sábado, 20 de dezembro de 2008

A mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo

Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo .

A primeira vez que ouvi isso em algum lugar achei fantástico.

Simples e objetivo. Pelo menos falar é.

Fazer, hum, tão complicado!!!

Manter a mente quieta é tarefa das mais complicadas, ela ta sempre matutando idéias, fazendo planos, se frustrando, se alegrando, estressada, calma, irritada, suave, uma bomba.

Cheia de contradições, medos, angústias, desejos... ah... quantos desejos infinitos e eternos, volúveis e inconstantes.

A espinha ereta. A minha é uma piada, quase sempre curvada, arrastada, mal posicionada. Preguiça? Apatia? Cansaço? Moleza? Não, não. Experimente levar uns 13 quilos de livros nas costas durante mais ou menos 7 anos.

Escola cruel a minha. Sem armários, sem livros leves. Livros que pareciam querer imitar a bíblia sagrada. Em vez de catequizar faziam imbecilizar, mas isso é assunto pra outro dia.

Coração tranqüilo. Me digam como é possível , após acrescentar Mário Quintana, pitadas de Drummond e Vinícius e rechear com Jobim. Impossível.

Coração adolescente? Não. Esperançoso? Sim.

Daqueles que crêem em alma gêmea, cavalo branco e príncipe encantado? Não, não.

Desses aí não. O meu prefere um amor hippie. Sem frescuras. Pessoas politicamente corretas, engravatadas e prendadas não fazem meu estilo.

Pessoas sensíveis fazem meu estilo. Hum, mas anda tão difícil.

Por isso e muito mais que digo que manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo é tarefa das mais difíceis.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Acaba

Acaba

Olha só, lá estava eu, maldizendo-me da sorte, queixando-me dos achaques do coração, rogando contra os céus, espraguejando, chorando feito Madalena arrependida, jogada na vala dos esquecidos, perdida no beco dos desconsolados, chorando miséria, brigando com o mundo, fingindo desdém, catando vintém, maltratando até neném.

Olha só, lá estava eu odiando você, rasgando os versos, cutucando a ferida, fingindo não encontrar saída. Olha só, lá estava eu diante da porta sem ver a passagem, pensando ser vertigem ou viagem ou miragem aquilo que era verdade. Olha só eu ali, verde, verde, principiante, iniciante, cheia de uma intensidade ultrajante, delirante, lancinante. Extremista até não poder mais, achando que o sofrimento só tinha o que crescer, retroceder jamais.

Olha só, lá estava eu contando os dias, meses e anos, olhando a lua cheia, querendo tocar piano, tomando um scotch e dizendo “tomara que ele volte”. Olha só quanta confusão, eu lá achando que era pra sempre, que nunca ia acabar. Olha só eu lá, me vejo pedindo pro sentimento não acabar, orando pra sobrar uma nesga, um resquício, um rascunho, um tiquinho, um rabisco que fosse, pelo menos uma letra, um “A” do amo.

Ligeiramente vejo-me lá, e hoje consciente e não tanto displicente ou imprudente. Nem tanto adolescente, nem combalida por desejos frementes. Hoje vejo e constato a mais pura e mais simples verdade, a mais pueril e brejeira, a verdade primeira, incontestável e insofismável: acaba.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Nó desfeito

Não existe nó
Que um dia não se desfaça
é só deixar o tempo escorrer
E uma ponta pela outra passa

Não precisam-se de tesouras
Muito menos de facas
deixe a vida seu trabalho fazer
Que o nó desentrelaça

As partes saem intactas
Prontas pra se unirem em novos laços
Mas é preciso calma e técnica
Pra de novo não perder o compasso

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Começou assim...




As aspas já não me serviam mais
Nem que fossem as de Neruda
Era preciso “algo meu no mundo”
Não, acho que não passa por aí
Tinha muitos outros “algos” meus por aí

Tinham as experiências na cozinha
Tinha meu jeito único de descascar abacaxis
Meu jeito único de fazer cafuné
Tinha meu delicioso pudim de leite

Então o que faltava?
Boa pergunta. O que leva um sujeito a escrever tanto? O que leva um sujeito a perder tanto tempo em busca de versos perfeitos, da crônica irônica, do conto que foi parecendo que não ia e acabou indo? O que leva um sujeito a querer rimar lé com limão, a preferir uma página em branco a ver televisão?

Não, também não passa pela idéia do livro, do filho e da árvore. Meus escritos não ficarão para a posteridade, não serão best-sellers, nem perpetuaram minha espécie, quem dirá meu ponto de vista? Não quero vender minhas idéias, não me parecem suficientemente atraentes para serem vendidas.


Simples: escrito nenhum me bastava.

Escrevo porque cansei de me colocar entre aspas, me cansei do discurso colchinha de retalhos, pegando trechos de Drummond e Quintana, de Machado e Amado.

Cansei-me de ver aspas de falsos escritores tilintando nas minhas vistas. Fazendo troça de mim. Se eles vendem baboseiras porque não escrever as minhas próprias?

Cansei de ser a voz dos outros. Cansei de endossar, assinar embaixo, de fazer das palavras alheias as minhas próprias, cansei de plágio, de responder perguntas com frases dos outros sem ter que gastar um segundo e ter que pensar.

Foi isso. Simples assim, um dia resolvi pensar, comecei a escrever e nunca mais parei.

sábado, 15 de novembro de 2008

Não reclames






Chacoalhou bem
Pediu pra o coração bater pausadamente
Quase lhe implorou pra que fosse menos buliçoso
Mais sereno
Mais ameno

O coração, acostumado aos grandes reveses
Músculo bem treinado, habituado às tormentas
Às águas turvas e geladas
Argumentou que não dava
Que era cavalo puro sangue, que era coração puro sangue
Com veias pulsantes e batimentos galopantes

Resignou-se então com fé
Pedindo aos céus que desse força ao espírito
Que diferente do coração era frágil e quebradiço
E não agüentava tanto bulício

Um dia mais tarde admirou-se
Sentiu o coração calmo
Batendo compassadamente
E assustou-se

Viu-o saborear com sapiência o gosto de cada instante
Sem movimentos lancinantes
Viu-o tocar não como samba, mas como bossa nova
Viu-o como prosa e não como poesia
Viu-o como sempre pedira


Sentiu-se feliz
Rodopiante
Sem o lamento de entregar-se com fervor a cada novo amante
Vivia um passo após o outro
Sem espasmos de euforia
Sem lagrimas de sofrimento alternadas por enchurradas de alegria

Mas logo logo novamente admirou-se
Logo da calmaria cansou-se
Sentiu falta do coração buliçoso
Começou a encher-se de tanto sentimento insosso


Implorou a volta do coração puro sangue
Que aquele pangaré não dava mais pé
Sentia falta dos galopes
Rogou aos céus com toda sua fé

O coração então atendeu as preces
Mas disse logo em seguida
Não reclames mais da sorte
Sou o que tens de melhor na vida

sábado, 8 de novembro de 2008

Enquanto isso no terminal...





Enquanto isso no Terminal do Siqueira, mais especificamente no busão Siqueira Papicu Aeroporto...

- Senhoras e senhores passageiros, me desculpe se atrapalho o silencio da viagem de vocês...

Puta que pariu. Lá vem esse pivete de novo. Como se não bastasse o salário miserável, a bunda pregada na cadeira o dia todo, ter que arranjar troco pra cédula de 50...

- Ajude esse pobre cristão a sustentar seus irmãos e sua mãe...

Agora chega

- Ei pivete. Não pode mais vender jujuba no ônibus não.

- E porque?

- Porque o dono proibiu

- E porque?

- Porque os donos das lojas do terminal reclamaram. Concorrência pras jujubas deles.

E lá vai o garoto com as jujubas na mão.

No dia seguinte...

- Senhoras e senhores passageiros, me desculpe se atrapalho o silencio d viagem de vocês...

De novo. Mas só diz isso. Eu já num disse pra esse filho da mãe que...

- Tem de tudo. Adesivo, caneta, lápis, borracha...

Esperto o pirralho. Arranjou mais bugiganga pra vender.

- Ei menino. Desce com as tralhas.

- Mas num era só a jujuba que tava proibido


- Me enganei. Tudo que seja vendido nos boxes dos terminais ta proibido.

Lá desce o moleque pensando. O que que eu vou vender agora?

No dia seguinte...

- Senhoras e senhores passageiros me desculpe se atrapalho o silencio da viagem de vocês

Minha nossa, pivete insistente

- Ô menino, eu num te disse que não dava pra vender mais.

- Ow tio, nunca vi loja de terminal vender borracha pra panela de pressão. É só um real. Vai querer?

sábado, 1 de novembro de 2008

Poesia nunca morre




A poesia morreu, mas esqueceram de avisar o poeta. Todos os dias ele continuava a versar, a rimar. Sempre com sua folha de papel e caneta. Apesar de todo o aparato tecnológico daqueles tempos. Era o único a possuir livros, muito raros naquele tempo de muita correria e tecnologia. Tudo era lido nos smartphones, palmtops, laptops e outras coisas que ele nem sabia o nome. Havia em outra época publicado um livro de poemas e contos, mas nada vendeu porque ninguém já nem ligava pros escritos de ninguém. A língua estava mudada, os diálogos com palavras cada vez mais reduzidas e incompreensíveis. Ficava horas escutando conversas na rua sem entender nada. Não via mais arte. Não haviam exposições, ou shows. Aqui ou acolá os jovens se reuniam em um ambiente escuro, fumacento e começavam a chacoalhar-se ao som de barulhos estridentes. Não via ninguém mais olhar o pôr-do-sol. Todos trabalhavam até tarde e a atmosfera estava cada vez mais carregada. No fim de semana não havia mais praia, caranguejo.
Só ele não via que a poesia morrera, que a poesia de cada dia, do amanhecer e das flores a florescer. A poesia do jogo de bola na rua, a poesia da lua cheia. E ele continuava a rimar, lembrava de um tempo distante. E riscava na folha:

Poesia nuca morre
Enquanto bater um coração
A poesia é troço forte
Traz alvoroço e mansidão

A tecnologia tudo engole
Tragou os livros e os cantores
Mas sempre haverá um poeta
A falar de dores e amores

sábado, 25 de outubro de 2008

De repente




Desejei envolvê-lo num enlace
Tão logo o vi
Tão juvenil ele era
Que senti vontade de uma serenata debaixo da janela

E inverter os papéis
E mandar-lhe flores
E dizer-lhe que ao meu lado não sentiria mais dores
E não choraria pelos falsos amores

Tão belo e comum ele era
Que chegou a me espantar
E de tão repentino foi tudo
Que eu me pus a duvidar

Tudo que chega correndo
Logo logo se vai
Tudo que vem sem ser sereno
Leva tudo e não volta atrás

Mas tão belo ele é
Que a dúvida já passou
E eu me perco no olho dele
Olho mais encantador

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tudo é mutável





"Nada é impossível de mudar
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar."

