Deve ser culpa dos sonetos, do Álvares de Azevedo, do Jobim e do Quintana. Também tem culpa a lua cheia, a praia à tarde e a tua voz que me incendeia.
Não, nem sempre fui metida a poetisa. Nem sempre gostei de bossa nova, nem sempre achei que gostaria de viver um amor a moda antiga.
Já fui prática e objetiva, fria e calculista, discreta e comedida. Mas tudo nessa vida muda, tudo é uma constante revolução. E eu que me considerava imune, hoje sofro: achaques do coração.
E dia desses estava euconversando, conversinha virtual, um grande amigo parou e disse: “Lorena, vê se cai na real. A sensibilidade perdeu a guerra, o romantismo já era.”
As palavras tilintaram na minha cabeça. Mas que diabos. A sensibilidade, justo ela que eu tanto demorei pra aprender. Tal qual um trabalho de ourives, a procura do pequeno detalhe, do perfeito entalhe. Até chegar a obra-prima. Até chegar a arte divina, suprema, de saber amar. Conquistando sensivelmente, suavemente, envolvendo com uma bela melodia e arrematando com uma bela poesia. Suspiros e sussurros poéticos ao pé do ouvido. Olho no olho, mão na mão antes de dar aquele amasso. Envolver terno e macio com aquele doce abraço.
- Isso não serve mais meu caro? - perguntei eu já aflita.
-Não, não, cara Loren, não se iluda. Amor agora é prática, sem essa de teoria. Agora a tática é muita ação e pouco papo, pouco beijo e muito amasso. Nada de se amarrar muito pra não perder o compasso.
-Mas assim não dá. Assim não quero. Só se eu me apaixonar.
- Se apaixone. Mas digo-lhe que é um erro. Vais ser tripudiada por um ser inferior a você. Ele até achará bonitos teus versos. Mas enjoará deles em dois tempos. Seja prática e objetiva, ou os novos tempos te engolem.
- Será?
-Você duvida? Aprenderá da pior forma. Apanhando. É bom porque aprenderá a lição. Ou não, se tiver mesmo o dom para sofrer.
- Recuso-me a acreditar meu caro
-Eu também já duvidei. Sonhei e a cara quebrei. Mas vá. Isso é fruto da sua juventude e rebeldia. Um dia aprenderá. E não esqueça cara Loren, a sensibilidade, essa que nós tanto nos gabamos de ter conquistado, perdeu a guerra. Só nos resta seguir tal qual a massa medíocre que trata o amor como mercadoria.
-Será?
- Ainda duvida. Não lembra do que houve comigo?
- Também não vamos generalizar por um caso só, né meu caro?
- Ah sim, e o que você me diz do seu caso, do companheiro Manuel, da dona Patty, do Alfredo, da Joana...?
- Tá, tá bom, chega. Tá quase me convencendo...
- Quase? Mas tu é dura na queda.
- Mas meu caro, é impossivel alguem resistir a um cantinho um violão, este amor uma canção... É impossivel resistir a um vinho numa noite fria, a um sarau de poesia, a andar de mãos dadas, a ver a noite enluarada num bela madrugada. É impossivel resistir a um balanço na rede, a matar com a saliva a sede. É impossível...
- Isso tudo é mesmo muito bonito. No começo. Seja assim por mais de dois meses e vão te chamar de brega, grudenta, sufocante...
- Não creio
- Tu teima mais que mula. Hoje é cobrado maturidade, impessoalidade, equilibrio, liberdade, distancia mais que tesão e paixão. As pessoas tem medo de se envolver demais, de perderem a liberdade e individualidade.
- Não seja tão apocaliptico. As coisas não estão assim tão perdidas. O amor nunca sairá de moda.
- Clichê mais brega Loren, já disseste coisas mais inteligentes.
- Esquece que aprendi com você que o grande Dylan disse certa vez que : "Não dá pra amar e ser esperto ao mesmo tempo" Por isso mesmo teimo, empaco que nem mula, assumo minha burrice e falta de esperteza. A sensibilidade pode ter perdido a guerra, mas não deixo de acreditar nela.