quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O menino que eu amo

O menino que eu amo tem um brilho de olhos que me faz mais feliz que criança em dia de natal, páscoa, dia das crianças

O menino que eu amo, apesar de não ser mais menino, me faz rir feito tonta, faz o estresse passar, a cabeça esfriar, o peito acalmar.

O menino que eu amo tem voz de promessa que nunca se cumpre e desejo que nunca se esgota

O menino que eu amo é imprevisível, numa hora dedicado, noutra desleixado

O menino que eu amo é homem de negócios, executivo de moto, empresário surfista

O menino que eu amo me faz raivas mil, me faz ensaiar despedidas que nunca se concretizam

O menino que eu amo faz sumir todas as decisões e atitudes que eu  julgava irremediáveis

O menino que eu amo não me faz querer ouvir bossa nova, nem samba-canção. Nossa música é pop, é leve, é light, é fruída tal qual um mascar de chicletes ou uma volta de bicicleta.

O menino que eu amo toma cerveja comigo e diz que quer mudar pra vodka, da vodka quer passar pro whisky. Qualquer dia aparece-me em casa com um galão de gasolina e dois copos.

O menino que eu amo fez o 2009 mais  vívido, mais intenso, mais radiante

Que 2010 chegue e que o menino que eu amo deixe de tanto lero-lero, besteiras bestas e frescuras sem razão.

TE AMO AMOR!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu quero conhecer o mundo com você.

Eu precisava de ti com um desespero lunático

Sentia falta do teu “cheiro de jasmim” em meio a prédios, viadutos, metrôs, museus e parques.

Eu precisava de ti quando tomava aquela Skol bem gelada

Eu precisava de ti no frio de 14º, que pra mim, acostumada a grandes temperaturas, parecia algo abaixo de zero.

Eu precisava te mostrar aquela pizza, aquela massa, aquele café, aquela livraria, mesmo correndo o risco de ouvir: “já conhecia”

Eu precisava andar de mãos dadas em meio a exposições, igrejas, multidões, ruas desconhecidas.

Eu precisava me achar eme perder com você. Eu precisava flanar com meu amor do lado, olhar a quatro olhos. Sentir a quatro mãos.

Isso tudo só quer dizer: eu quero conhecer o mundo com você.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Paixão de primeira.






Se me dissessem há 15 anos atrás que eu beberia de sexta até domingo por causa de um time de futebol, eu não acreditaria. Pra começar há quinze anos atrás eu tinha 9 anos e não dava a mínima pra futebol. O motivo de tanta comemoração? Após 16 anos, o meu glorioso alvinegro de Porangabuçu, Ceará Sporting Club, não participava da divisão de elite do futebol brasileiro. Voltamos pra onde nunca deveríamos ter saído.

A minha paixão começou em uma final de Copa do Brasil, ano de 1994. Grêmio x Ceará no Estádio Olímpico. A minha capital alencarina vestiu-se de preto e branco para a conquista que seria a mais importante da historia do Ceará Sporting Club.

O time perdeu com ajudinhas escusas de um certo Godoi e eu, que vi rostos antes eufóricos se converterem em expressões frustradas, resolvi abraçar as cores do mais querido, o alvinegro famoso de Porangabuçu.

Passei a freqüentar estádio, experimentei a sensação de ser tetra, vibrei com varis vitorias, até ficar sem voz, vi alcançarmos a hegemonia do futebol cearense, mas também vi campanhas sofríveis, dirigentes irresponsáveis e corruptos jogarem nosso clube em situação vexatória.

Amei o preto e o branco com mais força em tais situações. Rumo ao Plácido Aderaldo Castelo ou ao Presidente Vargas, às vezes enrolada em uma bandeira alvinegra, outras trajando apenas o manto, sempre carregava comigo o orgulho de ser Ceará Sporting Club, orgulho de quem nasceu com a vocação pra grandeza, não importando os percalços ou humilhações. Torcida fiel, vibrante, na alegria e na tristeza, na campanha irretocável e na campanha vergonhosa.