Bertolt Brecht

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lutando com tubarões




Quando fiz esse blog, disse que ele ia ser um lugar de leveza, nada de assuntos estressantes, entediantes, nada de convicções político-partidárias, nada de militancias, nada que pudesse abalar a leveza. minha primeira greve veio e dissipou muitas das certezas que tive ao criar esse blog. é preciso não só leveza, mas firmeza também. firmeza que em mim estava adormecida, talvez devido aos desencantos com a politicagem. mas não dá pra calar diante de tanta sacanagem, leveza também se conquista lutando.

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Não sou muito de repentes
Mas não dá pra continuar
Do jeito que a coisa vai
Não tem como ficar


Esses tubarões do banco
Não querem negociar
Ficam em cima do muro
Pra nossa greve desmontar

Desde o inicio dos tempos
A historia é assim
Sempre se trava uma luta medonha
E o mais forte ganha no fim

Agora é um tal de dissídio
Que querem fazem a gente engolir
Molham a mão do seu juiz
Pra fazer a gente desistir

Então de cabeça baixa
O bancário volta pro trabalho
Sem ter o que pediu
E com cara de otário


Mas tem o que fazer?
A pergunta que não cala
Não vamos retroceder
Desse jeito nunca falha

Podemos não conseguir o que se pede
Mas nós teremos lutado
Não teremos a dignidade merecida
Mas não voltaremos como derrotados


Temos que boicotar
Tanto lucro exorbitante
E a gente que faz esse lucro
Nem é olhado pelo banqueiro arrogante

E assim a vida segue
O que temos a fazer é grevar
Até que venha o Trt
E mande a gente se ferrar

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Lua


A lua. Nem sei quantas vezes sentei a frente do computador pra falar dela. O satélite mais bonito, a beleza mais singela. Lua que encanta poetas, e cantores, que inspira malucos e amores.
Lua cheia em especial me fascina, do alto imponente, propõe cada coisa indecente. Lua amarela soberana faz a gente querer sair por aí, levar uma vida cigana.
Quando ela surge ainda no céu cinza-alaranjado da cidade, êta que felicidade. Quando ela lá do alto do céu faz a gente esquecer o escarcéu, a buzina e o caminhão, a loucura e a confusão.
Parece uma figura cortada suavemente a mão, tamanha a perfeição. Parece uma colagem no céu, esperando, esperando tudo ficar azul, pra então brilhar num céu cheio de estrelas.
E brilha na cidade, e brilha no interior, e brilha na beira-do-mar e ouve tantas juras de amor. E brilha sem nada pedir, e brilha nos dando tanto. E brilha pra sempre brilhando, dando de graça tamanho encanto.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cansaço

Cansaço
Às vezes bate um cansaço na gente
Que atrapalha a alma
E a mente

Cansaço
Faz a gente querer desatar o laço
E dizer
Até mais, aquele abraço

Cansaço
Vontade de terminar o jogo
De dizer segue em frente
Vai atrás do “algo novo”

Cansaço
Parece que de um sono a gente desperta
E a cabeça que tava cambaleando
Vai ficando mais esperta

Cansaço
Sensação de que é preciso sair da apatia
Soltar fora o que não presta
Guardar só a alegria

Cansaço
Vontade de acabar a brincadeira
Jogar debaixo da cama a bola
Pegar as coisas e ir embora

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O mundo não vai acabar.





A Bolsa cai
Em São Paulo
Tóquio
Em Xangai

O mundo parece que vai desabar
É correria, é blá blá
Dizem até que o crédito vai acabar

Os bancos vão quebrar
É cada qual com profecias
Nem dá pra acreditar

Vai ser uma quebradeira geral
Tipo efeito dominó
Todo mundo vai se dar mal


Vai ser tipo um crash
Guarda logo o que tu tem
Vê se tu não esquece...


Isso tudo é paranóia
Medo de quê?
Caos é uma pinóia


O mundo não vai acabar
Não é a quebradeira de banco gringo
Que vai sua vida afetar

A ganância é a grande culpada
Gente ambiciosa
Se meteu nesta encrenca danada

Mas de lá eles hão de sair
A vida é assim mesmo, altos e baixos
A isto chamam evoluir

Desligue a tv, esqueça o dólar e as cotações
Não guarde dinheiro no colchão
Cultive as boas emoções

Desgraça vende
Se multiplica
Não ligue pra elas
Segue tua vida


O crédito, quem liga pra ele?
É apenas desnecessário
Faça suas economias
E terás o necessário

Quando a Globo te assustar
Vier falar em recessão
Corre pra beira-do-mar
Beber cerveja e comer camarão

Quando as revistas disserem
É o caos
Passa pra prateleira ao lado
Pega uma Coca e um halls ...

Rima mais tola
Diante de uma crise boboca
Não dá trela pro economês
Esse povo não se toca

Tudo vai fluir
As pessoas vão se amar, vez por outra discutir
E o dinheiro, esse nunca vai sumir

Quer um conselho?

Se tiver um dinheiro sobrando
Vai de Vale e Petrobras
Daqui hás uns cinco anos vais ter dinheiro mais que sobrando
E deixar essa paranóia toda pra trás.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Ser-poeta.

Se eu fosse poeta de verdade

Não fingiria tanto

Ou será que fingiria mais ainda?

Se eu fosse poeta de verdade

Será que ligaria quando morro de vontade de ligar?

Será que correria tanto e tanto pra te achar?

Se eu fosse poeta de verdade, será que riria do teu desajeito?

Que ia fingir não gostar do teu cheiro?

Se eu fosse poeta de verdade

Será que exigiria teu perdão?

Que romperia o silêncio e encurtaria a solidão?

Se eu fosse poeta de verdade

Será que eu saberia demonstrar?

Não só com cartas e estes versos tristes
Mas com um beijo em noite de luar

Se eu fosse poeta de verdade

Pegar-te-ia pela mão

Levar-te-ia pra dentro do mar

Olharia pra ti com paixão

E falando a+b+c, far-te-ia entender

Todos os porquês

De como quando onde quero você

Se eu fosse poeta de verdade falaria menos, escreveria menos e faria mais

Mas o que é ser poeta de verdade?

E será que o meu ser-poeta é um ser pela metade

Cheio de maldade, falsidade e pretensa habilidade

Será que o meu ser-poeta é repleto de mágoa, é mar sem água?

Será que meu ser-poeta é desencanto, é lamento mais que acalanto?

Não.

É apenas um ser-poeta que não se encontrou
Que tanto caminhou
E a ti buscou

E anda perdido
Um tantinho ferido

Com desejo de ser-poeta ligeiro
E de se sentir por inteiro

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Um pedido

Menino
Há tempos te peço
Há tempos eu penso
E se não peço frente a frente
Peço em pensamento

Menino eu quero
Um abraço forte e sincero
Um beijo doce e longo
Um sorriso largo e meigo

Menino eu não nego
Eu fico sem jeito
Quando te vejo é uma tal confusão
Penso em beijar a tua boca
Acabo pegando tua mão

Menino esse treco não dá trégua
As vezes ternura, as vezes lamento
Finjo que não, que já vai passar
Mas quando te vejo volta a atentar

Cabeça confusa, coração vai saltar
Abraço apertado, vontade de não te soltar
Já não sei o que faço pra isso sair de mim
Te faço um pedido
Tem dó de mim

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Correr

Corro e sempre corri demais

Mas os objetivos agora são outros

Corro até me cansar.

Paro e corro tudo de novo

Corro sem livros nas mãos, sem mochilas nas costas

Corro pra me encontrar

E já corri pra te encontrar

Mas calculei errado a hora de dar o sprint

E não te alcancei

Ora bolas, quem nunca fez um cálculo errado

Matemática nunca foi o meu forte, apesar de eu sempre tirar boas notas

Mas o negócio é seguir

Quando corro tiro o peso do mundo dos ombros

E vou leve e quase vôo

É quando me iludo que tenho asas

E tal qual Hermes as minhas ficam nos pés

E pés pra que te quero

Correr, correr, correr

Na praia de preferência, na hora do pôr-do-sol de preferência, com a praia deserta de preferência

E haja preferência.

Nem sei pra quê, só pra me frustrar quando não consigo tê-las

E por falar em preferência, correr em praças é um porre e correr na pista disputando com os carros pior ainda

Eu prefiro o mar como testemunha e você diria: “Tu e o resto da humanidade”

Tá certo, tu tens razão

Corro quando estou confusa, com raiva, frustrada

Corro quando estou feliz

Corro pelos mais variados motivos

Corro e sempre quero o bis

E nem sempre consigo

Os joelhos reclamam

Corro porque sinto-me livre

E por instantes não penso em mais nada, só em correr

Começo a correr com a cabeça embaralhada

O único objetivo é espantar o que há de ruim, é martirizar o corpo até encontrar a leveza

Com o passar das passadas o coração acelera, o suor escorre, as passadas ficam trôpegas

Em alguns instantes as cãibras surgem, o ácido lático acumula e a vontade de parar vai surgindo

Mas ainda há muitos kilômetros a percorrer e não se pode deixar o cansaço vencer

E de repente canto uma canção

Pra me distrair, pra distrair o cérebro

Como quem diz: segura a onda aí

E de repente nem fôlego pra pensar na canção há

Corre-se por correr

Os pés têm vontade própria, correm independente da sua vontade

E você já nem pensa em nada.

Cabeça vazia, e você nem corre mais

Flutua

E flutua a beira-mar

Até os pés não agüentarem

Começam a formigar

E a cabeça ta quente

E o coração parece que vai saltar

E o suor começa a ficar frio

E é hora de parar

Pra no outro dia a brincadeira recomeçar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Pequenos conflitos do dia-a-dia

Porque ela é tão linda? Tão perfeitamente e encantadoramente linda? Esse rostinho, esse sorriso meiguinho, esse jeito docinho. É tudo tão inhozinho que me irrita. Porque ela não pode ser mais humana e real? Ela podia ser grosseira comigo e me mandar a puta que pariu. Aí sim eu ia tem motivos pra esquecer ela... Ou quem sabe amá-la-ia mais



- Oi Fê, tá tão caladinho hoje?



Ta vendo, lá vem ela com esses apelidinhos e diminutivos, lá vem ela me deixar maluco.



- Quer dar uma volta, vamo na praia ver o pôr-do-sol?



Ah Deus, me livre dessa perfeição, desse visgo que me sufoca. Faz com que essa mulher me irrite, me maltrate, pelo menos uma vez na vida faça com que ela me dê um motivo para ter ódio.



- Que cê ta pensando? Vem ou não?



- Não posso. To ocupado.



