segunda-feira, 2 de junho de 2008

A sensibilidade perdeu a guerra?

Deve ser culpa dos sonetos, do Álvares de Azevedo, do Jobim e do Quintana. Também tem culpa a lua cheia, a praia à tarde e a tua voz que me incendeia.

Não, nem sempre fui metida a poetisa. Nem sempre gostei de bossa nova, nem sempre achei que gostaria de viver um amor a moda antiga.

Já fui prática e objetiva, fria e calculista, discreta e comedida. Mas tudo nessa vida muda, tudo é uma constante revolução. E eu que me considerava imune, hoje sofro: achaques do coração.

E dia desses estava euconversando, conversinha virtual, um grande amigo parou e disse: “Lorena, vê se cai na real. A sensibilidade perdeu a guerra, o romantismo já era.”

As palavras tilintaram na minha cabeça. Mas que diabos. A sensibilidade, justo ela que eu tanto demorei pra aprender. Tal qual um trabalho de ourives, a procura do pequeno detalhe, do perfeito entalhe. Até chegar a obra-prima. Até chegar a arte divina, suprema, de saber amar. Conquistando sensivelmente, suavemente, envolvendo com uma bela melodia e arrematando com uma bela poesia. Suspiros e sussurros poéticos ao pé do ouvido. Olho no olho, mão na mão antes de dar aquele amasso. Envolver terno e macio com aquele doce abraço.

- Isso não serve mais meu caro? - perguntei eu já aflita.

-Não, não, cara Loren, não se iluda. Amor agora é prática, sem essa de teoria. Agora a tática é muita ação e pouco papo, pouco beijo e muito amasso. Nada de se amarrar muito pra não perder o compasso.

-Mas assim não dá. Assim não quero. Só se eu me apaixonar.

- Se apaixone. Mas digo-lhe que é um erro. Vais ser tripudiada por um ser inferior a você. Ele até achará bonitos teus versos. Mas enjoará deles em dois tempos. Seja prática e objetiva, ou os novos tempos te engolem.

- Será?
-Você duvida? Aprenderá da pior forma. Apanhando. É bom porque aprenderá a lição. Ou não, se tiver mesmo o dom para sofrer.

- Recuso-me a acreditar meu caro

-Eu também já duvidei. Sonhei e a cara quebrei. Mas vá. Isso é fruto da sua juventude e rebeldia. Um dia aprenderá. E não esqueça cara Loren, a sensibilidade, essa que nós tanto nos gabamos de ter conquistado, perdeu a guerra. Só nos resta seguir tal qual a massa medíocre que trata o amor como mercadoria.

-Será?

- Ainda duvida. Não lembra do que houve comigo?

- Também não vamos generalizar por um caso só, né meu caro?

- Ah sim, e o que você me diz do seu caso, do companheiro Manuel, da dona Patty, do Alfredo, da Joana...?

- Tá, tá bom, chega. Tá quase me convencendo...

- Quase? Mas tu é dura na queda.

- Mas meu caro, é impossivel alguem resistir a um cantinho um violão, este amor uma canção... É impossivel resistir a um vinho numa noite fria, a um sarau de poesia, a andar de mãos dadas, a ver a noite enluarada num bela madrugada. É impossivel resistir a um balanço na rede, a matar com a saliva a sede. É impossível...

- Isso tudo é mesmo muito bonito. No começo. Seja assim por mais de dois meses e vão te chamar de brega, grudenta, sufocante...

- Não creio

- Tu teima mais que mula. Hoje é cobrado maturidade, impessoalidade, equilibrio, liberdade, distancia mais que tesão e paixão. As pessoas tem medo de se envolver demais, de perderem a liberdade e individualidade.

- Não seja tão apocaliptico. As coisas não estão assim tão perdidas. O amor nunca sairá de moda.

- Clichê mais brega Loren, já disseste coisas mais inteligentes.

