quarta-feira, 30 de abril de 2008

Amor meu


Meu amor deixe de tolices
Já lhe disse e torno a repetir
Pra você faço um caminho só com flores
Esqueça as pedras e venha me seguir

Meu amor só eu sei
Um jeitinho de te fazer feliz
Beijar teu queixinho todo dia
E te acordar de manhazinha mordendo a ponta do nariz

Meu amor eu te conheço
Parece até que de outra encarnação
Mesmo longe eu capto tua sensibilidade
E a freqüência do teu coração

Meu amor eu conheço teus gostos
É até alguns de teus defeitos
Não me venha com aquelas desculpas bobas
Eu não busco que sejas perfeito

Meu amor eu já disse
E tantas vezes tornarei a repetir
Pra você um caminho com flores, musica e poesia
Só eu é quem sei como construir

terça-feira, 29 de abril de 2008

Há tempos

Há tempos eu escuto
Se joga pra vida
Se entrega sem medidas
Se preciso põe o dedo na ferida

Há tempos que eu escuto
Não só o sprint faz ganhar a corrida
É preciso correr sem parar
Desde a largada até a linha de chegar


Há tempos eu escuto
Abre esse coração
Deixa de tanta frescura
Não viva só num mundo de ilusão

Há tempos eu escuto
Diga tudo o que sente
Põe pra fora o que ta guardado
Alivia a alma e a mente

Há tempos que eu escuto
E agora fiz tudo isso acontecer
Então você vem com esse blá blá
E faz tudo que eu ouvi esmorecer

Há tempos que eu escuto
Agora eu é quem vou te falar
Certas coisas acontecem apenas uma vez
Não dá pra deixar passar

sábado, 26 de abril de 2008

A tarde, em frente ao jasmineiro

Engraçado. Não que antes eu não tivesse reparado, mas ontem numa hora banal, voltando do trabalho, cansada, num ônibus lotado, o motorista ensandecido achando que a pista era um autódromo particular e haja saculejo, pra lá e pra cá, eu vi um jasmineiro branco.
Eu vi o sol se pondo. E me veio a lembrança de você.

Então eu pensei, sempre e sempre assim.
O jasmim, o cheiro do jasmim, a lua cheia, o mar azulado, a melodia doce, a rima perfeita e então a simples conexão: você, você, você.

Como uma única linha de pensamento, onde qualquer coisa que denote beleza, sensibilidade e pureza me leve a você. E tenha certeza que é involuntário, obra da razão ou do danado do coração, vai saber. Só sei que agora eu vou ter mais um lugar e hora certa pra pensar em você. A tarde, em frente ao jasmineiro.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Estrela, estrela

"Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer

Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é

No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos

E vais e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer

É bom saber
Que és parte de mim
Assim como és
Parte das manhãs

Melhor, melhor
É poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui

Eu canto, eu canto
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão

Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção"

Vitor Ramil

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Carta, mais uma de tantas

Já perdi as contas de quantas vezes sentei pra escrever pra você. Foram versos, e-mails, cartas...
A maioria delas não foi enviada, nem nunca o serão. Certas coisas devem ser ditas no exato momento em que são sentidas, ou então perdem o sentido.

Já usei todo tipo de material pra escrever pra ti. As vezes o computador foi testemunha e parceiro. Me viu rir e chorar, foi espancado pela fúria ou acarinhado pela sutileza dos meus dedos que queriam te dizer algo com o simples ato de tocar o teclado.

Já escrevi na areia da praia, e essas a onda do mar levou. Já escrevi em papel de pão, em papel de carta, em pétalas de rosa, em capa de caderno, já escrevi e rasguei, já escrevi e guardei, já escrevi e deletei, já escrevi e salvei.

Escrevo e escrevo mais uma vez. Escrevendo é a forma mais inteligente que tenho de desabafar. É fato, me dou muito melhor com a palavra escrita do que com a falada. Por isso escrevo, verso, proseio...