- Não to vendo você fazer nada



- To pensando Camila, me deixa.



- Não, você ta maior jururu do mundo. Vem comigo. Vou te deixar alegre.



- Te amo Camila.



-Eu também tonto.



-Não, você não ta entendendo. Te amo daquele jeito que faz as mãos suarem e o estômago revolver. Queria te ver dormir e acordar. Queria ser a metade imperfeita que se encaixa perfeitamente na tua perfeição. Eu queria ser os palavrões quando você é a polidez. Eu queria ser o roqueiro maluco quando você é a filhinda da mamãe. Eu queria ser humano quando você parece de faz de conta.. Você é a perfeição que me irrita, me desassossega. Você me deixa num estado de nervos maluco, a qualquer momento pareço que vou ter um ataque com os teus diminutivos e dizer: Te amo droga.



- Não sei o que dizer



- Eu sou o maluco porra louca. Esculhambado, sou mesmo só o Fezinho teu amiguinho. Que tem que escutar teus inhos até que um dia você passe desfilando com algum mauricinho.



- Péra aí também. Você vem do nada e diz que me ama. Me joga essa bomba assim no colo. E quer que eu diga o quê?



-Não sei



- Nem eu



- Bobeira minha. Vou embora.





Saio. Eu saio com a lembrança daquele sorriso, daquele olhar que me dilacera e sufoca. Parece que tudo que vem dela gruda em mim. Parece um visgo, um musgo. Parece que não vou ter paz, nem os carinhos dela. Parece que só me resta contemplar a perfeição, a discrição e singeleza dela. Só me resta esperar que um dia ela desfile na minha frente com o primeiro mauricinho babaca e impensante que apareça.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Minha alma canta

Minha alma canta
E tudo o que vejo não é um alguém ou lugar
É a sensação de bem estar
De confiança no que vai chegar

Minha alma canta
Uma canção singela
Dessas que falam de paz e natureza
De amor e beleza

Minha alma canta
E esqueceu-se de cantar a tristeza
Agora só canta pureza
Agora só canta a vontade de se en(cantar)

Minha alma canta
E é bom que a alma cante
Porque ela diferente de mim não desafina
E se desafina nem liga, porque é tão menina, que pra essas coisas nem liga

Minha alma canta
Nas partidas e chegadas
No amanhecer e de madrugada
Sonhando e até mesmo acordada

Minha alma canta
E cantando se liberta
Esquece de um tempo em que eu malvada que era
Insistia em deixar ela sufocada sem poder cantar

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cada vez mais

Não consigo parar de pensar
Tuas mãos em minha cintura
Tua barba em meu pescoço roçar

Não consigo parar de querer
Na beira do mar sob as estrelas
Juntinhos, colados, só eu e você

Não consigo parar de esperar
Que tudo se endireite
Pra que em meus braços você possa estar

Não consigo parar de te amar
A cada dia mais forte
Sem que eu precise me esforçar

O que não consigo entender
Se o mundo dá voltas
Porque não posso te esquecer

Acho que esse mundo é dado viciado
Roda, roda e dá sempre o mesmo resultado
Feito eu que caminho sem te esquecer
O mundo dá voltas e sempre me encaminha a você

Sentimento verdadeiro
Que eu pensei fosse ligeiro
Foi aí que me enganei
A cada dia de ti mais gostei

Antes pensava ser só atração
Pura tolice
Isso é mais que mera paixão

Vontade de te ver dormir
E acordar
De poder teu sono velar

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Por você

Por você eu gritaria
Deixaria de lado a timidez
Faria serenata e sonata
Me declararia de vez

Por você eu me exporia
Deixaria de lado a discrição
Mandaria buquê e sonho de valsa
Cantaria pra ti com paixão

Por você eu pararia
O transito inteiro da rua
Declamaria o mais belo soneto
Só pra dizer que sou tua

Por você eu viraria
Mulher de um homem só
Desejando todos os dias
Viver com você o bom e o melhor

Por você eu casaria
Dividiria minha vida e minha cama
Suportaria rotina e cobrança
Só pra ouvir do tu dizer que me ama

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O dia em que as cervejas brotaram do chão

Sim. Todo mundo já viu brotar muita coisa do chão: feijão, milho, melancia, árvores inúteis que só servem pra derrubar folhas e sujar o chão. Bem, se bem que não há árvore de todo inútil. Tem sempre a tal da sombra e o ar bom. Inútil é um monte de gente imprestável que tem por aí. Mas isso é outra história. Essa historia é daquele dia em que as cervejas brotaram do chão.

Eu não to maluco nem bêbado. To pra falar a verdade até bem sóbrio. Bebi menos que o de costume. Só meia garrafa de uísque e uma cinco latas de cerveja. Isso pra mim é ficha. To acostumado a beber a mesma quantidade de líquido que inundou a Terra no dilúvio. Sim, exagero. E por falar em assuntos religiosos eu achava que a historia da cerveja brotando do chão era milagre.

Eu que sempre disse que não queria nada além de umas cervejas e imaginação pra escrever boas coisas. Na verdade só queria mesmo as cervejas porque a imaginação vinha a toda depois da 2ª latinha.

No dia em questão a droga da cerveja tinha acabado e eu tava mais duro do que a droga da arvore seca que chacoalhava lá fora. Só me restavam uns cigarros e a inspiração vadia tinha pulado a janela e ficava gozando com a minha cara do lado de fora. Daria tudo por uns goles a mais de cerveja naquele dia. Fazia um calor dos infernos, típico daquela época.

Resolvi dar umas voltas pra afastar o calor. Então eis que vejo no terreno baldio umas garrafas de cerveja. Devia ter umas 10 garrafas. Quando me aproximei pra ver melhor vi que tinham algumas cobertas por terra, quase enterradas. Devia ter umas 50 garrafas ao todo. Não entendi nada. Já tinha visto de tudo na vida, mas cerveja brotando do chão era a primeira vez. Esquisito. Achei que tava ficando velho demais e que já não dava conta de beber sem ter alucinação. Por via das dúvidas peguei as danadas das cervejas, arranjei uma sacola e levei tudo pra casa. Quando voltei ao terreno pra pegar o resto parece que a quantidade tinha multiplicado. Levei de novo tudo o que consegui carregar. Sempre pensando: tomara que não pare de brotar.


Toda noite era assim. Lá ia eu buscar as cervejas. Foi um tempo feliz. Bebia noite inteira, escutava musica e escrevia até o amanhecer. De vez em quando quanto estava metido a poeta levava uma bela pra casa e bebíamos até não mais puder. E eu sempre pensando: que Deus me abençoe e o milagre nunca cesse.

Então uma noite lá ia eu cantarolando levando a sacola de plástico pra trazer o liquido dos deuses, quando eu vi. Havia no terreno baldio um caminhão despejando garrafas de cerveja. Estava desvendado o milagre. Milagre uma ova. Era o mercado da cidade que tava despejando ali as cervejas. Compraram em grande quantidade por conta do calor dos últimos tempos. Sabiam que em épocas assim a cerveja vendia mais que carne, pão ou leite. Só que os infelizes tinham comprado as cervejas perto das danadas vencerem. Saia mais barato claro. Agora estavam fora do prazo. E a solução mais pratica: virar a esquina e jogar tudo fora. Os desgraçados. Fiquei com tanta raiva naquela hora. Porque sabia que uma hora elas não viriam mais. Ia acabar a moleza, as noites alegres. Então viriam os bicos, os trabalhos pesados pra descolar um troco pras cervas.

Até hoje espero por um novo milagre, uma nova onda de calor e pra que o burros filhos da mãe comprem de novo um monte de cerveja perto de vencer. Pelo menos mal nunca me fez e ainda rendeu esta historia tão idiota quanto quem acreditou que um dia cervejas pudessem brotar do chão.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Esse nó que não desata
Antes fosse laço
Mas é nó cego
E me faz perder o compasso


Há tempos que tento
Fazer uma ponta pela outra escorrer
Mas o nó é bem atado
Dificil desfazer

Até hoje me questiono
Como tanto isso pôde enroscar
Sem saber onde termina
Sem saber onde vai dar

Uma tesoura até seria capaz de resolver
Mas então as duas partes ficariam dilaceradas
Tanto eu quanto você

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nostalgia

Não é sinônimo de alegria
E também não quer dizer tristeza
Como em quase tudo na vida
Traz agonia mas também traz beleza

Sinto um cheiro invadir as narinas
Ouço aquela canção
Leio versos de poesia
E então vem aquela recordação

A lembrança nem sempre agrada
As vezes dá vontade de afastar
Mas não é um fechar de olhos
Que é capaz da lembrança expulsar

É olhar o papel do bombom
Pra lembrar daquele desejo
Ver pelo chão a tampa do batom
Do dia do mais doce beijo

Nas gavetas trancafiadas
Anotações e rabiscos
Frases e bobas declarações
E aquele dizer de " um dia te conquisto"

Pra uns é apego ao passado
De quem não vive o dia-a-dia
Coisa de quem foge do presente
Prefiro chamar de nostalgia

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Meu bem, perdão pelo rompante

[Pra entender melhor, leiam o post de baixo]

Escuta querido, foi tudo um rompante, um delírio ultrajante, pois pouco seria chamar de delirante. Fui vilã e cruel, ri da tua bondade e de toda tua doce felicidade. É tudo culpa da minha ironia, da minha maldade, da bipolaridade e todas as outras ades.

Você é tão bom, a tampa da minha panela, a alma mais que singela, a flor mais bela da primavera.

O Passarim voltou meu bem, eu sou tão inconstante, mas uma certeza eu tenho, não quero você distante. Vem cá pertinho de mim, deixa eu te mostrar a flor que colhi, o branco jasmim. Quero te dar não o último beijo, mais descobrir teus mais profundos desejos. Meu bem não há como duvidar, é eterno sim, por mais que contra isso eu tente lutar.

A tua alegria completa minha tristeza e o teu estilo largado acalma meu jeito enjoado. Tua doçura se mistura com a minha amargura e pronto. Mistura perfeita. Nem doce demais, nem amargo demais. Só deixa vez por outra eu acrescentar um pouco mais. Prefiro sempre os meio-amargos.

Rompante de crueldade

Olha, não te quero mais. Some e vai embora. Ta aqui a porta aberta. Pega teus risos rasgados, tua alegria espontânea, tua felicidade delirante e pode ir embora. Mas vai mesmo. Longe, bem longe. Quero tu de mim bem distante, além da linha do horizonte, além do além do arco-íris...

Olha ainda te quero bem, vê se não esquece. É uma cara bacana, até é legal, gosta de música boa e coisa tal. É romântico e etecetera, cheguei a pensar que era a metade, daquelas que dizem completa.

