravilhoso espetáculo organizado pela torcida tricolor?

O Fluminense na quarta-feira foi impecável e relembrou mais uma vez como é bom ganhar dos argentinos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A sensibilidade perdeu a guerra?

Deve ser culpa dos sonetos, do Álvares de Azevedo, do Jobim e do Quintana. Também tem culpa a lua cheia, a praia à tarde e a tua voz que me incendeia.

Não, nem sempre fui metida a poetisa. Nem sempre gostei de bossa nova, nem sempre achei que gostaria de viver um amor a moda antiga.

Já fui prática e objetiva, fria e calculista, discreta e comedida. Mas tudo nessa vida muda, tudo é uma constante revolução. E eu que me considerava imune, hoje sofro: achaques do coração.

E dia desses estava euconversando, conversinha virtual, um grande amigo parou e disse: “Lorena, vê se cai na real. A sensibilidade perdeu a guerra, o romantismo já era.”

As palavras tilintaram na minha cabeça. Mas que diabos. A sensibilidade, justo ela que eu tanto demorei pra aprender. Tal qual um trabalho de ourives, a procura do pequeno detalhe, do perfeito entalhe. Até chegar a obra-prima. Até chegar a arte divina, suprema, de saber amar. Conquistando sensivelmente, suavemente, envolvendo com uma bela melodia e arrematando com uma bela poesia. Suspiros e sussurros poéticos ao pé do ouvido. Olho no olho, mão na mão antes de dar aquele amasso. Envolver terno e macio com aquele doce abraço.

- Isso não serve mais meu caro? - perguntei eu já aflita.

-Não, não, cara Loren, não se iluda. Amor agora é prática, sem essa de teoria. Agora a tática é muita ação e pouco papo, pouco beijo e muito amasso. Nada de se amarrar muito pra não perder o compasso.

-Mas assim não dá. Assim não quero. Só se eu me apaixonar.

- Se apaixone. Mas digo-lhe que é um erro. Vais ser tripudiada por um ser inferior a você. Ele até achará bonitos teus versos. Mas enjoará deles em dois tempos. Seja prática e objetiva, ou os novos tempos te engolem.

- Será?
-Você duvida? Aprenderá da pior forma. Apanhando. É bom porque aprenderá a lição. Ou não, se tiver mesmo o dom para sofrer.

- Recuso-me a acreditar meu caro

-Eu também já duvidei. Sonhei e a cara quebrei. Mas vá. Isso é fruto da sua juventude e rebeldia. Um dia aprenderá. E não esqueça cara Loren, a sensibilidade, essa que nós tanto nos gabamos de ter conquistado, perdeu a guerra. Só nos resta seguir tal qual a massa medíocre que trata o amor como mercadoria.

-Será?

- Ainda duvida. Não lembra do que houve comigo?

- Também não vamos generalizar por um caso só, né meu caro?

- Ah sim, e o que você me diz do seu caso, do companheiro Manuel, da dona Patty, do Alfredo, da Joana...?

- Tá, tá bom, chega. Tá quase me convencendo...

- Quase? Mas tu é dura na queda.

- Mas meu caro, é impossivel alguem resistir a um cantinho um violão, este amor uma canção... É impossivel resistir a um vinho numa noite fria, a um sarau de poesia, a andar de mãos dadas, a ver a noite enluarada num bela madrugada. É impossivel resistir a um balanço na rede, a matar com a saliva a sede. É impossível...

- Isso tudo é mesmo muito bonito. No começo. Seja assim por mais de dois meses e vão te chamar de brega, grudenta, sufocante...

- Não creio

- Tu teima mais que mula. Hoje é cobrado maturidade, impessoalidade, equilibrio, liberdade, distancia mais que tesão e paixão. As pessoas tem medo de se envolver demais, de perderem a liberdade e individualidade.

- Não seja tão apocaliptico. As coisas não estão assim tão perdidas. O amor nunca sairá de moda.

- Clichê mais brega Loren, já disseste coisas mais inteligentes.

- Esquece que aprendi com você que o grande Dylan disse certa vez que : "Não dá pra amar e ser esperto ao mesmo tempo" Por isso mesmo teimo, empaco que nem mula, assumo minha burrice e falta de esperteza. A sensibilidade pode ter perdido a guerra, mas não deixo de acreditar nela.