domingo, 4 de outubro de 2009

Clássico-rei





É clássico-rei. Ainda me lembro do primeiro que vivi. Tinha então 11 anos. Final de campeonato cearense. Ceará e Fortaleza. Disseram-me que em matéria de clássico o melhor era não acreditar em favoritos, tal e qual o celebre, o futebol é uma caixinha de surpresa.
E eu bem lembro, ouvido pregado no radio, morta de vontade de estar no estádio pela primeira vez. Era perigoso diziam, clássico sempre dá confusão. Não é lugar de criança.
Lembro da impaciência infantil, unhas roídas até sangrar. Bola vai, bola vem. Aprendi que clássico é jogo diferenciado, jogador com fome de bola, narrador com o coração na ponta das cordas vocais. Venci, vencemos. Primeiro clássico-rei da minha vida. Ceará campeão do primeiro turno do cearense de 1996.

De lá para cá foram vários. Às vezes estávamos por cima, às vezes por baixo. Passei a ir ao estádio depois de muito implorar a mamãe e a meu tio, que é quem aceitou a missão de me levar aos campos de jogo: Castelão e Presidente Vargas.
Vi o nosso tetra-campeonato, vi títulos do lado de lá. Vi brigas várias, torcedores no chão, espancados, socos, tiros de borracha. Vi o espetáculo das torcidas, os cânticos, os gritos, as comemorações. Vi craques surgirem, vi a eleição de bodes expiatórios, jogadores que seriam marcados até o fim com a pecha de ruins. Vi ídolos, carrascos, baixinhos bons de bola, vi paredões, santos, guerreiros, matadores, pit bulls... Vi tanta coisa e ainda há tanto pra ver.

E até hoje é assim. Há tempos não sentia um frio na barriga tão grande na espera de um clássico. Ê 21 horas que não chegavam nunca. Tempo arrastado, as bandeiras e musicas tilintando ao longe e o relógio empacado. Todos ansiosos, esperando um resultado que sacramentasse o caminho de cada um: tricolores querendo escapar da degola, nós alvinegros, tentando ir avante e para o alto...
Só um pesar nisso tudo: em clássico não ando mais. Não tenho mais a disposição dos tempos de menina, já não dou conta de correr de pedradas e tiro de borracha. Já não acho aquilo aventura e a propósito, não há belo gol ou craque que valha a pena tamanho risco.
E sim, me dói tal constatação, antes de todo clássico-rei vem-me a mente os áureos tempos em que ia ao Castelão torcer pelo Vozão. De pé no meio da multidão, estádio tremendo, coração na mão. Vez por outra eu fecho os olhos e ouço os gritos. É gol.

E a propósito: no de ontem vencemos. Ceará 1x 0 Fortaleza . Ceará avante e para o alto...

2 comentários:

Bruno de matos disse...

Uma pena que pessoas apaixonadas por futebol,como você,temam ir aos estádios por medo da violência.essa violência toda é algo totalmente irracional,nao tem um por que,mas infelizmente é a realidade nos estádios.As pessoas levam a paixão pelo esporte a um nível doentio(irônico,já que se imagina esporte como uma coisa sempre saudável)
Que bom que algumas ainda tem um pouco de bom-senso
Se as pessoas podem aprender a lidar com outras tantas diferenças,pq nao aprendem a lidar com mais essa?Afinal ,se não tem outro time contra quem jogar?

Rafael Ayala disse...

Sábio Neném Prancha, futebol é uma caixinha de surpresas e isso me agrada demais! Mesmo o meu time perdendo heehhehehe
E como diz o nosso sábio Jardel, clássico é clássico e vice-versa heheeheheheh.

É uma pena, esses, os violentos, não gostam de futebol, não vão ao estádio por causa dele...
E o futebol que é pra ser uma alegria para todos, vira para alguns.
Isso se falando em ir ao estádio, que é uma emoção À parte.
O jeito é apelar pro radinho ou pra televisão.
Eu ainda sonho com um dia de estádiao mais tranquilos, com músicas, danças, famílias e um bom futebol...
Espero que esse dia chege.
Bjooos!
=]