É lindão, uma coisa de louco, já me deu cada sufoco, mas hoje acho tudo isso pouco. Olha não me peça pra explicar, as coisas são assim mesmo, não tem como duvidar.

Ontem sim e hoje não. Uns chamam de armadilhas, eu chamo artimanhas do coração. Ta legal, eu disse que ia ser eterno, pelo menos veja pelo lado bom, não se pode dizer que não foi terno, sincero e honesto. Ligeiro talvez, mas cada sentimento tem sua vez.

O sentimento voou que nem o Passarim do Jobim, sem estar nem aí pra mim e eu nada pude fazer, só o que posso dizer é já era. Vai em paz e com Deus. E não me peça pra beijar os lábios teus pela última vez que já não agüento mais os teus clichês...


[Continua no próximo post...]

sábado, 5 de julho de 2008

O atacante

Desde cedo sonhara com aquela vida. Sentado na cama podia ver a velha bola que ganhara quando moleque, a coleção de miniatura de jogadores, as medalhas e fotos que lembravam a brilhante carreira como jogador profissional.

Dedicara-se ao futebol como nada mais em sua vida. Não era apenas a sua profissão. Não era apenas a sua alegria. Era a sua vida. Era entrar em campo e esquecia de todo o resto do mundo. A ultima coisa do mundo lá fora que ele escutava era o barulho da torcida. Sentia o arrepio, a emoção, a responsabilidade correndo nas veias. Sentia-se importante, o homem mais importante do mundo, já que durante noventa minutos o mundo dele eram aquelas quatro linhas.

Quando a bola rolava parecia entrar em transe. Parecia que só enxergava o gol. Era a partida terminar e ele não se lembrava mais de nada. Dos gritos, das trombadas, da vibração, da comemoração. Só lembrava dos gols, da bola entrando e morrendo na rede. Não lembrava, nem via nada mais. A sensação que tinha era de ver um tanto de vultos correndo pra lá e pra cá. A única imagem nítida a sua frente era a bola. Talvez por isso tivesse tanto carinho por ela.

Ganhara assim os mais importantes campeonatos e prêmios. Tinha uma fortuna invejável, uma vida confortável e a fama o agradava. Não mais que o futebol, mas gostava de se sentir reconhecido.

Tudo andava da forma como ele sempre quisera. Até que um zagueirão de um timeco de Deus sabe onde achou que suas pernas eram autorama. Carrinho violento. Lesão no joelho, afastamento do time. Desde então tudo declinara.

Toda vez que pensava ter se recuperado, lesionava-se de novo e de novo. Foram dois anos assim. Aos 32, já velho pro futebol, e sem engrenar uma seqüência de bons jogos, acabou esquecido. Nenhum time importante o queria e ele se recusava a jogar em times pequenos. Fora rejeitado até pela roda de amigos que o considerava como líder. Apenas diziam: “não, amanhã não vai ter nada não.” Depois sempre descobria que a farra havia sido das grandes. Ele é que não podia ir mais. Não preenchia mais os requisitos necessários pra estar naquela roda.

A vida agora era outra. Vivia do dinheiro acumulado durante a carreira. Era suficiente, mas pra ele de nada servia. A vida sem futebol era sem cor, sem gosto, sem cheiro. Precisava sentir o peito bater forte antes de entrar em campo. Era preciso ouvir outra vez o colorido e o grito das organizadas. Queria outra vez os dribles, os holofotes e os repórteres em torno dele. Necessitava ser campeão outra vez.

Recorrera a amigos, dirigentes, a repórteres. As portas todas estavam trancadas pra ele. Até o São Lourenço virara as costas pro seu grande ex-ídolo. Tantos gols e títulos ele dera ao clube. Ainda lembra do presidente que ele tanto admirara dizendo:

- Não se preocupe, a gente vai dar um jeito nisso. Você vai voltar a ser o que era.

Um ano havia se passado e o presidente não mexera um único dedo. E agora era aquilo. Festa de confraternização. Na casa do diretor. Ele fora convidado e foi.
Estavam todos lá. Todos aqueles que haviam prometido ajudar. Agora eram aqueles risinhos e tapinhas nas costas. Comentavam:

- Esse destruía todo mundo. Atacante igual não vai haver. O grande nome do São Lourenço.

Aquilo nem lhe enojava ou nada. Ouvia só um zumbido ao longe. Sentia indiferença. Como se todos aqueles fossem desconhecidos. Só pensavam nos martines, nos carros importados, nas farras, nos contratos exorbitantes. Ele mesmo fora assim, até o zagueirão achar que as suas pernas eram parquinho de diversão.

Ele apenas sacou a pistola e disparou a esmo. Nem mirava e nem escolhia em quem ia atirar. Como em dia de jogo, não enxergava nada, via penas uns vultos se movimentando, ouvia apenas os gritos desesperados. E concentrava-se não mais na bola, mas no gatilho. Naquela sala só o apertar do gatilho interessava. Só parava pra trocar o pente da arma, assim como vez por outra era necessário trocar de chuteira pra calibrar o chute. Matou todos, devia haver umas cinqüenta pessoas. Só parou de atirar quando os gritos cessaram. Olhou pro chão e finalmente viu sangue e corpos inertes. Era como se a partida tivesse terminado, a sensação era a mesma. Ele
estava exausto, mas aliviado.

Quando saia da casa do presidente pensou que o melhor era ir pra uma cidadezinha do interior perdida no meio do nada. Longe dali montaria uma escolinha de futebol. Ia ensinar aos moleques que futebol não era só fazer gol, mas também ter cuidado com as raposas matreiras que sempre surgem pelo caminho. É é claro, com os zagueirões também.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Eu te aconselho a...

Desista de entender
Apenas siga adiante
Eu tô bem aui
Olhando por você

Não maldiga o mundo
Nenhum sofrimento é tão profundo
Não existe o inferno
Por mais frio que seja o inverno

A selva já não me assusta
Ando nela com desenvoltura
Já não finjo ser gente grande
O sufoco me ensinou a ser gigante

Não há nada que tire a minha paz
Não deixem que tirem a sua
Leva a vida no sossego
O mal eternamente não dura

Não ame quem não te ama
Bota a bola pra correr
Valoriza a liberdade
O bom da vida é viver

Abre um vinho
E ve a lua
Come peixe
E fica na tua

Lê um livro
Beija na boca
Não desperdiça tempo
Não leve a vida á toa

Agora é que tudo começa
Mesmo sem existir meio e fim
A verdade já não interessa
pelo menos não pra mim

Corre pra não cansar
Para pra não chegar
Entra no mar pra não suar
Volta pra casa pra se encontrar

Vadia até não poder mais
Não perde tempo olhando pra trás
Não existe amigo da onça
Só gente que se faz de sonsa

Não ligue pras coisas pequenas
é preciso grandeza de alma
Não diga que existem problemas
e nunca perca sua calma

A vida é boa demais
Mas é preciso nisto crer
Não existe felicidade pra sempre
Pensando assim não tem como sofrer

terça-feira, 24 de junho de 2008

Círculos


Ainda te amo
Ainda te odeio
Ainda tenho magoa de você
Ainda tenho ternura por você

Ainda penso em ti quando o vejo o sol se por
E quando ando distraída associo você à palavra amor
Ainda penso em ti quando vejo um jasmineiro
Ainda sonho em acordar do teu lado sentindo teu cheiro

Ainda penso onde você tá
E com quem você anda
Se anda usando drogas
E se põe a camisinha quando transa

Ainda me preocupo com a tua saúde
E peço a Deus pra você não sofrer
Por que foste tão cruel comigo
E ainda assim não sei como te esquecer

Já tentei indiferença
Ouvir musica pop
Deixar de lado a bossa nova
Disse que só ia escutar hip hop

Já tentei largar a poesia
E ler auto-ajuda
Mas o burro do coração
Sempre te procura

Já tentei não olhar pras estrelas
Nem entrar no mar
Tudo é pura bobagem
Não consigo parar de pensar

Sinto uma falta de ar
Queimadera sem fim
É um aperto no peito
Vontade de te ter só pra mim


É vontade de te proteger
De não deixar ninguém te fazer chorar
Vontade de ficar com você
Vendo a lua cheia na beira do mar

Meu grande amor
Tão puro que nem sei explicar
Chega até a ser boboca
Mas não adianta eu tentar renegar

E olha que já te expulsei
Gritei bem alto pra ver se funcionava
Mas quando eu fui ver
Aqui dentro tu ainda estava

terça-feira, 17 de junho de 2008

Segurem a rima

Segurem a rima
Não deixem ela fugir
A danada me deu a maior volta
E com cara de cínica ainda fica a sorrir


Segurem a rima
Façam-na pra casa voltar
Faz tempo que chamo por ela
E ela aí está a se rebelar


Segurem a rima
Quero ela aqui bem perto
Só com ela me sinto mais viva
E sinto que até meus olhos ficam mais despertos


Segurem essa rima
A danada que faz zombaria com meu coração
Sabe que o danado anda vazio
E por isso que faz danação

Rimazinha deixe de ser tola
Há tanto pra você rimar
Tem futebol, sol e livros
E olha que nem falei do mar

Quando resolver voltar pra casa
Estarei te esperando no portão
Cheia de idéias na cabeça
E com a tua companheira cerveja na mão

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mais um dedinho de prosa...

A fraqueza de Jonas

Fraco. Se houve um adjetivo que ele ouviu mais que todos outros na vida, esse adjetivo foi fraco.

Ainda lembra-se bem da primeira vez que a palavra ecoou com força máxima em seus ouvidos. Devia ter uns oito anos. Era hora do recreio e ele desesperadamente corria em uma daquelas brincadeiras de infância em que se corre pelos objetivos mais tolos possíveis. Acabou esbarrando em um grandalhão. Daqueles desagradáveis que existem em qualquer escola do mundo. Do tipo que assombra e mete medo nos menores.

Estava feita a confusão. Situações assim se resolviam na porrada. Sem essa de diálogo, desculpas ou conversa mole. Os dois tinham que cair na porrada até que um caísse no chão e não pudesse mais se levantar. Era a regra.

Jonas preferiu correr e se esconder atrás da professora mais próxima. Foi o suficiente. Todo o colégio parecia gritar em uníssono, impiedosamente:

- Fraco, fracote. Fraco, fracote.

Ele tinha escapado da surra, mas sabia que seria eternamente conhecido por ter fugido. Por ter quebrado a regra. Seria eternamente conhecido por fraco.
De tanto ouvir o adjetivo, Jonas acabou aceitando a condição. Considerava-se mesmo um fraco, sem energia, incapaz de uma única atitude explosiva, incapaz de “agir como homem”.