Diz o nosso hino que a nossa glória é lutar. E nada poderia traduzir melhor o sentimento e a paixão alvinegra. Nesta Série B sofremos com mais roubos deslavados, gol de mão, lutamos contra doenças de atletas, catapora do Mota e do Rômulo, experimentamos a lanterna da competição e tivemos que contar com o descrédito da imprensa e a inveja de adversários

Havia, porém um homem de fibra, chamado Evandro Leitão, presidente torcedor, que saiu da arquibancada para reestruturar o Ceará. Em campo: Lopes, Adilson, Bonan, Erivelton, Fabricio, Anderson, Fabio Vidal, Boiadeiro, Jorge Henrique, Careca, Heleno, Michel, João Marcos, Geraldo, Mota, Wellington Amorim, Romulo, Sergio Alves, Misael, Preto, Reinaldo, Luisinho. Na borda de campo, o comandante Pc Gusmão.

O Ceará volta a série A após 16 anos. Volta em grande estilo. Enchendo a nação alvinegra de orgulho e euforia. Lágrimas por todos os lados, gritos, lotação no aeroporto na espera dos heróis, carreata gigante, amor em preto e branco. Bandeiras, fogos, hino, musica, emoção. 100 mil pessoas, 200 mil dizem uns. Festa digna de quem é grande por natureza. Ceará Sporting Club.
Obrigada a todos os guerreiros que tornaram este momento possível. Obrigada gandaia alvinegra por ser a torcida mais apaixonada, mais fiel e mais linda deste estado.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O nosso jasmineiro.

Eis que ressurge o jasmineiro. Aquele que ainda não plantamos. Eis que ressurgem os nossos planos: a casa avarandada da praia, o vinho, um reggae, uma vida mochileira por aí.

Eis que ressurge meu olho no teu, teus conselhos, teu cuidado, tua entrega.

Eis que ressurge você em minha cama, teu cheiro no meu travesseiro, tuas ligações noturnas, nosso amor leve e sem amarras, mas unido como poucos o são.

Eis que ressurge a vontade de que dure ad infinitum, de que seja simples e justo, verdadeiro, voluptuoso e sereno.

O jasmineiro, aquele de flores róseas que ficamos de plantar a quatro mãos no corredor de nossa casa, já vive: na minha mente e no meu coração.

p.s: te amo amor.

domingo, 18 de outubro de 2009

Domingo de manhã



A luz entrou sorrateiramente pelas frestas da janela que se esqueceste de fechar por inteiro. Meu sono leve incomodou-se e fez-me despertar. Às cinco da manhã de domingo ninguém merece tal desassossego. Por um instante de pensamento maquiavélico pensei em te acordar com o Highway to Hell do Ac/Dc. Foi só um instante, juro.

Olhei pro jasmineiro rosa do corredor da nossa casa. Aquele que plantamos a quatro mãos. Olhei pros teus olhos que eu amo: fechados, serenos. Olhos que são a paz das minhas horas incertas e a convicção aumentada das minhas horas mais certas. Olhei compassadamente os músculos do teu abdômen no trabalho pacato de inspiração e expiração. Jeitinho certo de respirar, que somente tu foste capaz de me ensinar. Correr foi bem mais fácil e eficiente depois de tudo isso.

Olhei pra folhinha do calendário marcando nosso aniversario de casamento. O da cozinha também exibe o dia 27 circulado em vermelho. E o do escritório marcado feito um X. Impossível que você seja capaz de esquecer tal e qual os cinco anos anteriores. Eu fui contraria. Lembrar assim não tem graça, mas você insistiu: “Não esqueci por querer, tenho memória fraca”. Queria que a memória fosse fraca na hora de esquecer-se das festas xaropes que você sempre me leva. Djs, “balas” e outros acessórios alucinógenos.

Olhei pro chão do quarto e lá estava teu calção jogado, tão difícil tirar e guardar na cômoda, pendurar na cadeira. O chão é sempre mais prático. Também nem me irrito, depois é você quem vai ficar catando peças pelo chão da casa e reclamando que a coluna já começa a doer, que vai ter que ir ao ortopedista, diminuir a intensidade dos exercícios “Pulley Costas”.

Olhei pro despertador e vi que de tanto olhar já se aproximava das 06h05min. Faltava 1 minuto pro relógio tocar, você acordar, tomar banho, engolir o café que eu ainda não fiz, me beijar e ir trabalhar. Em pleno domingo. Ninguém merece mesmo.

