sábado, 24 de maio de 2008

Desenterrando os escritos de prosa

Iniciando a série: Desenterrando meus escritos de prosa. Pra não dizerem depois que eu só escrevo versos.
Eu tenho pelos meus textos de prosa um carinho quase maternal, daqueles carinhos tipo mãe coruja que só solta o filhote quando sabe que ele tem forças o suficiente pra andar com as proprias pernas. Afinal mãe nenhuma quer que seu filho leve tombo e seja "zoado" por aí.
Agora eu deixo um dos meus filhotes caminhar, nem sei se é a melhor hora, mas há tempos o bixim pede pra eu libertá-lo.


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João e eu

Um uísque. Com gelo claro. Uma noite fria de lua cheia. .Céu sem nuvens ou previsão de chuva. Beira de praia e o cheiro de maresia invadindo as narinas. Quem já viu um céu estrelado e uma lua cheia do interior sabe do que to falando. Cenário paralisante, absorvente, que faz qualquer insensível virar um sonhador, pelo menos por uma noite. Uma bossa nova no som. Som envolvente, harmônico, delicado.

E ele nem precisava passar, já que eu não esperava que aquela noite fosse perfeita. Na verdade nunca espero perfeição das coisas. Já o vira tantas vezes, mas nunca nossos olhos haviam se fixado um no outro. João agora fazia pose. Era obvio que queria chamar minha atenção. Tinha jeito de menino, é verdade, justo eu que sempre apreciara os mais velhos. Em João havia um quê de meninice que me agradava, um jeito que eu nunca antes havia apreciado, mas que agora me saltava aos olhos de forma insistente. O que mais me impressionava nele era a insistência com a qual me olhava, nem fazia questão de disfarçar. Se passasse por mim dez vezes em dez min, dez vezes me olharia. Ele ria pra mim, me encarava, me desconsertava, me seguia em todos os lugares, mas nunca me falava.

Naquela noite eu sentada na calçada e ele debaixo da árvore defronte a minha casa. Ele enfim tomara uma atitude e me chamara. Eu que sempre costumo ser reticente e pensar antes de agir, me levantei e fui num impulso, decidida, agi por instinto. Lua cheia, uísque. Tudo a favor do João. Ele nem precisou falar muito. O desejo existente ali era evidente. O meu e o dele. Olhávamos as estrelas e a lua como pretexto, como se elas nos dessem força pra prosseguir ou começar o que queríamos fazer. João conseguia ser mais tímido que eu. A iniciativa tinha que partir de mim senão ficaríamos ali a noite inteira olhando pro céu. Ainda bem que tinha o uísque. Bebida quente, danada, dá coragem até ao mais pusilânime dos seres.

Naquele instante eu podia ter falado de música, poesia, ter dito que a beleza dele inspiraria um tanto de versos meus, mas com uma lua daquelas e com um desejo exalante daqueles não havia nada o que dizer. Então eu simplesmente o beijei. Um beijo calmo, mas nem por isso menos intenso. Um beijo sem o desajeito comum dos primeiros encontros entre duas bocas. As nossas pareciam se conhecer há muito tempo, pareciam familiares, pareciam conhecer os movimentos exatos que agradavam a um e ao outro. As línguas quentes, úmidas e incessantes num trabalho tão harmonioso e delicado quanto os acordes da bossa nova que ecoavam na noite, ao longe.

7 comentários:

Anônimo disse...

Unf...Minha mãe com certeza é uma dessas...

* não se preocupa mamãe, eu sei andar sozinha*

asuasaushauh


=*

Livia Queiroz disse...

nussssssss
como vc escreve beeeeeeeeem!!!
uau

ja virei fã...posso add nos meus favoritos??

Livia Queiroz disse...

adicionadiiiiiiisima

Ah depois qndo puder da uma olhada no meu filho predileto
http://queiroz19.blogspot.com/2008/05/um-poeminha.html

bjoks

Anônimo disse...

belas palavras, poetiza!
Escreveste um lindo beijo para um lindo desfecho!

Nanda Belém disse...

Oi Lorena

seu texto está no meu blog... dá uma olhada lá!

beijão

Yuricka disse...

muitoo muiiittooo bom!
segunda vez q passo aki e tenho q dizer q seus textos sao excelentes! ^^

bjobjo

Raphael disse...

Me fez lembrar do meu bebezinho... minha florzinha linda que eu tanto adoro. Semana que vem vou visitá-la em Natal.