Nada mais lhe doía tanto do que ser chamado de fraco pelo próprio pai. Pai que ele admirava em silêncio, mas com fervor. Seu pai era um homem íntegro, trabalhador e enérgico. E Jonas sempre fora chorão. Sempre tivera medo de sangue, sempre detestara filme violento. Preferia ler um livro a participar de uma imperdível queda-de-braço ou qualquer luta que fosse algo tão comum entre os garotos de sua idade.

Isso acabava com o pai. Filho único, Jonas era tudo que seu velho pai não imaginara que seu filho fosse ser. Era um desejo frustrado, um sonho adiado até a próxima encarnação. Para ele, seu filho era, por assim dizer, um maricas.

- Fraco. Larga mão disso. Homem não chora moleque.

Aos vinte anos ele teve a certeza de que ninguém mais o respeitaria na vida. Era motivo de gozação de todos. Incapaz de se impor, de levantar a voz.
Amava Rita com todas as suas poucas forças. Pra ela ele fazia versos, dedilhava canções no velho violão. Era a única pessoa que fazia ele se sentir forte. Sensação que ele nunca experimentara antes na vida. Sentia-se altivo, poderoso, importante e vivo.

Noivara com ela e achava que finalmente encontrara um rumo na vida. Até que a cidade inteira descobriu que Rita traia Jonas com seu melhor amigo. Esperaram que houvesse briga, tiros, sangue. Era a regra.

Jonas permitiu-se apenas jogar fora a aliança e trancar-se por dias no quarto. Não saia para nada. Nem para comer, nem para tomar banho. Nem para respirar um novo ar.
Quando saiu de casa todos o apontavam, cochichavam, faziam cara de reprovação. O pior era o pai, o velho nem se dignava a olhar para o filho. Jonas era como um estranho para ele. E ele se sentia fraco como nunca.

Aos cinqüenta anos não podia ser diferente. Tivera tantas mulheres e todas terminavam por traí-lo. Sempre. Tantos sonhos, amores e lares desfeitos. E ele sem nunca gritar, explodir ou ferir alguém. Sempre guardava o desencanto debaixo do braço e seguia em frente. Filhos nunca tivera. Era estéril, apenas mais uma prova da tão comprovada fraqueza.

Aos cinqüenta, ele era apenas um homem sem casa, sem emprego, sem amor. Fraco como nunca e como sempre. Fraqueza acentuada pela idade, pelos cabelos brancos, pela impotência que chegava impiedosa.

Lourdes fora o mais recente atestado de que ele não servia pra coisa alguma. Apaixonado por ela. Pela boca nova, pela língua morna e úmida, pela carne tenra e rija, apaixonado pela meninice dos seus dezoito anos. Jonas novamente carregava um fio de esperança. Esperança de poder repousar a cabeça no seu colo todas as noites.
Sempre que ficava a sós com Lourdinha era uma suadeira danada. Ele só podia dar beijo, pegar na mão. Namoro respeitoso, moça de família. Feita pra casar. E assim ele o pretendia. Era só arrumar emprego e marcava-se a data.

Até que ele vira ela no maior agarra-agarra com Arnaldo. Desses agarrões onde não se sabe onde começa um e termina o outro.

De novo sentiu-se tomado de uma moleza e falta de energia. Pensou em matar-se, já que achou que ninguém merecia morrer por trair um sujeito que não sabe se impor. Faltou-lhe coragem pro suicídio. Era fraco demais.

Então apenas foi em direção a um bar bem longe daquela esquina. Entornou cachaça até não mais poder. Saiu aos tombos. Então pegou a sua fraqueza ajeitou-a no chão da sarjeta, como se ela fosse seu travesseiro. Desses que incomodam de tão velho. Deitou-se e dormiu. Pensando que pelo menos no sonho ele pudesse ser forte. Uma vez que fosse.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O ultimo a saber


Mais um escrito de prosa desenterrado, é preciso coragem amigos. Inda mais quando não se dispõe de uma criatividade das boas. O que eu prezo são sempre as mesmas historias, o que muda é só oe jeito de contar, apenas a escolha das palavras... Sem mais delongas, eis aqui...



Sim, ele sabia que havia algo de errado. Era só apontar na rua e começavam a cochichar. Era um tal de risinhos e comentários que só ele não podia ouvir. Ele ainda olhava pro lado, pro outro, mas nem adiantava. Era ele mesmo o motivo, o centro da atenção. E Pedro tentava compreender o que estava acontecendo. Até seus amigos paravam de conversar quando ele se aproximava e logo tentavam mudar o rumo da prosa sem que ele se desse conta. Descobriria o motivo mais cedo do que imaginava.

Resolvera chegar em casa mais cedo.Fechou a marcenaria e foi caminhando. Lá chegando estranhou as luzes todas apagadas. Onde estaria Catarina? “Ow mulher com mania de sair”. A noite já era demais. E passou a chave na fechadura. Só então se dera conta que não estava trancada. “Mulher mais maluca, sai e deixa a porta aberta”. E foi entrando e acendendo as luzes. De repente ouviu uns barulhos vindos do quarto e foi ver o que era. Era Catarina e João no quarto na maior diversão do mundo. “Aquele ajudante de padeiro filho duma égua”. Pedro não conseguiu gritar, bater, alarmar, espraguejar. Ficou inerte olhando a cena. A mulher quando se deu conta tentou explicar-se e o ajudante pra variar saiu correndo segurando o lençol. Cena clássica.

Agora ali parado, a voz da mulher ao longe dizendo algo parecido com “a culpa não foi minha”, e tudo girando, a vista embaçada, a lembrança dos risos e cochichos. O motivo finalmente descoberto. Melhor seria nem saber. Ou não? Melhor viver eternamente enganado ou sofrer com a descoberta da mentira? Já nem conseguia pensar direito. Saiu do quarto a passos trôpegos, pouco se lixando pras explicações de Catarina. Ela parecia invisível aos seus olhos embaçados.

Ao abrir o portão e sair de casa, viu a vizinhança reunida. Agora rindo solenemente, sem pudor, enfim rindo com vigor e sem medo. O corno já sabia. Finalmente, como demorara. Sempre o último, mas nem por isso menos importante ocasião. O que se estranhava era o homem ali com cara de parvo. Sem sangue, nem gritos, nem alarme, nem palavrões. Sereno, visivelmente abalado, mas sem nenhuma veia saltada, sem um pingo de suor correndo pelo rosto, sem uma lágrima descendo pelos olhos. Inerte, sentado na calçada, segurando a cabeça cabisbaixa com as mãos, apenas ouvindo risos e deboches.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Minha inspiração

Mais um da série: sentimentos enterrados e versos sempre vivos

Meu muso,
Minha inspiração
Aquele que faz o coração danado
Brigar e ganhar da dona razão

Pra ti os versos mais doces
A prosa mais empolgada
Os cantos mais afinados
E as loucuras mais rasgadas

Esses teus olhos
Eu não sei
Não consigo explicar
É uma espécie de feitiço
Eu não paro de pensar

Contigo já sonhei
Milhares e milhares de vezes
E tantas vezes desejei
Eu e você no embalo da rede

Vivendo não de brisa
E sim de amor e paixão
Achando que não há nada mais empolgante
Que regar a vida com tesão

Eu e você abraçados
O que mais eu posso querer?
Ouvir a tua respiração ofegante
E ter meu peito junto de você

Teus olhos doces castanhos
Que exalam só ternura
Teus lábios, teu queixinho perfeito
Que me enchem da sensação de doçura

Mais tudo isso desmorona
Quando penso no teu eterno ir e vir
Na tua vida de viajante
Que não tem me deixado dormir

E o que me sobra é inspiração
Mesmo pra falar do que não me agrada
Dessa tua ausência que é de doer
E que tanto meu peito maltrata

Mais respeito com o Fluminense



Três minutos, três minutos. São só 180 seg. Já pensou o que são três minutos quando você morre de sono e queria dormir a manhã inteira? Já pensou o que são três minutos quando você precisa atravessar meia cidade pra fechar aquele negocio de vida ou morte? Nada, três minutos assim não são nada. Um piscar de olhos.

Já pensou o que são três minutos quando seu time vence por 2x1 e a qualquer momento o outro time pode fazer um gol e levar a partida para famigerados pênaltis. Uma eternidade. Em momentos assim o tempo parece não escorrer, parece brincar com a gente. E qualquer jogada do time adversário vem revestido de um perigo mortal.

Mas também nesses agoniantes três minutos houve outro três. O terceiro gol. O gol de Dodô. Houve antes o delicioso gol de Conca, o argentino fazendo gol nos argentinos. E antes houve Washington, cobrança de falta perfeita.

O Fluminense era por assim dizer “o mais fraco” dos brasileiros na Libertadores. Aquele que entrou desacreditado pela mídia e pelos outros torcedores. Um time sem “tradição”, sem experiência e sem títulos de Libertadores. Como vencer São Paulo e Boca, tão habituados a títulos internacionais? Como vencer a catimba argentina, o talento de Riquelme, a força de Adriano, e o equilíbrio do time de Murici?
Improvável, impensável. Esqueceram-se de respeitar o Fluminense, um dos times mais importantes do Brasil, esqueceram-se que futebol se ganha em campo e com dedicação e empenho. Como dizer que o Flu chegou na final apenas por um golpe de sorte? Sim, ainda tem quem o diga. Como dizer que é sorte o talento inconteste de Tiago Silva, o gigante da zaga? Como dizer que é sorte a inspiração de Washington que além de usar a cabeça com maestria provou ser excelente na cobrança de falta? Como dizer que as defesas magistrais de Fernando Henrique foram apenas golpes de sorte? Suas luvas parecem que tem imã, sempre atraindo as mais difíceis das jogadas. Como dizer que é sorte a competência de Renato Gaúcho, fazendo intervenções precisas e inteligentes? Como dizer que é sorte o maravilhoso espetáculo organizado pela torcida tricolor?

O Fluminense na quarta-feira foi impecável e relembrou mais uma vez como é bom ganhar dos argentinos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A sensibilidade perdeu a guerra?

Deve ser culpa dos sonetos, do Álvares de Azevedo, do Jobim e do Quintana. Também tem culpa a lua cheia, a praia à tarde e a tua voz que me incendeia.

Não, nem sempre fui metida a poetisa. Nem sempre gostei de bossa nova, nem sempre achei que gostaria de viver um amor a moda antiga.

Já fui prática e objetiva, fria e calculista, discreta e comedida. Mas tudo nessa vida muda, tudo é uma constante revolução. E eu que me considerava imune, hoje sofro: achaques do coração.

E dia desses estava euconversando, conversinha virtual, um grande amigo parou e disse: “Lorena, vê se cai na real. A sensibilidade perdeu a guerra, o romantismo já era.”