Triiiiiiiiiiim

- Bom dia amor, já fez o café?

domingo, 4 de outubro de 2009

Clássico-rei





É clássico-rei. Ainda me lembro do primeiro que vivi. Tinha então 11 anos. Final de campeonato cearense. Ceará e Fortaleza. Disseram-me que em matéria de clássico o melhor era não acreditar em favoritos, tal e qual o celebre, o futebol é uma caixinha de surpresa.
E eu bem lembro, ouvido pregado no radio, morta de vontade de estar no estádio pela primeira vez. Era perigoso diziam, clássico sempre dá confusão. Não é lugar de criança.
Lembro da impaciência infantil, unhas roídas até sangrar. Bola vai, bola vem. Aprendi que clássico é jogo diferenciado, jogador com fome de bola, narrador com o coração na ponta das cordas vocais. Venci, vencemos. Primeiro clássico-rei da minha vida. Ceará campeão do primeiro turno do cearense de 1996.

De lá para cá foram vários. Às vezes estávamos por cima, às vezes por baixo. Passei a ir ao estádio depois de muito implorar a mamãe e a meu tio, que é quem aceitou a missão de me levar aos campos de jogo: Castelão e Presidente Vargas.
Vi o nosso tetra-campeonato, vi títulos do lado de lá. Vi brigas várias, torcedores no chão, espancados, socos, tiros de borracha. Vi o espetáculo das torcidas, os cânticos, os gritos, as comemorações. Vi craques surgirem, vi a eleição de bodes expiatórios, jogadores que seriam marcados até o fim com a pecha de ruins. Vi ídolos, carrascos, baixinhos bons de bola, vi paredões, santos, guerreiros, matadores, pit bulls... Vi tanta coisa e ainda há tanto pra ver.

E até hoje é assim. Há tempos não sentia um frio na barriga tão grande na espera de um clássico. Ê 21 horas que não chegavam nunca. Tempo arrastado, as bandeiras e musicas tilintando ao longe e o relógio empacado. Todos ansiosos, esperando um resultado que sacramentasse o caminho de cada um: tricolores querendo escapar da degola, nós alvinegros, tentando ir avante e para o alto...
Só um pesar nisso tudo: em clássico não ando mais. Não tenho mais a disposição dos tempos de menina, já não dou conta de correr de pedradas e tiro de borracha. Já não acho aquilo aventura e a propósito, não há belo gol ou craque que valha a pena tamanho risco.
E sim, me dói tal constatação, antes de todo clássico-rei vem-me a mente os áureos tempos em que ia ao Castelão torcer pelo Vozão. De pé no meio da multidão, estádio tremendo, coração na mão. Vez por outra eu fecho os olhos e ouço os gritos. É gol.

E a propósito: no de ontem vencemos. Ceará 1x 0 Fortaleza . Ceará avante e para o alto...

domingo, 27 de setembro de 2009

Pequeno diálogo inútil nº 2

- Você não liga pra mim

- Não é verdade

- É sim, vai viajar nas férias sem mim, nem pra me convidar

- Tu não viajaste sem mim?

- A trabalho, você sabe.

- Vai bem dizer que não deu um pulinho nas baladas da Vila Olímpia? Me engana que eu gosto.

- Não fui uma única vez.

- Não mente que é feio.

- Não desvia, você não liga pra mim.

- Que coisa ahn. Você não tinha um cliente às 3h da tarde? Já são duas 2h e 50m

- Tá vendo? Quer se livrar de mim.

- Só to pensando no nosso futuro. Vai trabalhar pra pagar a viagem do reveillon que é melhor

- Pra onde vamos?

- Não sei. Praiazinha. Jeri? Flexeiras? Mundaú? Quem sabe Natal?

- Ow amor, pensei que não quisesse mais viajar comigo.

- Pára de drama homem, até parece a mulher da relação.

- Como você é sutil meu bem...

domingo, 20 de setembro de 2009

O resultado.




Ele entrou de sopetão, aos gritos:

- Passei, passei.

- Tá louco pirralho?

- Larga de ser nojenta uma vez Bel. Eu passei. Passei no vestibular.

