segunda-feira, 28 de julho de 2008

Nostalgia

Não é sinônimo de alegria
E também não quer dizer tristeza
Como em quase tudo na vida
Traz agonia mas também traz beleza

Sinto um cheiro invadir as narinas
Ouço aquela canção
Leio versos de poesia
E então vem aquela recordação

A lembrança nem sempre agrada
As vezes dá vontade de afastar
Mas não é um fechar de olhos
Que é capaz da lembrança expulsar

É olhar o papel do bombom
Pra lembrar daquele desejo
Ver pelo chão a tampa do batom
Do dia do mais doce beijo

Nas gavetas trancafiadas
Anotações e rabiscos
Frases e bobas declarações
E aquele dizer de " um dia te conquisto"

Pra uns é apego ao passado
De quem não vive o dia-a-dia
Coisa de quem foge do presente
Prefiro chamar de nostalgia

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Meu bem, perdão pelo rompante

[Pra entender melhor, leiam o post de baixo]

Escuta querido, foi tudo um rompante, um delírio ultrajante, pois pouco seria chamar de delirante. Fui vilã e cruel, ri da tua bondade e de toda tua doce felicidade. É tudo culpa da minha ironia, da minha maldade, da bipolaridade e todas as outras ades.

Você é tão bom, a tampa da minha panela, a alma mais que singela, a flor mais bela da primavera.

O Passarim voltou meu bem, eu sou tão inconstante, mas uma certeza eu tenho, não quero você distante. Vem cá pertinho de mim, deixa eu te mostrar a flor que colhi, o branco jasmim. Quero te dar não o último beijo, mais descobrir teus mais profundos desejos. Meu bem não há como duvidar, é eterno sim, por mais que contra isso eu tente lutar.

A tua alegria completa minha tristeza e o teu estilo largado acalma meu jeito enjoado. Tua doçura se mistura com a minha amargura e pronto. Mistura perfeita. Nem doce demais, nem amargo demais. Só deixa vez por outra eu acrescentar um pouco mais. Prefiro sempre os meio-amargos.

Rompante de crueldade

Olha, não te quero mais. Some e vai embora. Ta aqui a porta aberta. Pega teus risos rasgados, tua alegria espontânea, tua felicidade delirante e pode ir embora. Mas vai mesmo. Longe, bem longe. Quero tu de mim bem distante, além da linha do horizonte, além do além do arco-íris...

Olha ainda te quero bem, vê se não esquece. É uma cara bacana, até é legal, gosta de música boa e coisa tal. É romântico e etecetera, cheguei a pensar que era a metade, daquelas que dizem completa.

É lindão, uma coisa de louco, já me deu cada sufoco, mas hoje acho tudo isso pouco. Olha não me peça pra explicar, as coisas são assim mesmo, não tem como duvidar.

Ontem sim e hoje não. Uns chamam de armadilhas, eu chamo artimanhas do coração. Ta legal, eu disse que ia ser eterno, pelo menos veja pelo lado bom, não se pode dizer que não foi terno, sincero e honesto. Ligeiro talvez, mas cada sentimento tem sua vez.

O sentimento voou que nem o Passarim do Jobim, sem estar nem aí pra mim e eu nada pude fazer, só o que posso dizer é já era. Vai em paz e com Deus. E não me peça pra beijar os lábios teus pela última vez que já não agüento mais os teus clichês...


[Continua no próximo post...]

sábado, 5 de julho de 2008

O atacante

Desde cedo sonhara com aquela vida. Sentado na cama podia ver a velha bola que ganhara quando moleque, a coleção de miniatura de jogadores, as medalhas e fotos que lembravam a brilhante carreira como jogador profissional.

Dedicara-se ao futebol como nada mais em sua vida. Não era apenas a sua profissão. Não era apenas a sua alegria. Era a sua vida. Era entrar em campo e esquecia de todo o resto do mundo. A ultima coisa do mundo lá fora que ele escutava era o barulho da torcida. Sentia o arrepio, a emoção, a responsabilidade correndo nas veias. Sentia-se importante, o homem mais importante do mundo, já que durante noventa minutos o mundo dele eram aquelas quatro linhas.

Quando a bola rolava parecia entrar em transe. Parecia que só enxergava o gol. Era a partida terminar e ele não se lembrava mais de nada. Dos gritos, das trombadas, da vibração, da comemoração. Só lembrava dos gols, da bola entrando e morrendo na rede. Não lembrava, nem via nada mais. A sensação que tinha era de ver um tanto de vultos correndo pra lá e pra cá. A única imagem nítida a sua frente era a bola. Talvez por isso tivesse tanto carinho por ela.

Ganhara assim os mais importantes campeonatos e prêmios. Tinha uma fortuna invejável, uma vida confortável e a fama o agradava. Não mais que o futebol, mas gostava de se sentir reconhecido.