As palavras tilintaram na minha cabeça. Mas que diabos. A sensibilidade, justo ela que eu tanto demorei pra aprender. Tal qual um trabalho de ourives, a procura do pequeno detalhe, do perfeito entalhe. Até chegar a obra-prima. Até chegar a arte divina, suprema, de saber amar. Conquistando sensivelmente, suavemente, envolvendo com uma bela melodia e arrematando com uma bela poesia. Suspiros e sussurros poéticos ao pé do ouvido. Olho no olho, mão na mão antes de dar aquele amasso. Envolver terno e macio com aquele doce abraço.

- Isso não serve mais meu caro? - perguntei eu já aflita.

-Não, não, cara Loren, não se iluda. Amor agora é prática, sem essa de teoria. Agora a tática é muita ação e pouco papo, pouco beijo e muito amasso. Nada de se amarrar muito pra não perder o compasso.

-Mas assim não dá. Assim não quero. Só se eu me apaixonar.

- Se apaixone. Mas digo-lhe que é um erro. Vais ser tripudiada por um ser inferior a você. Ele até achará bonitos teus versos. Mas enjoará deles em dois tempos. Seja prática e objetiva, ou os novos tempos te engolem.

- Será?
-Você duvida? Aprenderá da pior forma. Apanhando. É bom porque aprenderá a lição. Ou não, se tiver mesmo o dom para sofrer.

- Recuso-me a acreditar meu caro

-Eu também já duvidei. Sonhei e a cara quebrei. Mas vá. Isso é fruto da sua juventude e rebeldia. Um dia aprenderá. E não esqueça cara Loren, a sensibilidade, essa que nós tanto nos gabamos de ter conquistado, perdeu a guerra. Só nos resta seguir tal qual a massa medíocre que trata o amor como mercadoria.

-Será?

- Ainda duvida. Não lembra do que houve comigo?

- Também não vamos generalizar por um caso só, né meu caro?

- Ah sim, e o que você me diz do seu caso, do companheiro Manuel, da dona Patty, do Alfredo, da Joana...?

- Tá, tá bom, chega. Tá quase me convencendo...

- Quase? Mas tu é dura na queda.

- Mas meu caro, é impossivel alguem resistir a um cantinho um violão, este amor uma canção... É impossivel resistir a um vinho numa noite fria, a um sarau de poesia, a andar de mãos dadas, a ver a noite enluarada num bela madrugada. É impossivel resistir a um balanço na rede, a matar com a saliva a sede. É impossível...

- Isso tudo é mesmo muito bonito. No começo. Seja assim por mais de dois meses e vão te chamar de brega, grudenta, sufocante...

- Não creio

- Tu teima mais que mula. Hoje é cobrado maturidade, impessoalidade, equilibrio, liberdade, distancia mais que tesão e paixão. As pessoas tem medo de se envolver demais, de perderem a liberdade e individualidade.

- Não seja tão apocaliptico. As coisas não estão assim tão perdidas. O amor nunca sairá de moda.

- Clichê mais brega Loren, já disseste coisas mais inteligentes.

- Esquece que aprendi com você que o grande Dylan disse certa vez que : "Não dá pra amar e ser esperto ao mesmo tempo" Por isso mesmo teimo, empaco que nem mula, assumo minha burrice e falta de esperteza. A sensibilidade pode ter perdido a guerra, mas não deixo de acreditar nela.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Versos das antigas

E aqui vai o primeiro da série: sentimentos enterrados,mas versos sempre vivos. Afinal a poesia é eterna
Vão-se os anéis, ficam os dedos
Vão-se os amores, ficam os versos...

Falta

Só você não sabe
A falta que me faz
Falta que a cada dia
Parece aumentar mais e mais

Só você não sabe
E se sabe se faz de rogado
O quanto é grande meu desejo
Que já pôs meu peito desesperado

Só você não sabe
E parece nem querer saber
Quando eu fito as estrelas é em ti que penso
E sempre o que peço é poder te ter

Só você não sabe
Mas um dia hei de te fazer saber
Não existe vida sem certas coisas
E uma delas, meu bem, é você

sábado, 24 de maio de 2008

Desenterrando os escritos de prosa

Iniciando a série: Desenterrando meus escritos de prosa. Pra não dizerem depois que eu só escrevo versos.
Eu tenho pelos meus textos de prosa um carinho quase maternal, daqueles carinhos tipo mãe coruja que só solta o filhote quando sabe que ele tem forças o suficiente pra andar com as proprias pernas. Afinal mãe nenhuma quer que seu filho leve tombo e seja "zoado" por aí.
Agora eu deixo um dos meus filhotes caminhar, nem sei se é a melhor hora, mas há tempos o bixim pede pra eu libertá-lo.


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João e eu

Um uísque. Com gelo claro. Uma noite fria de lua cheia. .Céu sem nuvens ou previsão de chuva. Beira de praia e o cheiro de maresia invadindo as narinas. Quem já viu um céu estrelado e uma lua cheia do interior sabe do que to falando. Cenário paralisante, absorvente, que faz qualquer insensível virar um sonhador, pelo menos por uma noite. Uma bossa nova no som. Som envolvente, harmônico, delicado.

E ele nem precisava passar, já que eu não esperava que aquela noite fosse perfeita. Na verdade nunca espero perfeição das coisas. Já o vira tantas vezes, mas nunca nossos olhos haviam se fixado um no outro. João agora fazia pose. Era obvio que queria chamar minha atenção. Tinha jeito de menino, é verdade, justo eu que sempre apreciara os mais velhos. Em João havia um quê de meninice que me agradava, um jeito que eu nunca antes havia apreciado, mas que agora me saltava aos olhos de forma insistente. O que mais me impressionava nele era a insistência com a qual me olhava, nem fazia questão de disfarçar. Se passasse por mim dez vezes em dez min, dez vezes me olharia. Ele ria pra mim, me encarava, me desconsertava, me seguia em todos os lugares, mas nunca me falava.

Naquela noite eu sentada na calçada e ele debaixo da árvore defronte a minha casa. Ele enfim tomara uma atitude e me chamara. Eu que sempre costumo ser reticente e pensar antes de agir, me levantei e fui num impulso, decidida, agi por instinto. Lua cheia, uísque. Tudo a favor do João. Ele nem precisou falar muito. O desejo existente ali era evidente. O meu e o dele. Olhávamos as estrelas e a lua como pretexto, como se elas nos dessem força pra prosseguir ou começar o que queríamos fazer. João conseguia ser mais tímido que eu. A iniciativa tinha que partir de mim senão ficaríamos ali a noite inteira olhando pro céu. Ainda bem que tinha o uísque. Bebida quente, danada, dá coragem até ao mais pusilânime dos seres.

Naquele instante eu podia ter falado de música, poesia, ter dito que a beleza dele inspiraria um tanto de versos meus, mas com uma lua daquelas e com um desejo exalante daqueles não havia nada o que dizer. Então eu simplesmente o beijei. Um beijo calmo, mas nem por isso menos intenso. Um beijo sem o desajeito comum dos primeiros encontros entre duas bocas. As nossas pareciam se conhecer há muito tempo, pareciam familiares, pareciam conhecer os movimentos exatos que agradavam a um e ao outro. As línguas quentes, úmidas e incessantes num trabalho tão harmonioso e delicado quanto os acordes da bossa nova que ecoavam na noite, ao longe.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Flu


O coração e a alma não rezam há tanto tempo, mas involuntariamente as mãos unem-se como quem vai fazer uma prece.

Cruzam-se, apertam-se, unem-se num pedido.
Ah, o futebol, sempre leva embora a razão.

Caminha-se de uma lado para o outro feito um tolo, coração que parece vai saltar.
Não há cerveja que dê jeito. Não há nada que acalme. A não ser uma bola que resolva morrer no fundo das redes. E aí sim, nem sei se o nome é calmaria. Acho que melhor seria chamar de gritaria. Pulos, tremedeira.


Se você é o mais pacifico dos seres, não adianta. Voce vai xingar, dar murro na parede, jogar longe tudo que tiver ao seu alcance quando o atacante do seu time perder aquele gol feito. O tempo parece não passar se seu time tá ganhando, o tempo parece voar se seu time tá perdendo.


Eu gosto de futebol desde que me entendo por gente. E torço Flu desde que o Renato Gaucho fez o famoso gol de barriga na final do carioca de 95. Nos últimos minutos. E eu do fundo da minha inocencia infantil escolhi: vou torcer pra esse time aí das três cores. Com ele vou ter sempre emoção. E tive, ai, ai. Umas horríveis: ê terceira divisão, umas incríveis como o título da copa do Brasil.


O importante é que a paixão continua. Quando o Flu entra em campo todo o mundo lá fora acaba, parece não fazer sentido. Eu esqueço os bons modos. Eu esqueço que existe o planeta Terra. Um êxtase inigualável.

Futebol é droga pesada, viciante. E quando o seu time faz um gol faltando um minuto pra acabar o jogo e voce desaba no chão... É o ápice.

Valeu Flu, noite memorável, inesquecível... Vamo que vamo que o show não pode parar.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Música...

Eu resolvi botar musiquinha no Lugar de Leveza.
Porque eu não vivo sem música. Tô em casa e pode ter certeza que tá tocando música, esteja eu fazendo o que estiver.

Uma coisa que sempre repeti pra mim desde que me entendo por gente é que um dia eu teria minha propria rádio, uma estação onde só tocasse o que eu gostasse de ouvir e o que eu gostasse que as outras pessoas ouvissem.

É companheiros, eu moro na Terra do Sol e aqui impera " O chupa que é de uva", os paredões dos playboys forrozeiros e as mil e uma rádios que tocam forró. Um desespero pra quem curte música boa. E nem vou entrar no mérito da questão do que é bom ou não. Sou do partido que acha que música boa é aquela que toca a alma, que traz leveza, que faz pensar.

Por aqui voce vai sempre encontrar os nomes que admiro, que me fizeram chorar, rir, sentir saudades, fazer juras... Os nomes que me ajudaram e me ajudam a ser mais humana.

A idéia é sempre trocar as músicas que vão tocar na minha rádio, que vão ajudam o lugar de leveza a ser mais leve.

Aceito críticas e sugestões dos leitores...

É isso.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Eu quero

Eu quero conversas intermináveis, risadas até dar cãibra

Eu quero correr até cansar, parar e correr tudo de novo

Eu quero sol, praia e mar

Eu quero churrascos, feijoadas e festas de família. Todas toscas, todas inesquecíveis.

Eu quero sempre partilhar o que houver de bom com os meus.

Eu quero, se for possível, nem falar o que houver de ruim. Nem eu dou conta.

Eu quero ler,cantar, amar, perdoar, ter calma, ter pressa.

Eu quero criar cachorros e levar uma vida saudável. Um dia eu largo o café, a carne e a fritura. Juro. Um dia jogo tudo fora.

E a cerveja? Ah, sem ela não dá.

Então serei 95 % saudável.