Aquilo pra mim não era surpresa. O Caio era inteligente. Em todas as aulas que tivemos, ele me surpreendia. Era melhor aluno que eu. Disciplinado, mas não bitolado. Reservava sempre tempo para fazermos coisas inúteis como ver filme, comer pipoca, navegar na net ou simplesmente conversar besteira. Eu estava orgulhosa. Tinha contribuído com aquele momento de êxtase.

- Obrigada, obrigada por tudo.

Ele me agarrou, me levantou, me girou no ar, me colocou de volta no chão, olhou no fundo dos olhos e me beijou. Tudo isso antes que eu pudesse reclamar ou contestar. Durou menos de um minuto até nossos lábios se encontrarem. Demorou uma eternidade pra se afastarem.

Eu queria aquele beijo há tempos. Ele sabia. Castigava-me fazendo esperar por aquele momento. Certamente pensava que eu acabaria pedindo ou cantando ele. Nunca, fiquei na minha, esperando, a moda antiga como eu sou e admito.

Acabamos no chão. O quarto era em cima, escadas e aquele alvoroço todo não seria uma boa combinação. Transamos no chão da sala, numa tarde de quarta, as três da tarde, porta entreaberta. Ele parecia querer-me desde o inicio dos tempos, tamanha era a vontade com a qual me abraçava, cheirava, roçava a tentativa de barba em meus seios. Parecia querer morar em mim, numa simbiose inacabável, que se arrastasse ao longo do tempo.

Só quando tudo havia terminado é que eu havia percebido o absurdo da situação. A porta totalmente aberta. Se mamãe chegasse, se o Gui chegasse, eu tava perdida.

O pensamento não durou um segundo. Ele me trouxe de volta:

- Bel, queria que você soubesse que eu to apaixonado. E adorei hoje.
- Eu também Caio, adorei.

Só o que me incomodava era o fato de saber que eu não deixaria o Gui, porque eu não deixaria.

Continua...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Na espera.

Este poema é a prova viva da vontade frustrada, do desejo rolando escada abaixo. A encarnação do que deveria ter sido e não foi. Eu esperava um feriado reparador e veio um... deixa pra lá. Ficou o poema, a leveza e esperança do poema.

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Amor,
Prepare-se
Amarre a rede
Em breve a sede desaparecerá


Amor,
Aguarde
Tenha fe e paciência
Um pouco de persistência também ajudará


Amor, relaxe
Não fique bravo
Nem faça alarde


Amor, sossegue
Não se irrite
Não me maltrate


Amor
Tudo culpa do cansaço
Apertou o nó, fechou o laço


Amor vem brisa
Da praia, do mato
O melhor da vida



Amor vem mar
Duna e espuma
Noite de luar


Amor vem marcha
Tambor e independência
Mas o melhor de tudo
É o sufocar da ausência

Amor,
já que chega
Pra matar essa saudade
Acabar essa tristeza

sábado, 15 de agosto de 2009

Termodinâmica.




- De que maneira pode ser enunciado o 2º principio da termodinâmica?

-...

- Caio, ta me ouvindo?

- Han, quê?

- Olha moleque, se for pra me zoar eu tenho mais o que fazer.

- Não to te zoando. Quando uma parte de um sistema fechado interage com outra parte, a energia tende a dividir- se por igual até que o sistema alcance o equilíbrio térmico.

- Ótimo, agora resolve as questões.

- Só isso?

- Só isso o que? Você quer que eu resolva por você. Resolva e se tiver duvidas me chame.

É, mamãe disse: " Se você quiser a Bel pode te ajudar com o vestibular Caio". E eu estava ali agora, sábado à tarde enfiada no caldeirão da termodinâmica.

- Você fica linda concentrada.

- Que?

-Você fica linda concentrada, seria, bravinha. Mas só uma vez eu gostaria de te ver sorrindo.

- Tá me cantando pivete?

- Não estou te cantando. Elogiar é permitido no seu reino de ditadura, princesa?

- Se é reino, deveria me chamar de rainha.

- Já te disseram que você é pretensiosa e pedante?

- Varias vezes. O Gui, meu namorado diz sempre.

- Namora há quanto tempo?

- Há mais tempo do que você parou de jogar vídeo-game.

- Há um dia então. Foi quando parei de jogar vídeo-game.

- Já te disseram que você é retardado.

- É o que minha ex dizia. (risos)

- É, não costumo errar nos meus conceitos.

