terça-feira, 28 de abril de 2009

Carta ao amor viajante



Meu bem, eis que marca o relógio dez e trinta e seis da noite. A esta hora já cumpri o ritual de todas as noites. Banho tomado, hidratante passado, celular do lado, esperando você ligar. É quando me lembro amor meu que estás longe e por força do bendito interurbano não irá me ligar. Vida de liso é um horror. Perdão querido.

Aliás perdão é uma ova, tinhas que me deixar assim tão só justo na mais frias das noites de Fortaleza. Um abraço teu agora valeria mais que dez mil doses de Johnny Walker, além é claro de não aumentar a azia que anda a todo vapor.

Querido que faltas tu faz, partiste há dois dias e fico aqui contando os segundos pra tua volta. Saudade da nossa segunda-feira do bem. Deus é bondoso comigo, me deu um namorado que só pode me ver três vezes na semana, assim não me sufoca, ops... Mas voltando, sempre te tenho nos finais de semana, que são uma benção, e no pior dia da semana que é pra me consolar. A segunda-feira nunca mais foi a mesma. E hoje está sendo. Vou ter que me contentar de ver a plaquinha subir no MSN,torcer pra este computador que tu vai acessar, sabe lá de qual hotel beira de estrada, ter uma web cam pra eu ver teus olhinhos miúdos.

Sem mais, êta plaquinha que não sobe.

sábado, 18 de abril de 2009

E ainda dizes que não escrevo nada pra ti, amor meu

Eu te conheci numa beira de praia em um domingo de dezembro e descobri que te amava numa segunda-feira de dezembro, em meio a um reescalonamento manual e chato de dívidas.

Lá estava eu entre juros de mora, multas contratuais e atualização de valores quando tua imagem feito vertigem se pôs a caraminholar no meu pouco juízo. Lesei por uns cinco minutos, mãos batendo no teclando, passeando entre aplicativos, sem fazer nada efetivamente. Devo ter soltado um ou dois sorrisos ao cliente que decerto pensou que eu lhe concederia um abatimento no valor da dívida, tadinho.

O fato é que eu que escrevo tanto não encontro nada que chegue perto do que tua presença causa em mim. Bastaria te dizer amor que tu deixas-me leve sempre, mesmo quando eu insisto em carregar o mundo nos ombros, decepções no estômago e lagrimas nos olhos. Teu silencio me deixa num estado de sossego que nunca tinha experimentado, teus olhos quase me cegam de tanta paz, tua voz é o timbre perfeito mesmo quando diz o que não quero ouvir.

És meu amigo, conquistou em pouco tempo isso: me fazendo miojo, brigadeiro de panela, me fazendo rir, conseguindo fazer com que eu suba numa moto. És meu amigo quando eu piro, insisto que tudo está errado, que as pessoas são podres, a humanidade é falsa, os valores se perderam e não existe mais musica de boa qualidade nos novos tempos. Você me faz ver o que existe de bom no mundo, me faz relevar, mas só as vezes, que eu sei o que merece e não merece ser relativizado.

E eu não relativizo muita coisa, inclusive teu ciúmes infundado, teus atrasos constantes, não consigo relevar a falta que tu me faz. Não consigo relevar a vontade de te ter sempre perto, a vontade de ter sempre teu cheiro na minha cama, você em minha casa.

Você me faz perder o medo, a discrição, me expõe e eu te amo.

Você me faz até citar quem não gosto: “ O teu amor me cura de uma loucura qualquer”.

domingo, 5 de abril de 2009

Pretensão de eternidade.

Pretensão de eternidade. Eis algo que persegue o homem tais e quais outros grandes males: vaidade em excesso, ambição. Desculpe se coloco a eternidade como defeito. É uma opinião minha, é meu ponto de vista.

Sempre ri dos filmes em que pessoas buscavam a fonte da juventude, o segredo da imortalidade, as alquimias que prometiam vida longa a perder de vista. Parecia-me patético querer esticar a vida, querer ultrapassar gerações, viver tal e qual Matusalém, propagar-se além dos tempos. Não, eu não queria viver 2000 anos e ver o que aconteceria em 4009. Não dou conta das barbáries que vejo hoje e tampouco acredito que poderia viver e ver em 4009 aquilo que me alegra hoje.

Nunca tive pretensão a um amor eterno, a um sentimento eterno e grandioso como este. Quem acha bonito e consegue tem meus parabéns, mas eu sempre preferi viver um dia de cada vez, um passo de cada vez, ciente da minha instabilidade e alteração de humor, do meu egoísmo e mania de perfeição.

Quando em minha mente construía a idéia de ter um filho, não passava-me pela cabeça a idéia de alguém que perpetuaria minha espécie ao longo de gerações, o que menos me importava era esta idéia de ver meu sangue passado a diante. Até este meu desejo era um tanto egoísta, queria ter um filho para brincar com ele, nadar com ele, levá-lo a um parque num domingo preguiçoso de sol, queria ralhar com ele, ser o melhor e pior exemplo pra ele, queria faze-lo ouvir Bossa nova e ler Bukowski aos 13 anos.

Quando pensava em uma arvore, mas uma vez não me preocupava que ela servisse de sombra e desse frutos além dos tempos. Eu pensava em qual me daria mais rapidamente os frutos mais saborosos, qual não estragaria minha edificação com as suas raízes avassaladoras.

Mas eu falhei quando pensei na idéia de um livro. Este me tornou humana. E uma vez na vida eu sucumbi ao desejo e pretensão da eternidade. De tanto fazer troça desta vontade louca e absurda tornei-me sua escrava. Não, não quero um Best-seller, quero um personagem que se perpetue ao longo dos tempos, que seja imponente e inesquecível, destemido e frágil ao mesmo tempo, quero um personagem que não seja atrelado a mim, antes que seja mais importante que eu. Sim, eu quero um personagem eterno.