sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mais um dedinho de prosa...

A fraqueza de Jonas

Fraco. Se houve um adjetivo que ele ouviu mais que todos outros na vida, esse adjetivo foi fraco.

Ainda lembra-se bem da primeira vez que a palavra ecoou com força máxima em seus ouvidos. Devia ter uns oito anos. Era hora do recreio e ele desesperadamente corria em uma daquelas brincadeiras de infância em que se corre pelos objetivos mais tolos possíveis. Acabou esbarrando em um grandalhão. Daqueles desagradáveis que existem em qualquer escola do mundo. Do tipo que assombra e mete medo nos menores.

Estava feita a confusão. Situações assim se resolviam na porrada. Sem essa de diálogo, desculpas ou conversa mole. Os dois tinham que cair na porrada até que um caísse no chão e não pudesse mais se levantar. Era a regra.

Jonas preferiu correr e se esconder atrás da professora mais próxima. Foi o suficiente. Todo o colégio parecia gritar em uníssono, impiedosamente:

- Fraco, fracote. Fraco, fracote.

Ele tinha escapado da surra, mas sabia que seria eternamente conhecido por ter fugido. Por ter quebrado a regra. Seria eternamente conhecido por fraco.
De tanto ouvir o adjetivo, Jonas acabou aceitando a condição. Considerava-se mesmo um fraco, sem energia, incapaz de uma única atitude explosiva, incapaz de “agir como homem”.

Nada mais lhe doía tanto do que ser chamado de fraco pelo próprio pai. Pai que ele admirava em silêncio, mas com fervor. Seu pai era um homem íntegro, trabalhador e enérgico. E Jonas sempre fora chorão. Sempre tivera medo de sangue, sempre detestara filme violento. Preferia ler um livro a participar de uma imperdível queda-de-braço ou qualquer luta que fosse algo tão comum entre os garotos de sua idade.

Isso acabava com o pai. Filho único, Jonas era tudo que seu velho pai não imaginara que seu filho fosse ser. Era um desejo frustrado, um sonho adiado até a próxima encarnação. Para ele, seu filho era, por assim dizer, um maricas.

- Fraco. Larga mão disso. Homem não chora moleque.

Aos vinte anos ele teve a certeza de que ninguém mais o respeitaria na vida. Era motivo de gozação de todos. Incapaz de se impor, de levantar a voz.
Amava Rita com todas as suas poucas forças. Pra ela ele fazia versos, dedilhava canções no velho violão. Era a única pessoa que fazia ele se sentir forte. Sensação que ele nunca experimentara antes na vida. Sentia-se altivo, poderoso, importante e vivo.

Noivara com ela e achava que finalmente encontrara um rumo na vida. Até que a cidade inteira descobriu que Rita traia Jonas com seu melhor amigo. Esperaram que houvesse briga, tiros, sangue. Era a regra.

Jonas permitiu-se apenas jogar fora a aliança e trancar-se por dias no quarto. Não saia para nada. Nem para comer, nem para tomar banho. Nem para respirar um novo ar.
Quando saiu de casa todos o apontavam, cochichavam, faziam cara de reprovação. O pior era o pai, o velho nem se dignava a olhar para o filho. Jonas era como um estranho para ele. E ele se sentia fraco como nunca.

Aos cinqüenta anos não podia ser diferente. Tivera tantas mulheres e todas terminavam por traí-lo. Sempre. Tantos sonhos, amores e lares desfeitos. E ele sem nunca gritar, explodir ou ferir alguém. Sempre guardava o desencanto debaixo do braço e seguia em frente. Filhos nunca tivera. Era estéril, apenas mais uma prova da tão comprovada fraqueza.

Aos cinqüenta, ele era apenas um homem sem casa, sem emprego, sem amor. Fraco como nunca e como sempre. Fraqueza acentuada pela idade, pelos cabelos brancos, pela impotência que chegava impiedosa.

Lourdes fora o mais recente atestado de que ele não servia pra coisa alguma. Apaixonado por ela. Pela boca nova, pela língua morna e úmida, pela carne tenra e rija, apaixonado pela meninice dos seus dezoito anos. Jonas novamente carregava um fio de esperança. Esperança de poder repousar a cabeça no seu colo todas as noites.
Sempre que ficava a sós com Lourdinha era uma suadeira danada. Ele só podia dar beijo, pegar na mão. Namoro respeitoso, moça de família. Feita pra casar. E assim ele o pretendia. Era só arrumar emprego e marcava-se a data.

Até que ele vira ela no maior agarra-agarra com Arnaldo. Desses agarrões onde não se sabe onde começa um e termina o outro.

De novo sentiu-se tomado de uma moleza e falta de energia. Pensou em matar-se, já que achou que ninguém merecia morrer por trair um sujeito que não sabe se impor. Faltou-lhe coragem pro suicídio. Era fraco demais.

Então apenas foi em direção a um bar bem longe daquela esquina. Entornou cachaça até não mais poder. Saiu aos tombos. Então pegou a sua fraqueza ajeitou-a no chão da sarjeta, como se ela fosse seu travesseiro. Desses que incomodam de tão velho. Deitou-se e dormiu. Pensando que pelo menos no sonho ele pudesse ser forte. Uma vez que fosse.

9 comentários:

Livia Queiroz disse...

Bem o q dizer??
Só q vc escreve tão bem que acabei tomada de compaixão por Jonas...
Divinoooooooooooo
amei amei amei...

bjaum!!

Anônimo disse...

mUITO FADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA ADOREI

Milla disse...

Quase que chorei lendo isso =')
Estou esperando o seu livro a ser lançado! ;P

Bjs!

Mickey disse...

puts gostei da prosa......muito boa,.,,,


http://www.sonacachaca.com

Thamires disse...

gostei muito!

:D

Rafael Ayala disse...

Salve Lorena!
Tive pena do pobre Jonas.
Fraqueza bate em todos algumas vezes.
Negócio é buscar forças e superar os obstáculos.
Sempre um prazer ler teus escritos.
lhe adoro
bjoos
=]

Celso Tito dos Santos Godoy disse...

já me sinto + leve

GiovannaMoser disse...

Estou esperando o seu livro a ser lançado! [2]

muito fodástico
o garoto que já não era mais garoto
não vai ter um final feliz? :S
linda demais a hitória !

www.sorrisosdeplasticos.blogspot.com/

Cássia disse...

Muito bom...
Bjos!

http://porta-joias.blogspot.com/