- Só quando pensou que eu era um pitt boy marrentinho.

- Como sabe disso?

- E ainda confessa na minha cara. Não é muito inteligente fazer pré-julgamentos. Mas lhe perdôo, pois pensei que você fosse uma patricinha metida. Tiro a parte da patricinha, mas quanto a ser metida, não posso dizer o mesmo.

- Digo mesmo, não é Pitt boy, mas marrentinho, imaturo, infantil.

- E o que faz aqui perdendo tempo com um infante?

- Sei o que é vestibular, queria ter alguém que pudesse ter me ajudado, excetuando professores.

- E o Gui?

- Perdido demais entre processos, tribunais, julgamentos...

- Sei.

- Pára de conversa fiada e volta pra termodinâmica.

- Não. Vamo assistir tevê e comer pipoca.

- Mal começou a estudar e já quer parar. Desse jeito não passe nem na primeira fase.

- To estudando desde 8 da manhã. São quatro da tarde, meu cérebro ta fervendo no caldeirão da termodinâmica. E agora vou relaxar. Ou melhor, nós vamos. Ah, desculpa, acho que a rainha nervosinha não sabe o que é isso.

- Atrevido.

[ Continua]

sábado, 8 de agosto de 2009

O jantar





Troquei cumprimentos rápidos e polidos com os novos vizinhos e subi ligeiro. Já que não havia jeito, fui me trocar. Estava com vontade de esganar mamãe. Era bem o estilo dela, não dei ouvidos quando ela disse: ” vamos lá visitar os vizinhos”. Então ela pega e joga os vizinhos dentro de casa na surdina. Só pra me afrontar.

Tomei banho, vesti saia jeans e camiseta, desci. Embaixo estava o Caio cheio de conversê com mamãe, parecia da família já. Como ele era metido. Só faltava abrir a geladeira sem pedir licença, abrir uma cerveja e sentar com os pés em cima da mesa. Não duvidaria se fizesse isso. Garoto exibido, o típico adolescente pavão. Mamãe ria e adorava tudo que ele dizia. Não entendi nada, ela sempre é chata, inclusive com o Gui.

Eu, tudo que eu queria é que aquele tormento passasse logo. O que eu sentia vendo o Caio bem ali? Desconforto. Uma coisa era ser a neurótica e ficar vigiando os passos do garoto. Outra coisa bem diferente era tê-lo bem ali, olhando pra mim, me provocando, chamando atenção. Eu não queria e não podia dar bandeira.

- E você Isabel, ansiosa pelo inicio das aulas da faculdade?

A pergunta de Caio me tirou do estado absorto em que eu estava. Meu cérebro não conseguia processar nada, foi a pergunta dele que me tirou do transe.

- É, to sim.

- Eu me preparo pra medicina desde o pré-escolar. Rsrs. Não é assim que dizem? Que aspirante a medico tem que estudar desde pirralho. Venho de uma família de médicos e quero me especializar em neurologia. Entender os caminhos do cérebro. E, você?

- Cardiologia.

- Hum, quer entender os caminhos do coração.

Que trocadilho infame, digno de um adolescente estúpido.

- Bel, Caio tava me contando da coleção dos Beatles que ele tem. Vai lá um dia ouvir. A Bel adora Beatles, Caio.

Eu realmente não entendia mamãe, parecia querer me doar numa bandeja pro vizinho novo, será que tinha reparado que eu tava afim?

E ele: medicina, Beatles. Eu o imaginava num baile funk ou micareta dançando do lado de uma popozuda. Estava chocada.

Assim transcorreu o jantar, entre amenidades e meus choques: o garoto era bom, gostosinho e bom, inteligente, tocava gaita. Você conhece alguém que toque gaita? Alguém com algo de alma blues?

foi o nosso primeiro contato e o moleque de cara derrubou uma das minhas justificativas pra não me permitir gostar dele. Menos inteligente que eu ele podia até ser, porque garotos são todos tolos, mas estava longe de ser pit boy descerebrado. Restavam duas justificativas: era pirralho e tinha o Gui. Até quando se sustentariam? Não sei.

[Continua]

sábado, 1 de agosto de 2009

Caio.





