domingo, 14 de junho de 2009

Regininha Soares: venturas e amarguras de uma jornalista faz-tudo: [ O microfone]





Há muitas coisas que me irritam no jornalismo. A falta de vida social provocada pelos famosos plantões noite adentro e fins de semana a fora. Os trabalhos vários que a gente tem que acumular. O dinheiro pouco a que a gente tem que se acostumar. Estas são grandes irritações, daquelas que você não pode fazer nada pra mudar, a menos que resolva mudar de profissão ou ir pro meio do mato ser hippie.

Também há as pequenas irritações, como falta de computador nas redações, o que nos leva a ficar pulando de galho em galho. A falta de veículos pra gente se locomover da redação para o lugar das mil e uma pautas que a gente tem de cobrir. Além destas do dia-a-dia tinha uma que sempre me irritava na época em que trabalhava na Tv. Era raro de acontecer, até porque tem que ter muita falta de senso pra se fazer um negocio desses, mas acredite, acontece.

Tá lá você no meio da rua, fazendo uma externa *, preparando-se pra ir ao ar. Você chama um fulano pra responder umas perguntas que entrarão no corpo da matéria. Coloca o microfone na frente do sujeito e ele pega no bicho. Sim, ele toma-o da sua mão na maior cara dura. E deixa você com cara de trouxa. É, acontece, você que treinou na faculdade, por horas a fio na aula te Tele pra segurar aquele troço na mão, com naturalidade, mas com firmeza. Uma, duas, três, quatro, milhões de passagens** você teve que fazer pra aprender a segurar a porra do microfone. Aí vem um filho da puta e mete a mão no teu microfone, como se fosse a casa da mãe Joana.

Você tenta tomar dele suavemente, mas ele continua lá, segurando impávido colosso o microfone. Como se isto fizesse dele alguém mais importante, como se o microfone fosse algo que tirasse ele da mesmice do dia-a-dia ou sei lá porque diabos este infeliz não solta o maldito microfone.

- Senhor, o senhor não pode segurar o microfone.

- Ah não?

- Não, isto tem que ficar com a demente aqui que estudou quatro anos na faculdade pra ser jornalista. Me dê o microfone por favor.

- Calma moça , não precisa ser tão grossa. Eu só tava ajudando. Parei pra responder.
Quantos passam e não param pra responder? Nem olham na sua cara.

Olha só, lição de moral no meio da rua, o calor de rachar, o cabelo esvoaçando e já já a hora de entrar no ar. Vontade de mandar o cara a merda. Mas nem tempo pra isso há. Tenho que ir atrás de um cristão que responda o diacho da matéria. Enquanto isso o infeliz tarado por microfone continua na minha frente. Passando a mão no cabelo, se arrumando, mas olha só.

- Ow moça, num tem aí uma maquiagenzinha pra passar nos rosto, minha pele é tão oleosa, não quero aparecer assim na tv.

E o pobre infeliz ainda não entendeu que não vai mais aparecer na tv. Santo Deus, eu mereço.

*Externa: reportagem feita fora do estúdio.
*Passagem: gravação feita pelo repórter no local do acontecimento, com informações, para ser usada no meio da matéria

8 comentários:

Simone disse...

ehauehuaeahehauhe muito bom! Mídia pira qualquer um!

Mau Santos disse...

Eu a chamaria de mal agradecida.... rs...

Ana Célia disse...

é...ossos do ofício.Tenho uma amiga que trabalha nessa área, e ela ja me contou que ficou 24h trabalhando!
É mole?
Tem que gostar muito da profissão!

Marton Olympio disse...

Mas a dúvida é: se tantas coisas te irritam, quais te agradam?
:0

http://martonolympio.blogspot.com/

Bruno de matos disse...

Meu Deus!Essa Regininha mijou na cruz?É ,porque atirar pedra não é tão hediondo pra merecer isso tudo...rsrs.Coitadinha,mas é como dizem "ossos do oficio"
Um grande abraço menina e espero ver mais aventuras Regininha

Kaos Kotidiano disse...

esse é o preço que se paga por gostar de algo....hahahhaha
nem tudo são flores, ou até é, mais os espinhos acompanham pra lembrar que nada é tão facil...

hehehe

muito bom!

Amanda Albuquerque disse...

hahahahahahahaha
que ótimo!

é vc que faz esses textos? poxa, são muito bons. parabéns.

Livia Queiroz disse...

kkkkkkkkkk

Coitada da Regininha...
Acredite Loren que l9i isso imaginando vc no lugar dela.
Ri mto!!!
Ossos do ofício neah querida?

Qualquer coisa se muda pra cá, ja disse, ta precisando de uma aldeia hippie

kkkkkkkk