Tudo andava da forma como ele sempre quisera. Até que um zagueirão de um timeco de Deus sabe onde achou que suas pernas eram autorama. Carrinho violento. Lesão no joelho, afastamento do time. Desde então tudo declinara.

Toda vez que pensava ter se recuperado, lesionava-se de novo e de novo. Foram dois anos assim. Aos 32, já velho pro futebol, e sem engrenar uma seqüência de bons jogos, acabou esquecido. Nenhum time importante o queria e ele se recusava a jogar em times pequenos. Fora rejeitado até pela roda de amigos que o considerava como líder. Apenas diziam: “não, amanhã não vai ter nada não.” Depois sempre descobria que a farra havia sido das grandes. Ele é que não podia ir mais. Não preenchia mais os requisitos necessários pra estar naquela roda.

A vida agora era outra. Vivia do dinheiro acumulado durante a carreira. Era suficiente, mas pra ele de nada servia. A vida sem futebol era sem cor, sem gosto, sem cheiro. Precisava sentir o peito bater forte antes de entrar em campo. Era preciso ouvir outra vez o colorido e o grito das organizadas. Queria outra vez os dribles, os holofotes e os repórteres em torno dele. Necessitava ser campeão outra vez.

Recorrera a amigos, dirigentes, a repórteres. As portas todas estavam trancadas pra ele. Até o São Lourenço virara as costas pro seu grande ex-ídolo. Tantos gols e títulos ele dera ao clube. Ainda lembra do presidente que ele tanto admirara dizendo:

- Não se preocupe, a gente vai dar um jeito nisso. Você vai voltar a ser o que era.

Um ano havia se passado e o presidente não mexera um único dedo. E agora era aquilo. Festa de confraternização. Na casa do diretor. Ele fora convidado e foi.
Estavam todos lá. Todos aqueles que haviam prometido ajudar. Agora eram aqueles risinhos e tapinhas nas costas. Comentavam:

- Esse destruía todo mundo. Atacante igual não vai haver. O grande nome do São Lourenço.

Aquilo nem lhe enojava ou nada. Ouvia só um zumbido ao longe. Sentia indiferença. Como se todos aqueles fossem desconhecidos. Só pensavam nos martines, nos carros importados, nas farras, nos contratos exorbitantes. Ele mesmo fora assim, até o zagueirão achar que as suas pernas eram parquinho de diversão.

Ele apenas sacou a pistola e disparou a esmo. Nem mirava e nem escolhia em quem ia atirar. Como em dia de jogo, não enxergava nada, via penas uns vultos se movimentando, ouvia apenas os gritos desesperados. E concentrava-se não mais na bola, mas no gatilho. Naquela sala só o apertar do gatilho interessava. Só parava pra trocar o pente da arma, assim como vez por outra era necessário trocar de chuteira pra calibrar o chute. Matou todos, devia haver umas cinqüenta pessoas. Só parou de atirar quando os gritos cessaram. Olhou pro chão e finalmente viu sangue e corpos inertes. Era como se a partida tivesse terminado, a sensação era a mesma. Ele
estava exausto, mas aliviado.

Quando saia da casa do presidente pensou que o melhor era ir pra uma cidadezinha do interior perdida no meio do nada. Longe dali montaria uma escolinha de futebol. Ia ensinar aos moleques que futebol não era só fazer gol, mas também ter cuidado com as raposas matreiras que sempre surgem pelo caminho. É é claro, com os zagueirões também.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Eu te aconselho a...

Desista de entender
Apenas siga adiante
Eu tô bem aui
Olhando por você

Não maldiga o mundo
Nenhum sofrimento é tão profundo
Não existe o inferno
Por mais frio que seja o inverno

A selva já não me assusta
Ando nela com desenvoltura
Já não finjo ser gente grande
O sufoco me ensinou a ser gigante

Não há nada que tire a minha paz
Não deixem que tirem a sua
Leva a vida no sossego
O mal eternamente não dura

Não ame quem não te ama
Bota a bola pra correr
Valoriza a liberdade
O bom da vida é viver

Abre um vinho
E ve a lua
Come peixe
E fica na tua

Lê um livro
Beija na boca
Não desperdiça tempo
Não leve a vida á toa

Agora é que tudo começa
Mesmo sem existir meio e fim
A verdade já não interessa
pelo menos não pra mim

Corre pra não cansar
Para pra não chegar
Entra no mar pra não suar
Volta pra casa pra se encontrar

Vadia até não poder mais
Não perde tempo olhando pra trás
Não existe amigo da onça
Só gente que se faz de sonsa

Não ligue pras coisas pequenas
é preciso grandeza de alma
Não diga que existem problemas
e nunca perca sua calma

A vida é boa demais
Mas é preciso nisto crer
Não existe felicidade pra sempre
Pensando assim não tem como sofrer