Há muito tempo eu reparava nele. Morava do outro lado da rua. Já sabia todos os seus horários de cor. Hora de vir da escola, hora de ir pro inglês, hora de voltar do jiu-jitsu. É, ele era malhadinho, quase estilo pit boy... Quem nunca sentiu atração só pela beleza que atire a primeira pedra, pode atirar um caminhão de pedras, pois sei que isto é bem pouco provável.

Nós seres humanos nos deixamos enfeitiçar mais pelos sentidos do que pela razão. Mente quem diz o contrario. Tá, caras inteligentes sempre foram o meu gênero, mas o Caio fazia todas as minhas teorias e pretensa maturidade caírem por terra. Era ver ele que tudo se desmanchava, escorria pela mão que nem farinha.

Eu tinha 18 então, prestes a entrar na faculdade, ele tinha 16. Era o que minha mãe dizia. Ele tinha mudado há pouco e as nossas mães já eram amigas. A minha vivia dizendo que eu devia ir até lá conversar com o Caio, mas eu relutava. Numero 1: ele era mais pirralho que eu. Numero 2: menos inteligente que eu. Numero 3: eu namorava o Gui.

Guilherme Soares de Paiva e Melo. Estudante de Direito, 25 anos, quase formado, de emprego arranjado, culto, gostosinho. O tipo de cara que todas as mães desejam pra genro, meu namorado há três anos. Sintonia, mas o namoro tava assim, assim chocho, murcho. Caminhando por caminhar. Mas eu como boa menina que se preze, mantinha tudo até onde desse, achava que era apenas fase, passaria, afinal não se pode exigir paixão e tesão 24 horas por dia, 30 dias por mês, 365 dias por ano. Na verdade acho que não queria dar o braço a torcer, não queria admitir que eu achava o namorado perfeito, cobiçado por todas
minhas amigas, um pé no saco...

E assim eu continuei escasquetada com o Caio, observando de longe. Dia desses o ápice do meu dia modorrento de férias foi ver ele de sunga tentando quebrar o recorde pessoal de natação. Só podia ser isso, ele nadava feito louco pra lá e pra cá, consultando o relógio, esmurrando a água, dizendo palavrão. Fiquei uma boa meia hora nesta brincadeira. Até que ele pegou a toalha se enxugou e foi pra dentro de casa.

Na noite do mesmo dia estava eu largada tipo mendiga em casa, roupa furada, despenteada a lá leãozinho quando a campainha toca. Era Caio, sua mãe e o pai. Ora, adivinhem, mamãe convidara os novos vizinhos pra jantar e nem avisara. E eu vendo Caio com o riso estampado no rosto, imaginava se aquilo era um sorriso de cumprimento ou de deboche pelos meus trajes e cabelo. Ow mãezinha querida...

[Continua]

domingo, 26 de julho de 2009

Soneto de aniversario.





Bom, eu pensei muito no que postar aqui. Estou com a cabeça fervilhante depois de um fim de semana lindo. Fim de semana de celebração, de olho no olho, de entrega, de amizade, respeito, desejo e amor. Seis meses que passaram voando e eu nunca fui tão longe, tão fundo. Sempre fui arredia a navegar novos mares, era preciso antes conhecer-lhe por inteiro para então adentrar. Neste fui nadando a cegas e gostei. Aos poucos fui tirando as vendas e gostei mais ainda.


E já que é tempo do novo, propus-me a fazer um soneto. Ficou mal-ajambrado embora tenha destinado-lhe um bocado de tempo. Há que se dar um desconto por ser o primeiro. Empenharei-me mais nos proximos que virão, pois gostei de quebrar cabeça em vez de deixar fluir como sempre faço. Eis aqui

***********

Perdi-me então entre abraços

Da antiga solidão fiz troça

Entre as falésias, fui em teu compasso

Com a perfeição tua não há quem possa


E ao admirar aquele mar pleno

As dunas, a natureza em profusão.

Vi tudo quanto é leve e sereno

Nós apenas em meio à multidão


Era comemoração silenciosa e doce

Tão mais discreta, antes não houve

Amiúde como tudo que é bom deve ser


Não havia fogos, ou velas

Apenas gestos doces, palavras singelas

Adornadas pelo sol ao entardecer




domingo, 19 de julho de 2009

Quando ele chegar.