- Esquece que aprendi com você que o grande Dylan disse certa vez que : "Não dá pra amar e ser esperto ao mesmo tempo" Por isso mesmo teimo, empaco que nem mula, assumo minha burrice e falta de esperteza. A sensibilidade pode ter perdido a guerra, mas não deixo de acreditar nela.

7 comentários:

Livia Queiroz disse...

Não pode ser...Não acrediiiiiito nisso!
Li esse texto e foi como tomar um banho de água gelada.Alguém realmente pensa isso? Seu amigo crê nisso?
É bem verdade que tenho sido fria ultimamente c algumas pessoas...Tenho fingido que n acredito mais no amor, mas isso é só da boca pra fora. É só pra fingir que sou forte e não deixar que estas me machuquem novamente...
Ás vezes quando faço um balanço de minha vida "amorosa" chego a achar que as pessoas hoje só se satisfazem com a carne...elas perderam o encanto.
Mas eu não quero isso pra minha vida.Nunca...
Serei como vc Lorena.
E que nos chamem de mula, de burra sei la o quê. No fim riremos satisfeitas por ter conhecido as coisas puras da vida!
"O amor eh doce. E é impossível viver sem esse adocicado nos lábios"

bjaaaaaaaaaaaummmmmmmmm

PS.: Adoreeeeeeeeei a musik!!!
Umas das minhas favoritas
e brigada pelo comentário!

Jamile Gonçalves disse...

"Mas meu caro, é impossivel alguem resistir a um cantinho um violão, este amor uma canção...
É impossivel resistir a um vinho numa noite fria,
a um sarau de poesia, a andar de mãos dadas, a ver a noite enluarada num bela madrugada.
É impossivel resistir a um balanço na rede, a matar com a saliva a sede.
É impossível... "

Gostaria de sua autorização pra usar esse trecho no meu perfil do orkut... Usando o link do seu blog pra identificar, é claro!

Não desista... às vezes tenho a certeza de que um dia, quando eu menos esperar, encontrarei alguém com idéias compatíveis às minhas... E se não achar também... Bom, a cada dia tenho mais certeza de que existem muitas pessoas que pensam como eu!

;D

Luii disse...

ótimo! :D

Rafael Ayala disse...

Grande Lorena!
Te admiro e à tua escrita cada vez mais.
Começo a ler e me aparece logo um sorriso no rosto, uma vontade de rir, cantar...
Na leitura, pareço perder o peso, o corpo vai embora...
Eita...
E nessa guerra, estamos do mesmo lado.
Não podemos desistir jamais.
E concordo demais:
"Por isso mesmo teimo, empaco que nem mula, assumo minha burrice e falta de esperteza. A sensibilidade pode ter perdido a guerra, mas não deixo de acreditar nela".
Muito bom, bom demais.
Bjoos
=]

Jamile Gonçalves disse...

Ah, obrigada pela concessão, Lorena!
Beijos
;)

Sr.F disse...

E nunca deixe de acreditar na sensibilidade. O que as outras pessoas vão dizer não importa, você não precisa ser como todo mundo. Se você acredita na sensibilidade todo mundo é que devia ser como você. Tenho pena de seu amigo virtual que prefere ver a vida de modo tão frio. A sensibilidade nunca perderá a guerra, pois sequer precisa entrar em uma. Guerra é para estupidos.Abraços.

Gustavo Ganso disse...

Quem é que decretou que a sensibilidade perdeu a guerra? Enquanto houver um apaixonado(a) a recitar Vinícius para seu par, a sensibilidade estará lá, arfando, mas de pé, triunfante. Não espere a sensibilidade retomar seu espaço de direito, faça a revolução dos sentimentos você mesma! Não devemos desistir, nem perder as esperanças na huanidade, logo perceberão a arapuca em que estão se metendo com essa de impessoalidade.

Gostei do texto,viu? Uma pena o seu amigo ter se conformado com o que viveu...

até
Gustavo Ganso