sábado, 5 de julho de 2008

O atacante

Desde cedo sonhara com aquela vida. Sentado na cama podia ver a velha bola que ganhara quando moleque, a coleção de miniatura de jogadores, as medalhas e fotos que lembravam a brilhante carreira como jogador profissional.

Dedicara-se ao futebol como nada mais em sua vida. Não era apenas a sua profissão. Não era apenas a sua alegria. Era a sua vida. Era entrar em campo e esquecia de todo o resto do mundo. A ultima coisa do mundo lá fora que ele escutava era o barulho da torcida. Sentia o arrepio, a emoção, a responsabilidade correndo nas veias. Sentia-se importante, o homem mais importante do mundo, já que durante noventa minutos o mundo dele eram aquelas quatro linhas.

Quando a bola rolava parecia entrar em transe. Parecia que só enxergava o gol. Era a partida terminar e ele não se lembrava mais de nada. Dos gritos, das trombadas, da vibração, da comemoração. Só lembrava dos gols, da bola entrando e morrendo na rede. Não lembrava, nem via nada mais. A sensação que tinha era de ver um tanto de vultos correndo pra lá e pra cá. A única imagem nítida a sua frente era a bola. Talvez por isso tivesse tanto carinho por ela.

Ganhara assim os mais importantes campeonatos e prêmios. Tinha uma fortuna invejável, uma vida confortável e a fama o agradava. Não mais que o futebol, mas gostava de se sentir reconhecido.

Tudo andava da forma como ele sempre quisera. Até que um zagueirão de um timeco de Deus sabe onde achou que suas pernas eram autorama. Carrinho violento. Lesão no joelho, afastamento do time. Desde então tudo declinara.

Toda vez que pensava ter se recuperado, lesionava-se de novo e de novo. Foram dois anos assim. Aos 32, já velho pro futebol, e sem engrenar uma seqüência de bons jogos, acabou esquecido. Nenhum time importante o queria e ele se recusava a jogar em times pequenos. Fora rejeitado até pela roda de amigos que o considerava como líder. Apenas diziam: “não, amanhã não vai ter nada não.” Depois sempre descobria que a farra havia sido das grandes. Ele é que não podia ir mais. Não preenchia mais os requisitos necessários pra estar naquela roda.

A vida agora era outra. Vivia do dinheiro acumulado durante a carreira. Era suficiente, mas pra ele de nada servia. A vida sem futebol era sem cor, sem gosto, sem cheiro. Precisava sentir o peito bater forte antes de entrar em campo. Era preciso ouvir outra vez o colorido e o grito das organizadas. Queria outra vez os dribles, os holofotes e os repórteres em torno dele. Necessitava ser campeão outra vez.

Recorrera a amigos, dirigentes, a repórteres. As portas todas estavam trancadas pra ele. Até o São Lourenço virara as costas pro seu grande ex-ídolo. Tantos gols e títulos ele dera ao clube. Ainda lembra do presidente que ele tanto admirara dizendo:

- Não se preocupe, a gente vai dar um jeito nisso. Você vai voltar a ser o que era.

Um ano havia se passado e o presidente não mexera um único dedo. E agora era aquilo. Festa de confraternização. Na casa do diretor. Ele fora convidado e foi.
Estavam todos lá. Todos aqueles que haviam prometido ajudar. Agora eram aqueles risinhos e tapinhas nas costas. Comentavam:

- Esse destruía todo mundo. Atacante igual não vai haver. O grande nome do São Lourenço.

Aquilo nem lhe enojava ou nada. Ouvia só um zumbido ao longe. Sentia indiferença. Como se todos aqueles fossem desconhecidos. Só pensavam nos martines, nos carros importados, nas farras, nos contratos exorbitantes. Ele mesmo fora assim, até o zagueirão achar que as suas pernas eram parquinho de diversão.

Ele apenas sacou a pistola e disparou a esmo. Nem mirava e nem escolhia em quem ia atirar. Como em dia de jogo, não enxergava nada, via penas uns vultos se movimentando, ouvia apenas os gritos desesperados. E concentrava-se não mais na bola, mas no gatilho. Naquela sala só o apertar do gatilho interessava. Só parava pra trocar o pente da arma, assim como vez por outra era necessário trocar de chuteira pra calibrar o chute. Matou todos, devia haver umas cinqüenta pessoas. Só parou de atirar quando os gritos cessaram. Olhou pro chão e finalmente viu sangue e corpos inertes. Era como se a partida tivesse terminado, a sensação era a mesma. Ele
estava exausto, mas aliviado.

Quando saia da casa do presidente pensou que o melhor era ir pra uma cidadezinha do interior perdida no meio do nada. Longe dali montaria uma escolinha de futebol. Ia ensinar aos moleques que futebol não era só fazer gol, mas também ter cuidado com as raposas matreiras que sempre surgem pelo caminho. É é claro, com os zagueirões também.

8 comentários:

Jack Balls disse...

É.. Futebol é isso ae. Perfeito o texto mostra realmente a paixão sentida por esse esporte magnifico e também todos os problemas enfrentados durante o declínio de um grande jogador.
Parabéns.

Livia Queiroz disse...

Put's...ki forte hein??
mais uma vez me surpreendeu, achei q o final seria outro!
rsrs

adoreiiiii

As coisas na vida são sempre assim, enqto temos algo pra oferecer as pessoas nos rodeiam, nos enchem de "mimos". MAs pra descobrir kem realmente s importa conosco só mesmo diante de uma dificuldade.
E aí são poucos os que realmente vao icar do nosso lado, muitas vezes ninguém fica...

Tomara q o Ronaldinho n leia esse texto, rsrs
ô periiiiiiiiiiiiiiiiiigo!

Livia Queiroz disse...

oiiiiiiiiiiiiiii
voltei aki p dizer q recebi um Meme e indikei vc pra responder tb..
passa lá no blog...

Thais disse...

bom texto
parabens
abraços

Rafael Ayala disse...

Salve salve Lorena!
Sem comentários pro texto.
Bom demais.
E ele me lembrou o Futebol ao Sol e a Sombra do Eduardo Galeano, que escreve de uma forma tão prazerosa que dá vontade de não parar de ler. Dá vontade de ler sempre mais e mais.
E não paremos.
Sempre mais e melhor.
Bjocas
=]

Pedro BV disse...

Isto que é atacante matador!

O texto é muito bom, me fez lembrar de quando desisti da minha carreira de jogador, para virar poeta...kkkkk.

Parabéns

Livia Queiroz disse...

tá lá akele post viu?

bjaummm

Hugo Henrique disse...

AOskoaksoaksokOSkoAKsokoSa

OwWwwW PerfeitãOoo O seu textO!
LITERALMENTE!

o mesmo que ia lendo ia pensando nos meus textos, parecia que eu estava escrevendO. Oo
Seu jeito de escrever é muitOooOo Parecido com o meu!! Muito meSmO!
Só que o final foi mais.. INUSITADO, INESPERADO!

LEGAL!
ADOREI MESMO!

Depois passa no meu blog pra que eu tenha onde achar o seu blog pra voltar mais vezes? ^^

BrigadãOooOoOO!
E Ow, Como dissE e não custa repetir: Seu texto taH PERFEITÃO!!

PARAbÉNS!!