Quando ele chegar, vou dizer-lhe um monte. Que não aceito mais a indiferença, o futebol do domingo, a cerveja esquecida em cima da mesa do centro, a toalha jogada em cima da cama. Quando ele chegar vou dizer que não suporto a barba mal feita, o jeito dele fingir que ouve enquanto lê o jornal. Quando ele chegar, vou resistir aos apelidinhos toscos/carinhosos, vou fazer a cara mais dura e elevar a ironia a patamares nunca antes explorados.

Quando ele chegar e dizer que eu estou encantadoramente linda, vou fazer pouco caso, cara de desprezo e dizer que isto não importa. Quando ele chegar vou pedir pra bater a porta, sentar, e me ouvir. Não vou oferecer whisky, nem licor, nem cerveja, nem água da bica, vai engolir tudo a seco, nem sei se será capaz, acho que sem ajudas liquidas engasgará, que se engasgue.

Tão logo chegue, falarei tudo que tenho vontade. Terminarei e mandar-lhe-ei embora da minha casa, da minha vida. Nem escutarei o que tem a dizer, porque já sei a opera bufa decorada, de cor e salteada, não mais me engana o sujeito matreiro, raposa danada, riso de santo, lobo em pele de cordeiro, traiçoeiro.

Ouço já os passos na escada, vai entrar em instantes, vai tentar se impor com sua beleza ultrajante, seu riso delirante, sua elegância embriagante. Vai tentar me levar na conversa, pedir perdão, massagear a ferida, me chamará de sua querida...

- Oi querida.
Não disse?
Meteu a mão na porta, entrou e já foi chamando minha querida.
- Meu bem, vamos parar com isso. Não tem sentido, eu te amo.
O descarado nem me deixou falar primeiro, estratégia água abaixo.
- Sem você não vivo. Posso ser desligado, mas não indiferente. Não quero você da minha vida ausente, pois não há outra pessoa que a mim acrescente.
Lá vem ele com os versos baratos. Daqui há pouco pega um violão e faz em dois tempos uma canção.
- Você é linda, alias este vestido ressaltou ainda mais a tua silhueta. Deixa eu sentir teu cheiro de novo, vamos parar de tolices. Temos que ficar juntos, acredite.
Já sinto a respiração dele no pescoço, a mão correndo o zíper. Enquanto isso tento ainda resgatar algo do discurso milimetricamnte desenhado, ensaiado e repetido mentalmente. Balela, já estamos no quarto, ele ao pé do ouvido dizendo que me ama, se instalando outra vez na minha vida, na minha cama

sábado, 11 de julho de 2009

A volta




Fazia dois anos que não a via. Desde que ela fora embora pra São Paulo com a família tudo que tínhamos era a internet, as fotos trocadas, os telefonemas fortuitos. Eu sentia uma saudade absurda dela.

Eu estava com 17 anos, momento vestibular prestes a entrar em minha vida.por enquanto era farra, festa, música.
Catarina tinha 16 e era de novo a menina doce, tímida e discreta que me cativara desde a infância. Tinha perdido a rebeldia dos 14 anos, esquecera o cigarro e o riso desbocado. Ainda bem, eu pensava. Tinha inventado de arrumar um namorado. Vê se pode? Eu fiquei furioso mas disse meio sem jeito pelo telefone: “ Ah, que bacana, traz ele quando vier”. Porque eu disse aquilo? A asneira mais absurda que um ciumento podia dizer. Eu queria mais é que este sujeito sumisse sem deixar rastros, que fosse abduzido, seqüestrado e mandado pro Azerbaijão. E ela: “Ah, ele vai sim, pode deixar”.
Eu esperava, é óbvio, que o namoro acabasse antes das férias de fim de ano chegar. Estava certo que ela viria passar férias aqui em Recife com a família. Eu mal podia esperar. Planejava roteiros, fazia novas composições: eu deixara o violão de lado e começava a mostrar bastante intimidade com a guitarra e a gaita. Ia pelo lado blues, o que deixava meu pai entusiasmado e risonho feito tonto.

Foram meses de espera incontida. Da confirmação da viagem até a data marcada foram sete longos meses. E eu riscando dia após dia no calendário, coisa mais estúpida, coisa mais apaixonada. E pra minha felicidade geral, o namoro terminou dois meses antes da viagem. Catarina ficou arrasada e eu e a consolei com um riso escondido dentro do peito.

