sexta-feira, 21 de maio de 2010

Recortes














2 de maio

Ontem foi o ápice, catei minhas coisas, pus na mochila preta e surrada e dei adeus. Espero que pra não mais voltar

3 de maio
Ele apareceu hoje aqui na casa de mamãe, pediu desculpas, disse que me quer de volta. Mandei ele pastar, que fizesse o favor de me esquecer

4 de maio
Apareceu outra vez, trouxe flores e bombons  que eu delicadamente joguei na lixeira. Trouxe um cd do Mayer, deixou rolar Slow dancing in a burning room propositalmente.

5 de maio
Não tem permissão pra entrar aqui, não minha, mas mamãe quer que voltemos:"é um bom marido minha filha e casamentos não se acabam por bobagens".

6 de maio
Fui trabalhar, parei no bar da esquina, tomei café, conheci Pedro, trocamos números de telefone.

7 de maio
Não suporto mais que Fernando ainda pense em voltar. É um cretino completo. Porque descasar é tão mais difícil que casar? Não quero passar o resto de minha vida assistindo temperatura máxima domingo a tarde

8 de maio
Levei Pedro pra casa. Dormimos juntos. Ele pelo menos não é tão cretino quanto Fernando. Certamente Fernando era menos cretino que o anterior e assim por diante. Manias de comparação

Fernando entrou no quarto, bradou, chorou, questionou: Que significa isso, Maria Claudia? Quem é esse homem?

- Ora meu querido, casamentos não se acabam por bobagens, apenas achei um motivo justo.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

O poeta




O poeta fez troça do natural
Cansou-de tudo que era insosso
Banhou-se com sal

O poeta duvidou dos conselhos
E o muro pulou
Espreitou o que tinha do lado de lá
Explorou...

O poeta duvidou do bom senso
Amou
Deu as costas ao consenso
Voou


Fez festa e revolução
Plantou jasmim
Colheu flores, fez serenatas
Alegrias sem ter fim

O poeta quis ser mais intenso
E  jurou:
“amor justo e verdadeiro”
Se encontrou

Caminhou fagueiro
Correu sereno

Distribuiu calor

Achou-se e perdeu-se em braços morenos
Transpirou

Era só risos e certeza
 Delirante

Era só lua e mar
 Lancinante

Foi deveras voraz e faminto

E cansou...

Pulou o muro de volta
Suspirou

Voltou com o jasmim branco debaixo do braço
Murchou...