terça-feira, 12 de maio de 2009

E eu a perdi mais um pouco...



Estava eu então com 15 anos, ela com 14. Estávamos tão intimamente ligados, como nunca estivemos. Íamos a toda parte juntos, à escola, ao cinema, as festinhas. Vivíamos uma adolescência gostosa e sem grilos. Sem rebeldia, sem batidas de porta, sem reclamações.

Acontecia, todas as tardes, a rodinha de violão em minha casa, o que deixava mamãe num misto de lamento, por ter que alimentar tantos jovens famintos, e contentamento, por me ver progredir no violão. Mamãe sempre foi minha fã maior, até hoje.

Eram bons tempos, eu sou um nostálgico inveterado, não consigo lembrar daquela época sem um meio-sorriso no rosto e sem um aperto inteiro no peito.

Foi quando estive mais perto da minha Catarina. Ela que sempre fora bela, buscou na adolescência um jeito que me punha maluco. Desenhou-se numa magreza de modelo, uns cabelos compridos cor de mel e um sorriso meio desbocado contrariando a antiga timidez infantil.

Por falar nisso, Catarina me pôs no bolso nesta época, foi um período curto é verdade, nem sei se pelas companhias que a gente freqüentava, mas lembro-me que vi boquiaberto Catarina experimentar um cigarro com desenvoltura de quem nasceu fazendo aquilo.

Foram mais ou menos três meses de rodinha de violão, alguns acampamentos, festas madrugadas adentro. Agora bem me recordo, eram férias de fim de ano.





Eu estava feliz como nunca, pronto pra pedir Catarina em namoro. Tinha ensaiado uns acordes, passava noites em claro compondo. Estava decidido que ia ser no acampamento seguinte. Cachoeira, noite de luar, um violão e uma canção. Tudo a meu favor eu pensava.

Chegou o acampamento, dias felizes, noites a beira da fogueira, alguns pares de casais formados. Eu crio coragem, chamo Catarina num canto e digo:

- Tenho uma coisa pra te dizer...
- Eu também Tinho.
E eu até hoje me arrependo de não ter falado primeiro.
- Papai foi transferido. A gente vai embora pra São Paulo.

E mai s uma vez eu a perdi mais um pouco.

15 comentários:

Simone disse...

Lorena, tu escreves muito bem... Tuas histórias leves, simples, delicadas, mas sempre com um final duro falam da realidade da vida sutilmente. É demais! Parabéns

Beijos

Kaos Kotidiano disse...

maldito destino, ingrato...
Ou você aprende a conviver com ele, ou está fadado(a) ao fracasso...
Muito bom ler teus escritos...

até!

Livia Queiroz disse...

Aaaaaaaai esse eu ja tinha lido!
tive a honra de ler antes de tooooodo mundo!
UhuuuL rsrs

O Destino às vezes pode ser cruel, é por isso que eu digo: Beijo Loooooogo! rsrss

Brincadeira...
Mas tem coisas que não podem simplesmente esperar.

Adorei D. Moça!
Bjoks

Jack Balls disse...

Sensacional Lorena! Fazia tempo que não vinha aqui mas vejo que o nível continua altíssimo!
Conforme Sales disse: "maldito destino, ingrato...
Ou você aprende a conviver com ele, ou está fadado(a) ao fracasso..."

Está maravilhoso o blog!
Um beijo!

http://www.knockuntilcomein.blogspot.com/

Adm disse...

Arrependimento é uma sentimento terrivel!!


otimo texto

Mau Santos disse...

Como você escreve bem! Vi seus outros posts, e a maioria me parece ter origem em alguma paixão... hehehe... Mesmo que seja paixão pela escrita! Parabéns!
E obrigada pela visita!

Mau

teste disse...

Guardar apenas as lembranças boas,da convivência, das risadas, dos momentos... Infelizmente, ter falado primeiro,poderia ter sido ainda mais trágico do que já foi o silencio reprimido...
.
http://bloggalemdoqueseve.blogspot.com/
.

Paloma Moreira disse...

Lindo texto, vc escreve belissimamente bem, parabéns!

Paloma Moreira disse...

com certeza! é uma honra ter seu link no meu blog, parceria fechada, rs.

Beto Uchôa disse...

Nossa que fit4 em, eh porisso que nao demoro para pedir quando vejo o amor no ar, mas qaundo tinha meus 14, 15 anos fui devagar assim, mas fazia parte da magica da epoca neh.
VC escreve muito bem parabens

Danilo disse...

Muito tocante e sensível. O principal papel da literatura e da arte em geral é emocionar e você conseguiu isso com esse texto.

Mau Santos disse...

E ai, Lorena, será que rola uma parceria? Meu blog é novo (relativamente, pois encerrei um pra começá-lo) e gostaria de trocar links. Que tal?

Rafael Ayala disse...

Tempo bom esse do começo da adolescência, tempo de aprender errando bastante.
Eu sou nostálgico inveterado também, não consigo evitar lembrar as coisas boas mas nao deixo de aproveitar, tentar, o agora.

E por vezes deixamos escapar oportunidades que jamais voltarão. Eu tô me sentindo o cara do texto ó, me identifiquei heeheheheh.

Mas nenhum de meus amores foi pra são paulo, ficaram sempre por aqui, e muitos tornaram-se boas amigas, graças!!

texto de primeira, pra variar né?
bjos e abraços!
=]

Diego Janjão disse...

Puta,que final triste...

mas vc naum a encontrou mais naum???

que triste cara,só de pensar q era só vc ter dito primeiro...

Vistem: JaNjÃo ComicS

Letícia Cardoso disse...

Que lindo texto.

Admiro a maneiro como você escreveu e desenrolou a história da sua perda.

Parabéns pela narrativa

beijos;