Eu quero estar longe da correria.

Não adianta! Vou acabar numa praia bem bem distante com meus livros e discos. No mais clássico estilo nativa. Achando que andar na pracinha matriz a noite é o que há.
Eu quero ver jogos do Vozão até morrer de dizer palavrão.

Eu quero chorar e rir, chegar e partir.

Eu quero outros em minha vida.

Eu quero me surpreender, me espantar e duvidar das verdades absolutas

Quero quero tanta coisa...

Quero tomar banho de mar a noite, caminhar de mãos dadas, fazer juras eternas

Não quero nós, quero laços, quero te dar um abraço e um amasso que também não sou de ferro

Quero beijo na boca, quero plantar uma arvore, escrever um livro e ter um filho, mas isso é pra bem depois

Quero ganhar dinheiro, dormir até as dez, ter insônias nas madrugadas pra recuperar o sono nas manhãs

Quero ver a luz da lua, cheia, minguante, nova e crescente

Quero o cinza do céu também, quero ele vermelho, azul, multi-cor

Quero mais encontros que desencontros

Quero mais desejo que desprezo

Quero mais sim que não

E não quero que o amor supere o tesão, antes os dois lado a lado

Quero não ter que dá resultados, não sou equação, sou gente de verdade, sou pele, osso e coração

Não quero mentiras e mediocridade nem quero ultrapassar muito minha cota de saudades

Quero entrega, sorrisos verdadeiros, abraços apertados

Quero bossa nova e poesia

Quero amigos pra vida toda, um amor eterno enquanto dure, que me entenda e surpreenda, que se faça de humilde mesmo sendo o tal, que se faça de tímido mesmo sendo ousado, que faça que nem ligue mas que morra de paixão

Quero que azia vá embora, quero jogar tudo que não presta fora

Quero ligar quando tiver vontade e sair correndo pra ver quem eu quero quando me der saudade

Quero alguém bonito, esperto, engraçado, que vez por outra se faça de abobalhado


Quero os cuidados da mamãe, os dengos da vovó, os conselhos da titia,quero ser sempre alguém melhor

Quero massagem e cafuné, quero falar bobagem até não dá mais pé

Quero nunca mais sentir dores tão sofridas, quero morrer de amar nessa vida

terça-feira, 13 de maio de 2008

A minha Pasárgada



Não é a do Bandeira
Lá não sou rainha
Nem tenho quem eu quiser
Até porque só teus olhos e sorriso me interessam

Mas lá tenho paz e alegria
De noite e de dia
Tenho mar e sol
Tenho dunas e futebol

Lá eu tenho a vida pacata
Que escorre sossegada
Não só nas manhãs
Mas também nas madrugadas

Lá eu sou feito criança
Que corre pra abraçar o mar
Lá eu fico besta vendo a lua
Pedindo pra noite nunca se acabar

Lá até meu choro é sereno
E minha angustia mais passageira
Só meus desejos é que são mais intensos
Parecem brotar de forma mais verdadeira

Lá tem a tua presença
Que por si só já valeria por tudo isso
Lá tem aquele papel rabiscado
Em que um dia escrevi: “Ainda te conquisto”

Lá eu sou o meu melhor
A minha saúde é mais perfeita
Meu sono mais profundo
E a vida não corre tão ligeira

Lá não tem aborrecimento
É felicidade sem ter fim
Lá é minha Pasárgada
Lá é simples assim



Foto: Nelson Basile

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O que é afinal?

Muito além de passageiro
De transitório
De efêmero
De ligeiro

Muito além de fugaz
De voraz
De tenaz

Isso é apenas uma forma de sentir
Sem pesos e medidas
Sem ser certo ou errado
Sem ser justo ou inadequado

Não é amor nem paixão
Nem pureza nem tesão
Nem sim nem não

É apenas um sentimento
Que existe
As vezes alegre
As vezes triste

Sentimento que se agarrou a minha mão
Que insiste em habitar o coração
Que já não aceita que eu lhe diga não

Não é assim nem assado
Nem presente
Nem futuro
Nem passado

Não é nó nem laço
É desejo de envolver num abraço
Quente e envolvente
Que valha mais que um amasso

É desejo de te ver dormir
E acordar
De poder teu sono velar

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Imagina se faltasse água

Todo mundo pelo menos uma vez na vida já andou de ônibus. E já reclamou deles também. Conseqüência inevitável eu diria. Ou porque tava muito lotado, ou muito quente, ou porque o motorista ia rápido demais ou porque ia devagar demais, ou porque parou muito antes do ponto ou muito depois. Inevitável

Mas hoje eu vi gente em situações atípicas: morrendo de vontade de chegar no trabalho e sentindo falta danada dos ônibus. Sim, pasmem. O que uma greve de ônibus não faz. Um caos total. A Fortaleza só era bela pra quem estava fora dela. Trocadilho idiota, mas também inevitável.

Impossível manter a leveza hoje. Filas de ônibus parados em todos lugares, pessoas andando no meio da pista concorrendo com os carros, motoqueiros mais imprudentes que de costume, engarrafamentos a 3X4, topics de um jeito tão absurdo que chamá-las de lotadas seria eufemismo. Um calor da peste e gente perdendo a paciência pela menor besteira.

Agora imaginem se faltasse água. Não uma falta temporária, mas uma falta de semanas e meses. Se faltasse pra valer, se a água parasse de “rodar” que nem os ônibus, decretasse estado de greve pela melhoria das condições. É ninguém nem pensa nisso. Melhor pensar, porque faltando ônibus, pega-se táxi, moto-táxi, van e seus derivados. Mas faltou água colega, vai pegar o quê? Coca-cola?

terça-feira, 6 de maio de 2008

Tiersen


Eu ficaria o dia todo ouvindo ele tocar
Seria tão fácil chamá-lo de genial, fascinante, inacreditável...
Acordeon e piano. Ele é tão expressivo sem precisar de uma palavra.

As suas caras e o seus gestos, os acordes que ele arranca. A nostalgia e melancolia que ele me traz. Não são ruins, pelo contrario.

Uma melancolia agradável, que me faz pensar no rumo da vida, no rumo que as coisas estão tomando. Uma nostalgia que me inspira, que me faz escrever. Que me faz querer ser tão genial quanto ele. E eu escuto e vejo de novo e de novo os seus vídeos e músicas.

Esse francesinho que veio sacudir a minha lista de músicos que eu sempre e sempre escuto. Veio trazer um ar de novidade e frescor. E veio de novo trazer aquele sonho de infância. Me sentar num boulevard francês, com um livro nas mãos, tomar um vinho. Agora eu completaria o quadro de antes e diria, ouvindo Tiersen. Ouvindo le rue de cascades

sábado, 3 de maio de 2008

Carta ao amigo distante

Amigo, nem sabe quanta falta fazes.
Hoje foi um daqueles dias que pensei em ti e fiquei melancólica por não estares aqui.
É duro pra mim saber que está lá na cidade de pedra e que dificilmente virá novamente de vez. Fortaleza passará a ser apenas um local de visitação. Uma vez por ano virás aqui e então marcará um dia para rever todos os amigos e familiares.

Hoje acordei com uma nostalgia maior que a de costume. E senti uma vontade maluca de conversar contigo. Um dos melhores interlocutores que conheço. Tão parecido comigo e ao mesmo tempo tão diferente. Nossa ambição e individualismo, nosso amor-próprio exaltado, nosso gênio, nossos comportamentos. Tua religiosidade e minha falta de crença, tua loucura pelo urbano, minha paixão pela natureza, tua pele branca que parece que nunca viu sol e minha morenice enraizada.

Vontade de hoje passar a tarde conversando contigo, contando meus causos, escutando conselhos, te dando uns também. Vontade de te olhar e te dizer que és essencial pra mim. Vontade de pegar um avião e ir aí só pra te dar um abraço e te dizer que fazes falta demais.

Olhe, olhe

Olhe, olhe
Que é tempo de ser feliz
Nem ontem, nem amanhã
Hoje

Quer ligar? Liga
Não importa o que vai dizer
Inventa, tenta

Quer chorar? Chora
Mas depois toma um copo dágua pra não desidratar

Quer dizer tudo? Se declara
Nem que depois leve um fora

Quer voltar atras? Volta
Não fique achando que é covardia

Quer desistir? Desista
Certas lutas não valem a pena

Quer beber? beba
Vodka, Vinho, Cerveja.
E se não puder, beba energetico com coca-cola

Quer dormir? Dorme
Mas não esquece que não há nada mais lindo que a lua das madrugadas e o sol do amanhecer

Quer acordar cedo? Acorda
Mas não esquece que o melhor sono é aquele de depois das dez da manhã

Quer beijar? Beija
Nem que seja pra depois levar um tapa

Quer dizer eu te amo? Diz
Nem que seja pra ouvir um "não dá pé"

Quer caminhar? Caminha
De tenis, ou descalço, na praia, ou disputando com os carros

Quer cozinhar?Cozinhe
Mesmo sabendo que o resultado será catastrofico

Quer escrever? Escreva
Nem que suas linhas sejam tão ruins quanto estas e cheirem a auto-ajuda

Quer inovar? Desce do onibus e vai a pé

Quer escandalizar? Diz pra todo mundo que quer morrer de amar

Quer emagrecer? Corre, em vez de parar de comer

Não quer sofrer? Pára de olhar pro canto errado em vez de eternamente se esconder.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Coração teimoso

Que loucura desmedida
Isso que sinto por ti
Dia e noite, noite e dia
E ainda te trago aqui

Me traíste, me enganaste
Plantaste em meu peito a desilusão
Mas veja só o disparate
Ainda te carrego no meu coração

Como pode? Eu não sei
Não consigo explicar
Mas se fosse me dado um desejo
Escolheria te beijar

Primeiro olho no olho
Entrelaçando tua mão na minha mão
E então com os corpos juntinhos
Tu sentirias o meu coração


Teimoso, danado, arredio
Que insiste por você bater
Por mais que eu tente explicar
Parece só se importar com você


E quando eu decidida
Decido do meu peito te expulsar
Então vem a cabeça danada
E me faz contigo sonhar

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Amor meu


Meu amor deixe de tolices
Já lhe disse e torno a repetir
Pra você faço um caminho só com flores
Esqueça as pedras e venha me seguir

Meu amor só eu sei
Um jeitinho de te fazer feliz
Beijar teu queixinho todo dia
E te acordar de manhazinha mordendo a ponta do nariz

Meu amor eu te conheço
Parece até que de outra encarnação
Mesmo longe eu capto tua sensibilidade
E a freqüência do teu coração

Meu amor eu conheço teus gostos
É até alguns de teus defeitos
Não me venha com aquelas desculpas bobas
Eu não busco que sejas perfeito

Meu amor eu já disse
E tantas vezes tornarei a repetir
Pra você um caminho com flores, musica e poesia
Só eu é quem sei como construir

terça-feira, 29 de abril de 2008

Há tempos

Há tempos eu escuto
Se joga pra vida
Se entrega sem medidas
Se preciso põe o dedo na ferida

Há tempos que eu escuto
Não só o sprint faz ganhar a corrida
É preciso correr sem parar
Desde a largada até a linha de chegar


Há tempos eu escuto
Abre esse coração
Deixa de tanta frescura
Não viva só num mundo de ilusão

Há tempos eu escuto
Diga tudo o que sente
Põe pra fora o que ta guardado
Alivia a alma e a mente

Há tempos que eu escuto
E agora fiz tudo isso acontecer
Então você vem com esse blá blá
E faz tudo que eu ouvi esmorecer

Há tempos que eu escuto
Agora eu é quem vou te falar
Certas coisas acontecem apenas uma vez
Não dá pra deixar passar

sábado, 26 de abril de 2008

A tarde, em frente ao jasmineiro

Engraçado. Não que antes eu não tivesse reparado, mas ontem numa hora banal, voltando do trabalho, cansada, num ônibus lotado, o motorista ensandecido achando que a pista era um autódromo particular e haja saculejo, pra lá e pra cá, eu vi um jasmineiro branco.
Eu vi o sol se pondo. E me veio a lembrança de você.