Quantas e quantas rimas dedicadas a você, quantas e quantas horas a fio em busca da palavra perfeita, da frase perfeita, do texto perfeito. Sei que escrevo bem, não é preciso bancar falsa modéstia, mas quando se trata de ti pareço querer florear, inventar, até neologizar, só pra te agradar, só pra te encantar...

Quantas vezes prometi que ia te esquecer, que não ia mais pensar em você. Em vão, sempre em vão, sempre me pego pensando em ti quando escuto uma bela canção. O que eu sigo a perguntar é até quando vou continuar assim. Escrevendo por você e você sem nunca responder

Adeus

Adeus
Existem varias formas de adeus
Um pra dizer até já
E um pra nunca mais voltar

Adeus
De mão aberta, tremulando no ar
Ou simplesmente um olhar afirmativo
Que afirma que não vai voltar

Adeus
De coração partido
Ou cheio de esperança
Adeus da tempestade
Adeus que prenuncia bonança

Pode até ser triste
Mas as vezes inevitável é
Por mais que se sofra
É preciso fazer coisas que não se quer

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ternura

"Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora"

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Razão x Coração

* Inspirado livremente em Tem jeito? De Rafael Ayala


1º diálogo: Razão fala para coração

Ah coração lesado
Parece abobalhado
Repara nas coisas
Vê se olha pros lados

Ah coração teimoso
Faz tempo que falo e digo
E você sempre pelo caminho tortuoso

Ah coração sem jeito
Parece que não enxerga direito

Ah coração
Se toca
Vê que faz tempo tu bate
E ninguém abre a porta

Ah coração
Sai dessa
Parte pra outra
Corre depressa

Ah coração
Não amola
Não quero te ouvir
Vê se me solta

Ah coração
Ele nem liga
Bola pra frente
Segue tua vida

Ah coração
Não adianta sofrer
Batalha perdida
Aqui não vale : “ou ele ou morrer”

Ah coração
Seja sensato
Escute a mim
A dona razão

Ah coração
Parece criança
Não pode ver soprar uma brisa
Pensa que é a bonança

Ah coração
Te aquieta
Ta mais pra tempestade
Vê se ce desperta.

Coração falando pra razão

Ah dona razão
Melhor seria chamar Maria estraga prazer
Siga com suas lógica e objetivos
E deixe minhas coisas eu resolver

Ah dona razão
Sai pra lá
Deixe eu voar por entre as nuvens
Vê se me deixa flutuar

Ah dona razão
Sem essa
Não me manda correr
Vou devagar: não tenho pressa

Ah dona razão
Eu sofro
Mas saboreio cada alegria
Como se fosse a última do meu dia

Ah dona razão
É brisa
Pode não ser bonança
Mas areja minha vida

Ah dona razão
Não enche
O que tu chamas de tempestade
Eu enxergo como esperança pela frente

Ah dona razão
Não complica
Posso ser cego
Mas tenho alegria

Ah dona razão
Vai pro teu lugar
Segue na tua rotina sem graça
E me deixa brincar de amar

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Dias cinzas

Sempre achei cinza uma cor fascinante. Dias cinzas sempre me pareceram mais bonitos que dias de sol. Eu esperava feito doida pelas águas de março. Pelo inverno raro.

Eu ficava no peitoril da janela, vendo a chuva cair, perdida no cinza, a pensar na vida. Menina ainda, com uma melancolia já presente, melancolia que parece não querer soltar minha mão nunca.

Vez por outra eu mudo, pareço querer me adaptar à aquarela, ao colorido, aos dias azuis. Vez por outra eu insisto em dizer que gosto mesmo é dos dias de sol.

Mas não se pode fugir por muito tempo da essência das coisas. Quisera eu puder fugir da minha essência cinza. Do gosto pelo cinza de fora. Deste cinza que insiste em não deixar o colorido vencer aqui por dentro.

Cinza que parece ganhar matizes de preto com certas declarações, decisões, com certas frases e gestos. Com certos silêncios e palavras. Com certos desencontros e encontros estabanados.
E lá vou eu de novo. Tentar pintar com os tons de cinza, com as cores possíveis.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Retrato em branco e preto











Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior

O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer

Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever

Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

Tom Jobim/Chico Buarque