Chegariam numa tarde de dezembro. Dia dois, uma sexta. Catarina me avisara uma semana antes: “Nem precisa se incomodar de ir ao Aeroporto. Tio Carlos vai buscar a gente”. Eu iria assim mesmo.

Tomei banho, escovei os dentes, peguei as flores e fui ao Aeroporto. No ônibus lotado, haja cuidado pra não desmontar o buque. Cheguei lá e não vi o tio Carlos. Vôo das duas. Êta duas e meia, três horas. O vôo tava atrasado, ê novidade. O vôo chegou, de olho grudado no portão de desembarque. E nada do irresponsável do tio Carlos. Pego o celular e ligo pra ele.

- Ow seu Carlos. É o Tinho. O vôo da Catarina já chegou. O senhor não vem não?

- Ow Tinho, ela não chega hoje não. Eles remarcaram o vôo, Catarina fez as pazes com o namorado. Ele vai vir também , mas agora só na semana que vem.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sem respeito, pevertido, ora bolas,atrevido!




Um amor assim despudorado
Levado
Agoniado

Um amor assim tresloucado
Ousado
Desembestado

Um amor assim delirante
Lancinante
Exaltante

Um amor assim sem maneiras
Sem porteiras
Sem estribeiras

Um amor que não vê limites
Do corpo
Do quarto

Um amor que tremula pernas
Que acelera o peito
Amor sem jeito
Diriam os tolos: sem respeito!


Um amor em frêmito
Em gemidos
Em gritos

Um amor em chamas
No chão
Na cama


Amor aflito
Nunca contido
Diriam os tontos: pevertido!

Amor às claras
Ou no escuro
Sem frescura
Amor puro
No duro.

Amor inteiro
A qualquer hora
Diriam os bestas: ora bolas.

Amor assim
De tantos predicados e adjetivos
Diriam os comuns: atrevido!

domingo, 28 de junho de 2009

John Mayer no Brasil.



Sem palavras. Essa é uma postagem bem teenage, coisa de fã mesmo. Parabéns a todos que acreditaram no Brazilian Mayer day e twittaram sem parar. Yes, ele vem. Eu vou ouvir belief ao vivo, se deus quiser. Arrepio

domingo, 21 de junho de 2009

Amo




Amo
Tua barba roçando
Teu cheiro chegando
Teu riso estrondando

Amo
Teu jeito sereno
Teu corpo moreno
Teu estilo ameno

Amo
Teus olhos miúdos
Teu jeito confuso
Teus sonhos graúdos

Amo
Tua cabecinha de vento
Teu jeito sem lenço e documento
E tua pose de ciumento

Amo
Tua bermuda de surf
Tua musica reggae
Teu jeito de dizer
Leve, meu bem me leve

Amo
Tua existência
Tua doce paciência
Tua eterna aquiescência

Amo
Sem grandes explicações
Sem teorias ou dissertações
Amo-te apenas.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Carol.



Ela me ouviu desde antes de nascer. Não que tivesse outra opção, já que eu alugava os ouvidos da mãe dela e a pobrezinha não tinha muito que fazer lá dentro da barriga. Sabe de cada historia essa Carol. Cada lamentação e arrependimento, cada pequena vitoria e as grandes também.

No inicio eu achava ela bem feinha. Sabe como é, todo recém-nascido é igual. Cara de joelho e todo o mais.

Mas ela me ganhou e corre todo dia pra me abraçar quando desço do ônibus voltando do trabalho. Ela é generosa, eu acabo minha pipoca e ela me oferece a dela. Ela ri das caretas idiotas que eu faço exclusivamente pra ela rir mesmo.

Ela bagunça meu quarto, abre os armários e joga minha roupa no chão, joga minha roupa de cama no chão, destrói meus batons. Eu brigo com ela, ela chora, dá uma volta, vem, me abraça e me desmancha.

Ela dança danças estranhas comigo, roda até ficar tonta, bagunça o cabelo todo e até já gosta de rock e MPB.

Ela colore minhas noites. Faz a vida mais leve. Tem a barriguinha mais sexy do Brasil e sorriso mais sapeca. Ela é meu caso de amor preferido. Ela é a minha Carol.