Então eu pensei, sempre e sempre assim.
O jasmim, o cheiro do jasmim, a lua cheia, o mar azulado, a melodia doce, a rima perfeita e então a simples conexão: você, você, você.

Como uma única linha de pensamento, onde qualquer coisa que denote beleza, sensibilidade e pureza me leve a você. E tenha certeza que é involuntário, obra da razão ou do danado do coração, vai saber. Só sei que agora eu vou ter mais um lugar e hora certa pra pensar em você. A tarde, em frente ao jasmineiro.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Estrela, estrela

"Estrela, estrela
Como ser assim
Tão só, tão só
E nunca sofrer

Brilhar, brilhar
Quase sem querer
Deixar, deixar
Ser o que se é

No corpo nu
Da constelação
Estás, estás
Sobre uma das mãos

E vais e vens
Como um lampião
Ao vento frio
De um lugar qualquer

É bom saber
Que és parte de mim
Assim como és
Parte das manhãs

Melhor, melhor
É poder gozar
Da paz, da paz
Que trazes aqui

Eu canto, eu canto
Por poder te ver
No céu, no céu
Como um balão

Eu canto e sei
Que também me vês
Aqui, aqui
Com essa canção"

Vitor Ramil

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Carta, mais uma de tantas

Já perdi as contas de quantas vezes sentei pra escrever pra você. Foram versos, e-mails, cartas...
A maioria delas não foi enviada, nem nunca o serão. Certas coisas devem ser ditas no exato momento em que são sentidas, ou então perdem o sentido.

Já usei todo tipo de material pra escrever pra ti. As vezes o computador foi testemunha e parceiro. Me viu rir e chorar, foi espancado pela fúria ou acarinhado pela sutileza dos meus dedos que queriam te dizer algo com o simples ato de tocar o teclado.

Já escrevi na areia da praia, e essas a onda do mar levou. Já escrevi em papel de pão, em papel de carta, em pétalas de rosa, em capa de caderno, já escrevi e rasguei, já escrevi e guardei, já escrevi e deletei, já escrevi e salvei.

Escrevo e escrevo mais uma vez. Escrevendo é a forma mais inteligente que tenho de desabafar. É fato, me dou muito melhor com a palavra escrita do que com a falada. Por isso escrevo, verso, proseio...

Quantas e quantas rimas dedicadas a você, quantas e quantas horas a fio em busca da palavra perfeita, da frase perfeita, do texto perfeito. Sei que escrevo bem, não é preciso bancar falsa modéstia, mas quando se trata de ti pareço querer florear, inventar, até neologizar, só pra te agradar, só pra te encantar...

Quantas vezes prometi que ia te esquecer, que não ia mais pensar em você. Em vão, sempre em vão, sempre me pego pensando em ti quando escuto uma bela canção. O que eu sigo a perguntar é até quando vou continuar assim. Escrevendo por você e você sem nunca responder

Adeus

Adeus
Existem varias formas de adeus
Um pra dizer até já
E um pra nunca mais voltar

Adeus
De mão aberta, tremulando no ar
Ou simplesmente um olhar afirmativo
Que afirma que não vai voltar

Adeus
De coração partido
Ou cheio de esperança
Adeus da tempestade
Adeus que prenuncia bonança

Pode até ser triste
Mas as vezes inevitável é
Por mais que se sofra
É preciso fazer coisas que não se quer

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ternura

"Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora"

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Razão x Coração

* Inspirado livremente em Tem jeito? De Rafael Ayala


1º diálogo: Razão fala para coração

Ah coração lesado
Parece abobalhado
Repara nas coisas
Vê se olha pros lados

Ah coração teimoso
Faz tempo que falo e digo
E você sempre pelo caminho tortuoso

Ah coração sem jeito
Parece que não enxerga direito

Ah coração
Se toca
Vê que faz tempo tu bate
E ninguém abre a porta

Ah coração
Sai dessa
Parte pra outra
Corre depressa

Ah coração
Não amola
Não quero te ouvir
Vê se me solta

Ah coração
Ele nem liga
Bola pra frente
Segue tua vida

Ah coração
Não adianta sofrer
Batalha perdida
Aqui não vale : “ou ele ou morrer”

Ah coração
Seja sensato
Escute a mim
A dona razão

Ah coração
Parece criança
Não pode ver soprar uma brisa
Pensa que é a bonança

Ah coração
Te aquieta
Ta mais pra tempestade
Vê se ce desperta.

Coração falando pra razão

Ah dona razão
Melhor seria chamar Maria estraga prazer
Siga com suas lógica e objetivos
E deixe minhas coisas eu resolver

Ah dona razão
Sai pra lá
Deixe eu voar por entre as nuvens
Vê se me deixa flutuar

Ah dona razão
Sem essa
Não me manda correr
Vou devagar: não tenho pressa

Ah dona razão
Eu sofro
Mas saboreio cada alegria
Como se fosse a última do meu dia

Ah dona razão
É brisa
Pode não ser bonança
Mas areja minha vida

Ah dona razão
Não enche
O que tu chamas de tempestade
Eu enxergo como esperança pela frente

Ah dona razão
Não complica
Posso ser cego
Mas tenho alegria

Ah dona razão
Vai pro teu lugar
Segue na tua rotina sem graça
E me deixa brincar de amar

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Dias cinzas

Sempre achei cinza uma cor fascinante. Dias cinzas sempre me pareceram mais bonitos que dias de sol. Eu esperava feito doida pelas águas de março. Pelo inverno raro.

Eu ficava no peitoril da janela, vendo a chuva cair, perdida no cinza, a pensar na vida. Menina ainda, com uma melancolia já presente, melancolia que parece não querer soltar minha mão nunca.

Vez por outra eu mudo, pareço querer me adaptar à aquarela, ao colorido, aos dias azuis. Vez por outra eu insisto em dizer que gosto mesmo é dos dias de sol.

Mas não se pode fugir por muito tempo da essência das coisas. Quisera eu puder fugir da minha essência cinza. Do gosto pelo cinza de fora. Deste cinza que insiste em não deixar o colorido vencer aqui por dentro.

Cinza que parece ganhar matizes de preto com certas declarações, decisões, com certas frases e gestos. Com certos silêncios e palavras. Com certos desencontros e encontros estabanados.
E lá vou eu de novo. Tentar pintar com os tons de cinza, com as cores possíveis.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Retrato em branco e preto











Já conheço os passos dessa estrada
Sei que não vai dar em nada
Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior

O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto
Evito tanto
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar
Com seus mesmos tristes velhos fatos
Que num álbum de retrato
Eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que cansei de conhecer

Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever

Pra lhe dizer que isso é pecado
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado
E você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração

Tom Jobim/Chico Buarque

segunda-feira, 31 de março de 2008

Ode a tríade perfeita

* Se tivesse talentos musicais, teria feito um sambinha a la bossa nova




De onde surgiu?
Não posso imaginar
Numa tarde de fevereiro
Você veio, a caminhar


Preferi chamar de perfeição
O que mais parecia uma doce ilusão
E eu com cara de boba
Admirei teu nariz, teu queixo e tua boca

Altivo, sempre a caminhar
Tu vinhas das bandas do mar
E os pingos d’água teimavam tua sunga molhar


Os olhos castanhos
Só exalavam confiança
E eu sem pensar
Já sentia chegar a bonança

Jeito largado, braço tatuado
Um metro e oitenta e tanto e um peito abençoado
Falando assim nem pareço poetisa
Pois confesso meu nêgo, é o sorriso que me conquista

E o teu, Deus meu
Simplesmente irretocável
Os lábios perfeitos entre o nariz e o queixo
É tudo que eu precisava pra dizer que não te esqueço


Era olhar teu sorriso
E já ficava aparvalhada
Desejando acordar de madrugada
Em teus braços aconchegada

sábado, 29 de março de 2008

Flores


* Pra alguém mais que especial



Já cansei de rimar amor com dor
Mais belo seria rimar com flor

Dor ninguém quer
Que é coisa mais sem graça
Mas flor é coisa linda
Deixa a gente em estado de graça

Que atire a primeira pedra
Quem nunca admirou uma flor
Quem nunca desejou presentear seu benzinho
Com um belo buquê de flor

Quem nunca viu uma flor e a cheirou
Querendo manter o perfume no nariz
Desejando que a vida fosse mais simples
E nos deixasse ser sempre e sempre feliz

Quem nunca quis com força
Acordar com flores na beira da porta
Por cima delas um poeminha
Daquele alguém dizendo que te adora.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Felicidade

Felicidade

Felicidade tão grande
Isso que sinto agora
Há tempos que peço e desejo
Há tempos esse desejo me devora

Eu sairia cantando na chuva
Ficaria bêbada tomando suco de uva
Entraria sem roupa no mar
Daria o pouco que tenho
Só pra poder te beijar

Há tempos não sinto
Felicidade tão grande
Felicidade que meu peito invade
Mesmo com você tão distante

Há tempos e tempos
Venho desejando com paixão
Você enlaçado em meus braços
Tua mão entrelaçando minha mão

Até a lua hoje
Ao meu favor conspira
Mesmo encoberta entre as nuvens
A danada da lua brilha

O que nunca esteve encoberto
É o sentimento que trago por você
Sempre presente em meus dias
Mesmo quando fiz força pra esquecer

Agora não preciso
Rezar pra poder te ter
Sinto-te ao alcance das mãos
Sinto-me perto mesmo longe de você